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Uma mulher à frente do seu tempo – Histórias da vida de Dona Jacyr

Jacyr destinou mais de seis décadas de sua vida ao trabalho como cabeleireira, ramo que impulsiona fortemente a economia do país. Aos 86 anos, a pausa no trabalho foi apenas devido à pandemia, a jovem senhora ainda quer voltar com seu trabalho.

 “A vida é labuta. Levanta e luta”. A frase é de um autor desconhecido, mas cabe muito bem nas linhas da história de dona Jacyr Burini. Cabeleireira por profissão, e diria que também vocação, a estonteante senhora que hoje tem 86 anos dedicou mais de seis décadas da sua vida ao trabalho em salões de beleza, sempre trabalhando com cabelos. A mulher, que aprendeu o ofício de ondular os fios femininos ainda no início da adolescência, coleciona incríveis e inspiradoras histórias de vida.  

As estatísticas, que contam com o trabalho da dona Jacyr, mostram que uma grande parcela da economia do país vem do chamado mercado da beleza. De acordo com o último levantamento da Euromonitor Internacional, o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking mundial do setor de beleza e cuidados pessoais, com a quantidade de estabelecimentos da área. 

Dona Jacyr comemorou o seu aniversário de 48 anos com uma comemoração no salão de beleza. Crédito: Arquivo pessoal

Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), no Espírito Santo são mais de 20 mil empreendimentos nas atividades de cabeleireiro, manicure e pedicure, incluindo microempreendedorismo individual e micro e pequenas empresas. 

Os números são altos, mas, quando olhamos nos pormenores, vemos que não existem apenas dados numéricos, tabelas e gráficos. Existem histórias lindas e emocionantes, como a vida de Jacyr Burini Bortolotti. Mas o que ela há de tão especial? Bom, como já citado anteriormente, dedicar mais de 60 anos de vida a uma única labuta não é fácil, é muita luta. Dona Jacyr sabe bem que não foi fácil chegar até aqui. Mas, em meio a tantos percalços e correrias, há também as alegrias, por vezes lágrimas e boas lembranças. 

Natural de Governador Lindenberg (ES), dona Jacyr aprendeu a técnica de ondulação de cabelos com apenas 14 anos. De forma muito serena e sem pretensões, a professora das técnicas ondulantes foi uma vizinha da sua mãe. Aos 16 anos, Jacyr se casou com o jovem sapateiro Cezar Bortolotti e passou a residir em Lagoa Juparanã (ES).

Na nova cidade, a mulher começa a trabalhar também com a técnica de permanente em cabelos e, enquanto a década de 50 era marcada pela forma como a mulher era tratada apenas como a dona do lar, dona Jacyr quebra um grande paradigma da época: cozinha não era seu lugar. Jacyr nunca gostou de cozinhar, era amante, apenas, de comer e comer muito, como ela mesmo conta, entre suaves gargalhadas. Por isso, as refeições da casa eram por conta de seu marido.  

Em 30 de maio de 1956, o recém-casal se muda para Linhares, também no Espírito Santo. Alí começava a vida de dona Jacyr dentro dos salões de beleza. Motivada pelo seu ofício e gosto por cabelos, a mulher resolve abrir o seu salão de beleza na própria sala de casa. Até já havia uma outra pessoa que fazia permanente na cidade, mas Jacyr tinha o seu diferencial: a ondulação dos fios.

Com o tempo,  a jovem mulher começa a achar que precisava aprender mais e,  por isso, ela viaja de um canto ao outro para aprender técnicas de corte de cabelo, manicure e penteados. Os coques com mechas eram a sensação e todas as mulheres linharenses queriam sentar na cadeira do salão de dona Jacyr para serem as modelos da mais nova moda da época.

Dona Jacyr não teve filhos biológicos, mas a vida encarregou-se de dar inúmeros filhos do coração. A sua casa sempre vivia cheia e, por isso, ela trabalhava dobrado para conseguir manter o sustento, já que seu Cezar, agora trabalhando com um caminhão de pequenos fretes, não conseguia arcar com todas as contas da casa. 

Lembra da frase em que começo este texto? “A vida é labuta. Levanta e luta”. Pois bem, veja se ela não se encaixa perfeitamente na história de vida de uma mulher que era dona do seu próprio negócio em plena década de 60 e que, de quinta a sábado, levantava às 4h da madrugada, ia para o salão e só retornava à meia noite. Tão cheio era seu espaço que os dias de sábado já não eram mais de cortes ou permanentes, mas apenas de penteados.

Dona Jacyr esbanja sabedoria, alegria e vida. Sim, quem tem o privilégio de conversar com esta senhora se enche de vida. Vida porque suas histórias trazem a reflexão de que a existência não é fácil e não pode ser conquistada com a pura serenidade. 

A cabeleireira foi uma das primeiras mulheres a abrir um salão em Linhares (ES). Crédito: Arquivo pessoal

Há cerca de quatro meses dona Jacyr convive com os dias mais tristes e solitários. Seu Cezar já não está no mesmo plano que nós. A nossa pioneira dos trabalhos com cabelos em Linhares agora vive com as lindas lembranças guardadas em suas memórias. 

Sem dúvida alguma, dona Jacyr sempre foi uma mulher à frente do seu tempo. Nunca fugiu do trabalho, dos obstáculos e das dificuldades. Pelo contrário, sempre foi exemplo de força e da labuta.

Por falar em labuta, a cabeleireira apenas está parada devido à pandemia do novo coronavírus, que a impede de trabalhar. Tão logo a vida voltar à normalidade, o seu salão estará de portas abertas para novamente a rotina dar o ar das graças na vida de Jacyr Burini Bortolotti, uma mulher dona não só da luta e labuta, mas dona da alegria e de muita vida!

 

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