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Sobrevivente de loja que desabou há 32 anos em Vitória: “Tive muita sorte”

Lourenço Brumana foi um dos sobreviventes do desabamento de uma loja no Centro de Vitória, há 32 anos, mas perdeu a mãe e o irmão na tragédia. Ele se emocionou ao ver o caso ser relembrado por uma reportagem especial de A Gazeta.

“Foi indescritível. Aquele foi o lugar que eu sobrevivi, mas outras pessoas perderam a vida”. Essa declaração é de Lourenço Molino Brumana, que tinha cinco anos quando sobreviveu ao desabamento de uma loja de calçados, na Rua Gonçalves Dias, no Centro de Vitória. A frase é especialmente forte, porque entre as pessoas que morreram na tragédia estão a mãe e o irmão dele. Hoje ele é advogado e, aos 38 anos, ainda consegue descrever perfeitamente o aconteceu naquele dia em que teve a vida transformada.

Na última quinta-feira (29), uma marquise desabou na Praça Oito, no Centro de Vitória, após o acidente, A Gazeta preparou uma reportagem especial relembrando o desabamento da loja em que Lourenço e a família foram vítimas, há 32 anos. Ao ler a reportagem ele se emocionou e decidiu contar como foi a vida dele após a tragédia.

“Eu gostei muito da reportagem. Acho que é uma boa homenagem às pessoas que perderam as vidas naquele lugar. Torço para que isso sirva de exemplo para que as pessoas tomem mais cuidado”, comentou.

“APESAR DE CINCO ANOS DE IDADE, LEMBRO DE TUDO PERFEITAMENTE”.

Ele conta que o cenário descrito pelo pai foi o seguinte: no dia 6 de setembro de 1988, Margarida Molino Brumana buscou o filho mais velho na creche, acompanhada do caçula. Seria um dia normal, em que ela levaria as crianças no Centro de Vitória, pagaria algumas contas e compraria presentes. Pelo visto, uma loja de sapatos chamou a atenção de Margarida. Junto dos filhos, ela entrou no local. Apenas o filho mais novo, de 3 anos de idade, Gustavo Molino Brumana a acompanhou para o interior do imóvel. Lourenço diz que permaneceu na frente da loja, sem saber que os minutos seguintes seriam desesperadores.

“Minha mãe gostava muito de presentear as pessoas. Por isso, fomos à loja de sapatos. Chegando lá, ela foi para os fundos do imóvel, junto do meu irmão. Como já era um pouco maior, acabei me distanciando deles. Minha mãe sentou em uma daquelas cadeiras de provar sapato e fiquei andando pela loja mexendo nos sacos de cimentos que estavam espalhados, porque a loja estava em reforma. Eu estava na parte da frente quando tudo veio abaixo”, contou.

Na ocasião, Lourenço deu uma entrevista sobre o ocorrido. “O que aconteceu foi como um terremoto, mas eles só conseguiram me tirar. A minha mãe ainda ficou”, disse ele na época com cinco anos de idade.

OS DETALHES QUE AINDA ECOAM NA MENTE DE LOURENÇO

Lourenço diz que ainda consegue sentir as sensações daquele momento. O gosto de sangue e cimento, a poeira que pairava no local e os gritos de uma pessoa soterrada ao lado são detalhes vivos na memória do advogado. Após 32 anos, Lourenço destaca que tudo foi muito marcante e depois daquele dia, a infância dele foi completamente modificada.

“Eu lembro que tinha uma pessoa do meu lado que dizia o tempo todo que ia morrer. Eu fiquei em um lugar que formou uma espécie de bolsa embaixo da laje que caiu. Tive muita sorte, mas caiu tudo de uma vez. Desmaiei e acordei várias vezes, até que me vi acordando em um túnel com pessoas me puxando. Quando saí tinha uma multidão do lado de fora da loja. Fui socorrido e perguntei pela minha mãe e meu irmão, mas informaram que eles estavam em outro hospital. Eu só soube o que aconteceu com eles dois dias depois”, relatou.

A mãe, Margarida Molino Brumana, e o irmão de Lourenço, Gustavo Molino Brumana, morreram na tragédia junto com Arlindo Ramos.

A RELAÇÃO COM O PAI

Criado pelo pai, José Rosário Brumana, Lourenço faz uma pequena pausa para procurar a palavra certa para descrevê-lo. Ao recuperar o fôlego e organizar as ideias, ele escolheu “herói” para descrever a figura paterna.

“É muito ruim a sensação de ter perdido alguém que ele gostava muito. A minha mãe era muito querida e bonita. Muitas pessoas descrevem ela para mim como espetacular. Então, imagina como é perder alguém tão especial?! Mas meu pai acabou sendo muito guerreiro, porque ele enfrentou tudo isso e me criou”, relatou. Margarida Molino Brumana, uma das vítimas do desabamento ocorrido em Vitória há 32 anos. . Crédito: Lourenço Molino Brumana

José Rosário Brumana, de 59 anos, também tem memórias fortes daquele dia. Recebeu a notícia do desabamento por um amigo do trabalho que o acompanhou no trajeto até o Centro de Vitória, junto de uma assistente social. José Rosário descreve aquele 6 de setembro como um dia triste.

“Enquanto eu estava indo para o local fui informado que meus familiares estavam no hospital que hoje é o São Lucas. Cheguei lá e eles já tinham falecido. O Lourenço estava em outro lugar realizando o tratamento. Foi uma fatalidade muito triste. Depois eu encontrei o meu filho e conversei com ele. Precisei ter muita força, porque eu também era muito jovem. A vida desabou”, detalhou.

A retomada da rotina foi um processo difícil, mas necessário. Foi preciso alguns anos para José Rosário se restabelecer. Com a casa vazia, ele organizou uma nova rotina para se aproximar ainda mais do filho de cinco anos. A avó de Lourenço rotineiramente os visitava para auxiliar nos cuidados da casa.

José e Lourenço cultivaram, desde então, uma relação muito boa. Pai e filho se apoiaram durante o processo de cura e estabeleceram uma ligação familiar muito forte. Moram em bairros próximos e se veem com frequência. José se casou novamente e Lourenço ganhou um novo irmão, que atualmente tem 20 anos.

“Toda vez que eu passo lá (no local do acidente) é como se eu estivesse arranhando uma cicatriz. Demorou para cicatrizar. Foi doloroso. É doloroso”, comentou José Rosário.

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