Sociedade dos excessos: como lidar melhor com comida, tecnologia e relacionamentos?

Melhore sua relação com a alimentação e a tecnologia ficando por dentro de tudo que foi debatido no segundo dia de programação paralela no 13º Encontro de Lideranças

Por Caroline Mauri - atualizado em 11/12/2018 as 15:43

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Texto de Carolina Wassoller
(Curso de Residência em Jornalismo)

Na manhã deste sábado (24), duas palestras fecharam com chave de ouro a programação paralela do 13º Encontro de Liderança, oferecida pela Casa do Saber Rio. As convidadas da vez foram a nutricionista Bia Rique e a psicanalista Sandra Flanzer. Elas palestraram sobre o cardápio do futuro e sobre como as tecnologias vem propiciando outras subjetividades, respectivamente.

“O CARDÁPIO DO FUTURO”

Do latim, significando carta de iguarias, cardápio foi o tema central da fala da nutricionista. Inicialmente ela propôs a seguinte reflexão: “Queria que vocês se imaginassem daqui a 60 anos. Que tipo de vida e planeta vocês querem?”.

Foto: Carolina WassollerEssa indagação é importante porque põe na roda as escolhas alimentares feitas e a própria relação dos seres humanos com a comida. “A comida tem um papel polivalente e ambíguo. É cura e melhora a qualidade de vida, mas, ao mesmo tempo, pode ser um vício ou uma obsessão. Por esse motivo, tudo passa por como olhamos a comida e nos relacionamos com ela”, ressaltou.

Segundo a especialista, de fato estamos na era da abundância, mas isso não faz as pessoas comerem bem e fazerem boas escolhas. “Vivemos um paradoxo hoje em dia: a obesidade cresce mais a cada dia ao passo que são vistos corpos magros que não são saudáveis. Antigamente se falava sobre transtornos alimentares. Hoje em dia temos uma sociedade adoecida”, afirmou.

Nessa perspectiva, se percebe a necessidade de pensar em cardápio. “O cardápio é parte importante de uma filosofia alimentar. São nossas escolhas diárias. E quando escolhemos, temos de negociar prazer e privação e encontrar o equilíbrio para uma boa alimentação”, explicou.

É importante salientar que dieta significa filosofia alimentar, e não uma lista de restrições. Sobre isso, a nutricionista foi enfática:

MEIO AMBIENTE

Bia destacou a importância da redução da proteína animal para um futuro mais equilibrado. “Devemos sempre manter o meio ambiente em vista ao fazermos nossas escolhas. Em 2050, seremos 9 bilhões de pessoas, a terra não tem a menor condição de manter essa alimentação. A primeira coisa que irá acabar é a proteína animal, devido ao alto custo ambiental que ela tem, e devemos reeducar nossa alimentação para essa realidade”, orientou.

O caminho para uma melhor relação entre sujeito e ambiente, segundo ela, está na conscientização árdua, redução da proteína animal, comer mais comidas locais, reduzir lixo e fazer hortas urbanas.

“TECNOLOGIAS E NOVAS SUBJETIVIDADES”

A sociedade da abundância (ou do excesso) também foi retratada na palestra com a psicanalista Sandra Flanzer, mas, nesse caso, sob uma nova ótica: a da tecnologia. “A tecnologia nos interpela logo pela manhã, quando nos vemos obrigados a responder as 300 mensagens que nos aguardam no aplicativo de conversas antes mesmo do café da manhã”, afirmou.

Essa rotina vertigiosa, segundo a psicanalista, deságua na ausência da falta, fato que torna as relações mais numerosas na mesma velocidade que as torna mais rasas. Porque é na falta que o outro se torna objeto de desejo. “Há uma pasteurização, uma banalização dos relacionamentos humanos. Era assim que a gente se constituía – na relação com o outro – e isso vem sendo perdido aos poucos”, refletiu.

Foto: Carolina WassollerA internet instaura um paradoxo: ao mesmo tempo que inclui pessoas, exclui a possibilidade de aprofundar relações. Esse ritmo frenético causa inclusive problemas de saúde: oculares e psicológicos (ansiedade, depressão, síndrome do pânico e transtornos de angústia) por causa da aflição de ter de estar em dia no mundo virtual.

Até porque, hoje em dia, é passível de confusão onde começa e se encerra o mundo real e o virtual, e isso acaba afetando até na criação das crianças. “A mãe filma o filho ao invés de olhá-lo. O primeiro olhar é sempre pra tela, o real vem depois. Isso acaba fazendo com que a criança queira olhar para a tela também”, refletiu.

Segundo a palestrante, os problemas não se encerram aí. “Os sujeitos são constituídos pelo olhar do outro, conforme Lacan defende. Uma criança que não é olhada e, sim, filmada, não é mais constituída pelo olhar dos pais e acaba buscando estar no digital para ser visto pela mãe”, assegurou.

FESTA SEM FRESTRA

Para a psicanalista, essas tecnologias fizeram com que as pessoas ficassem cada vez mais intolerantes aos intervalos. Antigamente, mandávamos correspondências e aguardávamos o retorno. Hoje em dia, o tempo de espera é quase insignificante. “A gente é cada vez mais intolerante aos intervalos e à falta que pode haver entre uma coisa e outra. As pessoas querem o gozo contínuo, uma festa sem frestra”, ressaltou.

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