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“Eu me vejo tornando o assunto mais leve”, diz Amarildo, chargista que atua há 35 anos na Rede Gazeta

O profissional contou experiências, relembrou histórias das décadas de trabalho e forneceu dicas aos focas em um bate-papo virtual na quarta-feira (27)
Amarildo se dedica há 35 anos a produção de charges em A Gazeta (Foto: A Gazeta / Bernardo Coutinho)

Ouvindo um barulho generalizado de máquinas de escrever e vendo uma fumaça pairando na cabeça de todo mundo da redação. Foi nesse cenário que o chargista e ilustrador Amarildo começou a atuar na Rede Gazeta na década de 80. Com mais de 35 anos de dedicação à arte visual, o profissional, hoje, tenta equilibrar criticidade e leveza em suas charges, principalmente em tempos tão polarizados politicamente no Brasil. Um desafio e tanto.

Para Amarildo, não restam dúvidas. O desenho é a primeira linguagem do ser humano. Afinal, as crianças fazem rascunhos e rabiscos com a intenção de registrar o cotidiano e de se comunicar. Segundo ele, as charges utilizam desse tipo de arte para criar conexão com os acontecimentos políticos, sociais e econômicos que acontecem todos os dias no país e também no mundo. Ou seja, fazem parte essencialmente de um jornalismo visual.

“Charge significa ‘carga’. É feita pra ser uma espécie de ‘porrada’. Mas podemos dar essa porrada com luvas e sem ser com muita força. Então, eu me vejo tornando o assunto mais leve. O chargista não deve aumentar a intensidade do fato”, acrescentou Amarildo, em um bate-papo virtual com os focas do 24º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta na quarta-feira (27).

Amarildo também contou que não sai ileso de opiniões positivas e negativas. Muitos se sentem impotentes, indignados e, realmente, veem as charges como a própria voz sendo representada naquela crítica. Por outro lado, alguns não aceitam e reprimem o cartunista com xingamentos. Inclusive, antigamente, futebol era o tema mais polêmico e que rendiam cartas de reprovação. Agora, com a polarização, é a política.

“As pessoas descarregam tudo sem filtros. Não é agradável você acordar pela manhã e ver alguém te xingando com o que tem de pior do vocabulário. Mas eu procuro amenizar. Eu não respondo os ataques. Nenhum. Ao não responder os ataques, a agressão volta para quem agrediu. Os elogios, eu agradeço”, afirmou o chargista.

Evolução tecnológica

A evolução tecnológica mudou o trabalho do chargista. Durante décadas, não era possível, por exemplo, ter esse tipo de retorno instantâneo do público, já que as charges circulavam exclusivamente no jornal impresso, logo, aqueles que queriam mandar um recado para Amarildo tinham que enviar cartas ou telegramas.

“Agora, você acaba de publicar um trabalho e imediatamente, recebe as vaias e os aplausos. É tempo real. Uma espécie de palco ao vivo”, revelou Amarildo, que ainda citou que tenta fazer charges animadas e em formato de reels no Instagram para fisgar mais pessoas para o conteúdo.

Outra mudança tem relação, claro, com os materiais utilizados na produção de uma charge. No início, o chargista precisava de papel, grafite e caneta nanquim para fazer as charges em preto e branco. Quando o jornal impresso evoluiu para o colorido, Amarildo passou a utilizar tinta. Atualmente, nada disso. O processo é praticamente todo digital. Com uma caneta touch, um tablet e um computador, os desenhos ganham forma. “Isso dá mais mobilidade ao meu trabalho. De qualquer lugar que eu estiver, posso mandar o meu trabalho”, disse.

Registro do bate-papo de Amarildo com os residentes (Foto: Reprodução)

Processo de criação

Apesar da tecnologia ter provocado mudanças em sua rotina, Amarildo busca por ideias de forma mais manual e clássica.

Todos os dias, acorda e vai fazer uma caminhada pelo seu bairro. No percurso, leva dois celulares. Um mais simples, que capta sinal de rádio pela antena. E outro smartphone que apresenta mais recursos. O primeiro é essencial para o chargista ouvir as principais rádios de notícias. Já o segundo serve para gravar as ideias pelo caminho.

Quando chega em casa, continua o processo. Amarildo fica acompanhando canais de notícias, como a GloboNews, e ao mesmo tempo, com mais de 20 abas de sites abertas em seu computador. “Primeiro, você precisa receber a informação e depois fazer a charge. E o dia inteiro essa oficina de informação é processada”, afirmou.

Crendo na ideia de que um “bom desenho não salva uma ideia ruim” e sim uma “ideia boa salva um desenho ruim”, Amarildo valoriza esse início do processo de criação, mas também o final dele. Afinal, quando chega o momento de analisar o texto que acompanhará os desenhos da charge, o chargista redobra a atenção.

“Temos que pensar como todas as camadas sociais irão entender aquela charge. É buscar uma linguagem universal. […] Tento também ser relevante e deixar com que a pessoa e o fato centralizados estejam irretocáveis. Você não pode criar um fato porque você não gosta de uma determinada pessoa. Isso tem que estar o tempo todo na cabeça”, concluiu o chargista.

Confira uma galeria com charges do Amarildo!

Conhecendo mais Amarildo

Amarildo cresceu com a ideia de fazer Engenharia Eletrônica. Apesar disso, durante a década de 80, não havia ainda esse curso no Espírito Santo. Então, resolveu se deleitar no mundo da Física. Mas o percurso pela área de exatas não durou muito.

Como gostava muito de desenhar, inclusive durante as aulas, um professor orientou o jovem na época a conhecer o curso de Artes Plásticas. Depois de adiar esse processo, Amarildo conheceu essa área da Ufes, se encantou e, após um período da faculdade, largou de vez os cálculos da Física.

Após garantir o bacharel em Artes, Amarildo realizou trabalhos para agências e empresas como ilustrador, até que surgiu a oportunidade de ingressar na Rede Gazeta, onde está desde 1986. São 35 anos atuando como chargista e editor de ilustração na mesma empresa. Por décadas, trabalhou para o jornal impresso. Nos últimos dois anos, as suas charges diárias vêm sendo publicadas exclusivamente no portal A Gazeta.

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