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Vacinação de crianças não é prioridade, mas pode ser importante em cenário de aumento de casos, indica epidemiologista

A professora Ethel Maciel explica que a prioridade é completar esquema vacinal de adultos e 3ª dose de grupos de risco; imunizantes para menores de 12 anos ainda devem ser aprovados em agências reguladoras

Com a vacinação de adolescentes em andamento e o recente anúncio de eficácia da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos, os próximos passos da imunização contra a Covid-19 começam a gerar discussões. Para a epidemiologista Ethel Maciel, o grupo infantil não é prioridade no cenário atual do Brasil, em que há falta de doses e adultos que ainda não completaram o esquema vacinal. No entanto, pode ser importante em um possível aumento de casos na faixa etária, como vem ocorrendo nos Estados Unidos. A especialista falou sobre o tema em entrevista coletiva aos Residentes do Curso de Jornalismo da Rede Gazeta, na tarde desta quarta-feira (22/9).

A vacinação de crianças depende ainda, entre outros fatores, da autorização de agências reguladoras. A farmacêutica Pfizer vai buscar a aprovação na FDA (Food and Drug Administration) dos Estados Unidos, o que indica que, eventualmente, pode ocorrer a solicitação de uso na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Mesmo sem previsão de pedido de autorização da Pfizer à Anvisa, governos estaduais como Minas Gerais e Espírito Santo sinalizaram as expectativas de realizar a vacinação de crianças ainda neste ano. Até o final de setembro, somente o Instituto Butantan, de São Paulo, havia pedido aval para uso da vacina no público infantil, a partir de 3 anos, em julho. A agência reguladora brasileira negou, em agosto, o uso da Coronavac em pessoas de 3 a 17 anos por falta de dados nos documentos apresentados.

Desde setembro, o Brasil vacina o público adolescente com a primeira dose, além da aplicação de segunda e terceira doses. A imunização de pessoas de 12 a 17 anos ocorre em meio a decisões divergentes, já que o Ministério da Saúde orientou para que todo o público fosse vacinado e depois voltou atrás, afirmando que o foco deveria ser apenas os jovens com comorbidades. No último dia 22 a pasta recuou novamente, dessa vez liberando a vacina para adolescentes.

A epidemiologista explica que em um cenário com disponibilidade de doses seria possível pensar em administrá-las livremente, mas com a escassez é necessário estabelecer uma ordem de prioridade. Para ela, o ideal seria priorizar a primeira dose no público de 18 anos ou mais, depois completar o esquema vacinal com a segunda, depois disponibilizar a terceira dose para idosos e grupos de risco, em seguida vacinar os adolescentes e, por fim, as crianças. “Nada disso está sendo feito, está desorganizado, mas é assim que deveria ser”, comenta Maciel.

O grupo de crianças de 5 a 11 anos tem uma “possibilidade muito pequena de adoecimento” no cenário atual da pandemia no Brasil, aponta a professora. Ela explica isso baseada em um estudo com menores de 18 anos do país, que concluiu que há mais internações e óbitos em menores de 2 anos e maiores de 12. “Esse público de 12 a 17 é super importante a gente ter a vacinação, e seria muito importante que a gente tivesse para recém-nascidos, que têm poucas defesas naturais”.

É possível considerar ainda que o Brasil passe por uma explosão de casos de Covid-19 no público infantil, como ocorre nos Estados Unidos. Lá, houve o aumento de 240% nas infecções desde julho, de acordo com a Academia Americana de Pediatria. “A gente está sempre um mês e meio atrás dos EUA, atrasados no ponto de vista do momento epidemiológico da doença. Então lá, agora, tiveram aumento de 240% de adoecimentos e internações, isso é muito preocupante. Se a gente tivesse esse cenário, a gente precisaria da vacina em crianças também, mas não é o cenário atual”, esclarece Maciel.

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