Longe dos olhos da maioria, Vitória tem noite viva e cheia de histórias

Nádia Prado e Rafael Carelli

Com relatos de cidadãos que vivem a rotina da madrugada da capital, conheça um pouco mais da trajetória daqueles que estão nas ruas enquanto outros dormem

São 23h20. O barulho do motor do avião de cargas do Aeroporto Internacional de Vitória pode ser ouvido pontualmente, todos os dias neste horário. Não há dúvidas da localização. Estamos no Jardim Camburi, o maior e mais populoso bairro do Espírito Santo.

A noite é quente e o trânsito nem de perto lembra o das ruas movimentadas do bairro, que abriga mais de 60 mil moradores em Vitória. Com a batida em retirada da maioria dos cidadãos da cidade, a noite, há de se dizer, tem um ar “sorrateiro”.

Sair para apreciar as histórias e absorver as sensações que o breu tem a oferecer não é das tarefas mais simples. Dos poucos que se vê vagando pelas ruas, é difícil identificar os sujeitos que estão dispostos a compartilhar a sua jornada. Acontece todo um ritual antes do contato inicial.

O passo muda de direção e passa a ir de encontro ao que está longe. Ocorre um primeiro contato visual, que vai deixar claro se a aproximação é amistosa ou não. A postura corporal do que está esperando para ser abordado se modifica completamente. Enrijecido, desconfiado e atento para se safar caso algo dê errado, o possível personagem de uma grande história da noite se ajeita.

Toda essa trama aconteceu com José Marcos, 25. Entregador do Ifood, se escorava na moto e esperava o celular acender com o comando para a próxima corrida. Tímido e de jeito simples, José Marcos é um jovem, mas já tem família constituída. Casado desde os 18 anos, tem uma filha de 5, e é por ela que faz as corridas noturnas. 

Morador de Jardim Carapina, faz corridas no Jardim Camburi e considera a posição em que se encontra tranquila, por estar perto de casa e da família. Caso algo aconteça, Jos

é Marcos já sabe que poderá ter ajuda próxima. De noite, como explica, é mais tranquilo para trabalhar.

“De dia, o pessoal é mais acelerado, mais ignorante. Como eu entrego marmita na hora do almoço, as pessoas estão com mais pressa”, explica.

Ele ainda aponta outro problema, típico para a profissão dele: o trânsito. Relatos e mais relatos de motoristas que jogam o carro em cima das motos de entregadores, a falta do uso da seta no trânsito de Vitória e os motoboys com pressa são alguns dos percalços que José Marcos expressa.

Com a história de José Marcos em mãos e com a certeza de que a noite, assim como o dia, é fonte de sustento para muitas pessoas, continuamos em busca de mais histórias e relatos dos seres noturnos. De quem, na ausência do sol, procura o seu lugar nele.

Bairro adentro, vencemos a escuridão das ruas e avançamos pelas inúmeras rotatórias e quarteirões de prédios, muito semelhantes uns aos outros. Um pouco mais inseridos no bairro, surge, quando menos se espera, uma praça. O aspecto, de “pracinha” do interior, daquelas com bancos de cimento, igreja e lanchonetes, dá um aconchego instantâneo.

Numa das margens da praça, mesas na rua e clientes conversando. É uma sorveteria. A gerente do local, Maria José, 56, recebe a todos de braços abertos. No momento em que chegamos, ela negociava com um cliente, que era funcionário de uma concessionária, a compra de uma moto.

O local funciona há 16 anos. Sempre com horário de funcionamento que avança a madrugada, Maria José toca o negócio em alguns dias da semana. Ela, como gosta de ressaltar, já foi dona do estabelecimento, mas hoje em dia prefere a função de gerente.

O trabalho a noite representa, para ela, tranquilidade. “É calmo, é tranquilo. Você conversa com muita gente. Você entra na conversa do cliente, ele entra na sua conversa. É muito bom, trabalhar é bom”. 

Quanto às vendas, Maria José afirma que as vendas de noite são “mais ou menos”. Ela, gerente, e o dono do local mantém o horário de funcionamento para se mostrarem abertos. Segundo ela, em Vitória, os lugares fecham muito cedo.

A conversa com Maria José seguiu o roteiro que ela mesma mencionou das tratativas com clientes à noite. Uma conversa se entranha na outra e as histórias vão aparecendo. Há 9 anos, Maria luta contra um câncer de mama com metástase óssea. Sem plano de saúde, amigos custeiam os tratamentos de quimioterapia.

Maria José mistura as falas de amor, compaixão e carinho com opiniões políticas inflamadas. A feição chega a mudar quando a gerente dá seus pitacos sobre direitos trabalhistas, Brasil e Covid-19, como no vídeo abaixo.

“Se vier um comunismo, eu não faço mais quimioterapia, eu prefiro ir embora”

A gerente ainda conta que, apesar da não comprovação científica de eficácia de medicamentos no combate à Covid-19, ela toma as drogas por conta própria, e não conta para a médica.

Sorveteria fechada, turno encerrado, Maria José pega a bicicleta e vai embora para casa pelo calçadão. “10 minutinhos eu chego. Às vezes eu paro, converso com alguém”. Ela garante que não fica cansada, apesar do tratamento agressivo. “Mesmo que me sentisse assim, teria que levantar pra trabalhar”. Trata o ofício como dever absoluto e defende a posição.

Já é tarde e cada vez menos se vê pessoas nas ruas. A frase típica de que “a cidade dorme” se encaixa na madrugada de Jardim Camburi. A escuridão se abaixa cada vez mais e o breu toma conta das ruas. A iluminação é boa, mas a noite é implacável.

E agora, em busca de mais alguém que compartilha sua vida com a noite, nos resta a opção daqueles que são os maiores representantes dos seres noturnos das cidades grandes no nosso tempo, ao lado dos seguranças: os porteiros.

A certeza é de que sempre estarão ali. Cansados, às vezes mal-humorados ou até dormindo. Mas a presença dos porteiros para proteger o patrimônio alheio, uma tarefa muitas vezes ingrata, ainda mais à noite, é a certeza nas metrópoles do Brasil.

O “Seu Aguinaldo” é um deles. Com 56 anos, Aguinaldo conta, com orgulho, que já trabalha no prédio há 12 anos. A noite, para ele, é tranquila, calma, mas o sono é o inimigo que vem com mais força nos turnos de madrugada.

Morador do bairro de Fátima, trabalha perto de casa e, para ir embora, leva menos de 20 minutos. A rotina do dia, que poderia ser abalada pelo turno invertido de trabalho, não parece ser muito atrapalhada pelas vivência na guarita da portaria.

“Eu chego em casa e durmo até umas 11h. Depois do almoço, descanso mais um pouco. De noite, também. Eu durmo bem, descanso bem”, conta.

Natural de Colatina, Aguinaldo conta que as possíveis ameaças externas são o que o mantém acordado. Apenas a existência da possibilidade da chegada de alguém é o suficiente para que o funcionário se mantenha alerta, para proteger a moradia das pessoas. Ele diz que “não gosta de dar motivo”, caso estivesse dormindo.

E a noite é finalizada com as palavras certeiras de Seu Aguinaldo. Durante a conversa, olho sempre na guarita e no portão do prédio. Várias especificidades foram cobertas. Aquele que percorre os bairros atrás do sustento, aquela que tira do negócio próprio o fruto para a família e aquele que, na porta da casa dos outros, luta para manter a segurança. A noite traz nuances que a escuridão às vezes não deixa mostrar. 

eSocial diminui 13° de quem teve redução de jornada; patrão precisa corrigir

Sistema do governo federal calcula de forma automática o benefício de forma proporcional diferentemente de determinação do Ministério da Economia; hoje é o último dia para o pagamento da primeira parcela do abono natalino

O Ministério da Economia anunciou, por meio de nota técnica no último dia 17, que os trabalhadores que tiveram jornada ou salário reduzidos durante este ano deverão receber o 13º salário integral. Porém, a ferramenta eSocial, do Governo Federal, aplica a diminuição do abono automaticamente para quem teve ou ainda está nos casos de redução de jornada.

Nesta segunda-feira (30), se encerra o prazo para pagamento da primeira parcela do 13º salário dos trabalhadores que não receberam antecipações ao longo do ano. O erro na ferramenta eSocial faz com que o empregador tenha que corrigir manualmente o valor do 13º.

A redução aplicada pela ferramenta do Governo Federal acontece nos casos em que os trabalhadores tiveram ou ainda estejam em regime de redução da jornada ou do salário durante o ano. Os valores para pagamento do 13º salário devem ser feitos com base no salário integral, fora do período de redução.

O superintendente Regional do Trabalho do Espírito Santo, Alcimar Candeias, explica que o eSocial faz o cálculo com base nas remunerações efetivamente pagas. “Quem não recebeu salário cheio mas teve redução vai ter direito ao 13º integral. Os empregadores têm que fazer o ajuste”, afirma.

Alcimar também explicou que, como este é um ano atípico, as alterações que poderiam ser feitas no sistema do eSocial para adequar as situações de redução de jornada e salário levariam muito tempo para serem aplicadas e, portanto, o sistema acaba considerando os meses de salário reduzidos para a conta do 13º.

A nota técnica do Ministério da Economia indica que trabalhadores com jornada ou salários reduzidos devem receber o 13º salário integralmente. O abono só será reduzido para os casos de empregados que tenham tido contratos suspensos. Nestes casos, os meses em que o empregado trabalhou menos de 15 dias não serão contados no cálculo da gratificação.

A Superintendência Regional do Trabalho do Espírito Santo (SRT/ES) afirma que a nota técnica emitida pelo Ministério da Economia é uma posição institucional da pasta e que, em caso de questionamento na Justiça quanto ao 13º, caberá ao Judiciário avaliar cada caso.

CONTRATOS SUSPENSÃO GERAM DEDUÇÃO NO 13º

O cálculo do 13º para quem teve o contrato suspenso acontece da seguinte forma: se a suspensão aconteceu por 60 dias, por exemplo, no pagamento do 13º salário, que equivale a doze meses, ocorre a redução proporcional de dois meses. Se houve a suspensão por 90 dias, o 13º salário será proporcionalmente menor, com três meses a menos na conta.

Há de se ficar atento aos dias trabalhados em cada mês. Se em um mês o trabalhador esteve ativo por pelo menos 15 dias, este mês é contado integralmente para o cálculo do pagamento do 13º salário.

O período aquisitivo de férias também entra na conta. Os trabalhadores que tiveram contratos suspensos terão esse período adicionado à conta das férias. Por exemplo, se o trabalhador teve contrato suspenso durante dois meses, a concessão de férias passa de um mínimo de 12 para 14 meses.

PAGAMENTO PODE SER QUESTIONADO NA JUSTIÇA

O advogado e especialista em direito empresarial Victor Passos Costa ressalta que a nota técnica do Ministério da Economia, que prevê o pagamento integral do 13º a quem teve a jornada ou o salário reduzido, não é uma legislação. Apesar disso, ele acredita que as orientações da pasta são um “norte” para as decisões judiciais. “A nota não gera obrigação para as partes, mas eu acredito que o Judiciário vai seguir as orientações do Ministério”, afirma.

Victor diz, ainda, que mesmo que o eSocial apresente o valor incorreto do 13º do trabalhador, o empregador deve pagar o valor integral e que, caso a empresa se esqueça de ajustar o valor no sistema, a diferença no valor deve ser acertada com o empregado. Ele indica que acordos podem ser feitos para o pagamento desta diferença. “O empregador pode pagar, por exemplo, a diferença na segunda parcela, em dezembro. A questão é pagar o valor integral, seja por meio de acordo ou de acerto com o empregado”, explica.

O caso das suspensões de contrato, que a nota técnica prevê pagamento parcial do 13º, se mantém com a indicação de valor proporcional ao tempo trabalhado. Caso o empregador não pague integralmente o 13º do trabalhador que teve a jornada reduzida, a empresa se sujeita a futuras decisões da Justiça do Trabalho.

O advogado Victor Passos ressalta que os empregados que receberam o valor do 13º incorretamente poderão buscar a Justiça trabalhista. “Na Justiça do Trabalho é onde vai ser decidido se a nota técnica tem valor legal e como deve ficar o pagamento do abono”.

ENTENDA AS REGRAS

Trabalhador que teve redução da jornada/salário

  • 13º salário: recebe integralmente, sem redução. 
  • Férias: o tempo para cálculo de férias também não deverá ter redução. 

Trabalhador com contrato suspenso

  • 13º salário: o governo orienta que o benefício seja proporcional aos meses efetivamente trabalhados, ou seja, em que o funcionário atuou por pelo menos 15 dias.
  • Férias: o período de suspensão não vai contar como tempo para concessão a férias, que só são concedidas após 12 meses trabalhados.

Covid-19: taxa de ocupação cresce e ES inicia ampliação de leitos

A estratégia vem em momento de alta na taxa de ocupação dos leitos de UTI no Espírito Santo

A Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa) está ampliando a oferta de leitos de UTI para combate a Covid-19 no Estado. A estratégia vem em momento de alta na taxa de ocupação dos leitos de UTI no ES. O Estado chegou à 86% das Unidades de Terapia Intensiva com pacientes infectados. O indicador é mostrado no Painel Ocupação de Leitos Hospitalares, atualizado pela Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa). As estatísticas foram atualizadas no final da manhã desta quarta-feira (25).

A Sesa afirmou, em nota à A Gazeta, que está com um edital aberto para ampliação dos leitos Covid para a rede SUS e renovação de contrato com hospitais privados. A secretaria afirma que o chamamento visa a contratação de 130 leitos de UTI e 187 de enfermaria para combate ao novo coronavírus. Destes, 50 leitos de UTI e 185 de enfermaria já foram aderidos ao sistema de saúde.

Hoje, em todo o Estado, são 363 leitos de UTI para a Covid-19 ocupados por pacientes com quadros graves da doença, dentre os 422 disponíveis. A taxa de ocupação de 86% é a maior desde o dia 5 de julho, quando a estatística atingiu o pico de toda a pandemia, com 86,5% dos leitos ocupados.

À altura do dia 5 de julho, pico da taxa de ocupação durante a pandemia, o Estado tinha 693 leitos de UTI disponíveis para o combate ao novo coronavírus, sendo que 600 estavam ocupados. Foi o maior número absoluto registrado durante toda a pandemia no Espírito Santo. Os números de hoje, com 363 leitos ocupados, são os maiores desde o dia 11 de setembro, quando 364 pacientes ocupavam as unidades.

A Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo disse, ainda, que nesta semana a região Sul do Estado passou a contar com mais oito leitos de UTI e 13 de enfermaria para o combate ao novo coronavírus. A Sesa ainda planeja entregar mais 160 leitos, frutos de obras na rede própria do Estado, até o final deste ano. Segundo a autarquia, estes leitos poderão ser usados por pacientes da Covid-19 em caso de subida da curva.

Os indicadores de ocupação dos leitos de UTI no Estado vêm subindo frequentemente. Desde o final de setembro e meados de outubro, as taxas de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva vêm alcançando números que eram observados em agosto e julho.

Ao longo do mês de novembro, as altas nas taxas de ocupação dos leitos de UTI e os números absolutos de leitos ocupados também vêm subindo, o que indica que a curva voltou a ser ascendente. Esta subida acontece mesmo com o constante aumento no número de leitos de UTI disponíveis. Estes indicadores preocupam os especialistas e são motivo de alerta para a população.

O número de leitos disponíveis no Estado varia de acordo com a demanda por parte dos pacientes e das estratégias adotadas pela Sesa para combate ao novo coronavírus. O potencial máximo de leitos que o ES poderia ter, em caso de necessidade, é 715 leitos. Esta é a capacidade potencial.

Segundo a atualização do painel da Sesa, hoje o Estado tem 50,7% da capacidade potencial preenchida por leitos ocupados com pacientes infectados pela Covid-19.A Secretaria afirmou que a disponibilidade de leitos acontece de forma estadual e que estratégias são adotadas de acordo com o comportamento da curva da doença. A Sesa ressalta, ainda, que leitos clínicos poderão ser revertidos novamente em leitos para a Covid-19 caso necessário.

Hoje, oito hospitais no Estado estão com 100% dos leitos de UTI para tratamento da Covid-19 ocupados:

Aracruz: Hospital São Camilo

Cachoeiro de Itapemirim: Santa Casa de Misericórdia

Colatina: Hospital Maternidade Silvio Ávidos

Guaçuí: Santa Casa de Misericórdia

São José do Calçado: Hospital Estadual

Vila Velha: Hospital Evangélico e Vila Velha Hospital

Vitória: Santa Casa de Misericórdia

Mulheres de Vitória estão entre as que mais bebem nas capitais

Indicadores de consumo de álcool em levantamento do IBGE apontam, ainda, que o Espírito Santo está entre os oitos estados brasileiros que mais consomem bebidas alcoólicas regularmente

As mulheres de Vitória estão em quarto no ranking das que mais bebem no Brasil, de acordo com dados  indicados na última edição da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A pesquisa, além de apontar índices de consumo de álcool, também contabiliza dados sobre o consumo de tabaco no Brasil, além de indicadores de efetividade do sistema de saúde, das condições de saúde da população e vigilância de doenças crônicas.

Os dados sobre o consumo de álcool no Brasil consideram pessoas que costumam consumir bebida alcoólica uma vez ou mais por semana. Nesse levantamento, dentre as capitais, Vitória está na quinta posição, empatada com Belo Horizonte. Segundo as estatísticas, 35,8% dos vitorienses têm esse hábito de consumo.

Observando a pesquisa a partir de um recorte por sexo, Vitória continua nas posições mais elevadas. As mulheres da capital ocupam a quarta posição no ranking, atrás apenas de Porto Alegre, Florianópolis e Salvador.

27% das mulheres de Vitória têm hábito de beber uma vez ou mais durante a semana, segundo a PNS. A média das mulheres das capitais brasileiras é de 20,7%.

A biomédica Erica Siu, especialista em dependência química, aponta que o crescimento do consumo de bebidas alcoólicas entre as mulheres é uma tendência global, não apenas no Espírito Santo. “O crescimento do poder aquisitivo das mulheres e a sobrecarga pela dupla jornada de trabalho acaba contribuindo para o aumento desses índices”, aponta a especialista.

A engenheira Adriana Lage, 29 anos, é uma dessas mulheres. Moradora de Vitória, ela costuma beber durante a semana, mais de uma vez e em ocasiões diferentes. Tanto ela quanto o grupo de amigas têm o mesmo hábito, o que vai de encontro ao que a pesquisa aponta. “Já senti que estava chegando perto do limite em algum momento, mas nunca ultrapassei. Não cheguei a perder o controle ou algo assim”, conta.

Adriana ainda considera que o álcool tem benefícios em outra área da vida. “Acaba ajudando na vida social, vira uma desculpa pra sair com os amigos, conhecer pessoas novas, socializar”, explica a engenheira.

ESTADO

Considerando as estatísticas entre os estados brasileiros, o Espírito Santo é o oitavo onde mais se tem o hábito de consumo de álcool uma vez ou mais por semana, que é encontrado em 26,7% da população. As mulheres capixabas estão em sétimo no Brasil, com taxa de 18,1%, acima da média feminina brasileira, que é de 17%.

Erica Siu, que também é vice-presidente do Centro de Informações de Sáude e Álcool (CISA), alerta para os efeitos nocivos a curto prazo que o álcool pode causar. “O abuso de álcool pode causar desde ressacas que impedem de realizar tarefas corriqueiras, blecaute alcoólico, quedas, acidentes domésticos, acidentes de trânsito e brigas”.

Além das repercussões que o abuso de álcool pode ter no curto prazo, os dados do sistema de saúde do Espírito Santo também apontam que, a longo prazo, o consumo desenfreado de álcool também gera consequências.

Uma pesquisa realizada pelo CISA aponta que, em 2017, o ES foi o terceiro estado com mais mortes relacionadas ao álcool no Brasil. Naquele ano, 1631 óbitos foram registrados com relação ao álcool, uma média de 41,5 mortes a cada 100 mil habitantes, acima da média nacional, que é de 34 óbitos.

O ES ainda registra outras estatísticas na Pesquisa Nacional de Saúde que levantam preocupações. No recorte de idade de 40 a 59 anos, Vitória é a segunda capital que mais tem o hábito de beber uma ou mais vezes por semana. Além disso, 25% dos homens capixabas relataram ter abusado de álcool nos 30 dias anteriores a pesquisa. 18% do Estado, independente do sexo, afirmou ter abusado de álcool no mês anterior.

O abuso de álcool se refere a beber grandes quantidades em um curto espaço de tempo. Há as situações ‘álcool zero’, nas quais não é recomendado qualquer ingestão de bebidas alcoólicas. É o caso de crianças, adolescentes, gestantes, pessoas que vão dirigir, pacientes usando medicamentos que interagem com álcool ou aqueles que não conseguem controlar seu próprio consumo.

Para um adulto que está fora dessas condições de ‘álcool zero’ e opta por beber, a recomendação do CISA é não ultrapassar o consumo moderado. Este tipo de consumo se refere a uma dose de bebida por dia para mulheres e duas doses para homens. Uma dose é considerada uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de bebidas destiladas, como cachaça, whisky e vodka.

Os efeitos do álcool no organismo de cada pessoa podem ser diferentes. Erica Siu explica que as mulheres são biologicamente mais suscetíveis aos efeitos do álcool e que, apesar das recomendações de consumo, cada um tem que observar os efeitos que as bebidas causam. “Os dados são alarmantes e têm que ser considerados nas estratégias de prevenção e tratamento, e também na observação pessoal”, afirma a biomédica.

TABAGISMO EM QUEDA NO ESTADO

Apesar das altas posições que o Espírito Santo ocupa nos rankings de consumo de álcool no Brasil, o Estado lidera uma tendência de queda geral dos índices de fumantes no Brasil. O ES é o quinto estado com menos fumantes ativos no país, apenas 10,2% da população.

A capital do Estado também se destaca nos índices. Vitória é a terceira capital com menos fumantes homens no Brasil, com proporção de 6,7% da população. No recorte geral, independente de sexo, é a oitava capital com menos fumantes no país, com índice de 6,8%.

Os índices de tabagismo decaem no Brasil inteiro há algum tempo. A tendência de queda é observada na comparação das estatísticas ao longo do tempo. A PNS aponta que, em 2019, 12,8% da população era usuária de produtos derivados do tabaco no Brasil. Em 2013 eram 14,9%.

COMO CONTROLAR O CONSUMO DE ÁLCOOL?

Consumo moderado

Segundo a National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA), o consumo moderado é definido como até um dose por dia para mulheres e até duas doses por dia para homens.  A dose corresponde a 350 mL de cerveja, 150 mL de vinho ou 45 mL de destilado.

Programe-se e controle o ritmo

Escolha previamente os dias em que você vai beber e defina horário para começar e parar. Quanto mais rápido a pessoa bebe, maior o risco de desenvolver transtornos por uso de álcool. É recomendado intercalar o consumo de bebidas alcoólicas e não alcoólicas.

Motivos e gatilhos

Padrões de consumo nocivos estão associados ao enfrentamento de problemas e sentimentos negativos (dor, tristeza, frustração e ansiedade). Reconhecer o que desperta sua vontade de beber permitirá que busque alternativas para lidar com essas questões, como contar com o apoio da família e amigos ou ocupar o tempo livre com atividades saudáveis e livres de álcool.

Taxa de ocupação de leitos de UTI no ES chega a maior número desde julho

Com 424 leitos disponíveis para o tratamento da Covid-19, Estado tem 361 pacientes internados nas unidades; Grande Vitória tem taxa de ocupação de 91,5%

O Espírito Santo está com 85,1% dos leitos de UTI para Covid ocupados. A informação consta na atualização desta segunda-feira (23) no Painel Ocupação de Leitos Hospitalares, mantido com dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).

A taxa de 85,1% de ocupação é a maior desde 5 de julho, quando atingiu a marca de 86,5%. À época, porém, havia 693 leitos disponíveis, sendo 600 ocupados por pacientes com a Covid-19. Hoje, são 424 leitos disponíveis, com 361 pacientes.

O número de pacientes nesta segunda-feira (23) é o maior desde o dia 14 de setembro, quando 362 pacientes estavam internados nas Unidades de Terapia Intensiva dos hospitais do Estado. 

Na Grande Vitória, a situação é ainda mais preocupante. São 91,5% dos leitos ocupados entre os 295 disponíveis. Alguns hospitais do Estado, inclusive, apresentam taxa de 100% de ocupação dos leitos de UTI para a Covid. 

Em coletiva na última sexta-feira (20), o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, anunciou que o mapa de risco da Covid-19 sofreria mudanças caso a taxa de ocupação de leitos potenciais chegasse aos 50%. Esta taxa foi atingida na atualização de hoje (23), que mostra ocupação de 50,4% dos leitos potenciais.

Leitos potenciais são a disponibilidade máxima de leitos de UTI que o Estado pode atingir para o enfrentamento do novo coronavírus, de acordo com estratégias definidas pelo Governo do Estado. 

MOMENTO DE CUIDADOS REDOBRADOS

A alta nas taxas de ocupação de leitos de UTI no Estado levanta preocupações quanto à evolução da Covid-19 no Espírito Santo. Para a doutora em Epidemiologia Ethel Maciel, esse momento da trajetória da doença no território capixaba é crucial para definir o futuro do combate ao novo coronavírus. “A preocupação é acompanhar os dados para verificar se estabilizamos a primeira onda, ou se os índices continuam a subir. Poderia acontecer uma segunda onda sem acabar a primeira”, aponta a especialista.

Ethel ainda ressalta que o que virá a seguir depende tanto das ações individuais quanto das ações do governo. “Estamos diante de uma encruzilhada. Tudo depende da evolução do vírus, da aglomeração de pessoas, do comportamento. As pessoas não estão respeitando distanciamento, o uso de máscaras, o transporte coletivo está cheio. Alguns comportamentos individuais têm que ser retomados, e o Estado que deve agir, como na questão do transporte coletivo e na fiscalização de restaurantes e locais onde as pessoas estão se aglomerando”, finaliza a epidemiologista.

Crescimento de indicadores da Covid-19 acende sinal de alerta no ES

Tendência de aumento da taxa de transmissão e dos óbitos causados pelo novo coronavírus preocupa especialistas e  governo

O ano de 2020, historicamente, irá ficar marcado como o ‘ano da pandemia’. Com medidas de distanciamento social, higienização pessoal e de objetos e uso de máscaras, o mundo tenta, ainda hoje, lutar contra a infecção pelo novo coronavírus. No Espírito Santo, o combate à Covid-19 tem tido altos e baixos que preocupam os especialistas.

Desde o anúncio do primeiro caso de Covid no Estado, em 26 de fevereiro deste ano, a curva dos casos e mortes causados pela doença ascendeu até o pico, em junho. Em especial, maio e junho foram meses de nível máximo dos casos confirmados e das mortes em decorrência do novo coronavírus, levando a medidas de distanciamento social e controle sanitário.

A curva de casos confirmados e mortes no Espírito Santo, porém, iniciou um processo de descida a partir de julho, que vinha em ritmo constante até os números mais recentes do mês de novembro. As estatísticas mais novas indicam uma estabilização das mortes, além de crescimento do número de casos e das internações em leitos de UTI, e já acendem um alerta nas autoridades de saúde. O governador Renato Casagrande anunciou, inclusive, que pretende alterar o critérios de classificação de risco dos municípios, levando a novas medidas de restrição.

Alguns indicadores são importantes para entender como está ocorrendo a evolução da pandemia do novo coronavírus no Espírito Santo. Veja abaixo a situação de alguns indicadores que mostram o ritmo da pandemia no Estado.

NÚMERO DE INTERNAÇÕES NA UTI

Um dos indicadores mais importantes para análise do quadro geral da pandemia do novo coronavírus é a ocupação dos leitos de UTI e enfermaria nos hospitais. A taxa de ocupação indica o quanto o sistema de saúde do Estado está conseguindo absorver os quadros mais graves da doença e quanto da rede ainda está disponível.

Até a última atualização feita pela Secretária de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa), constavam 416 leitos de UTI disponíveis para uso de pacientes com Covid. Desses 416, 352 estão ocupados, uma taxa de 84%. Essa porcentagem é a maior desde o dia 7 de julho. Na ocasião, porém, havia mais leitos disponíveis, dado o quadro da doença naquele momento.

Ainda assim, os números absolutos também levantam preocupação. Os números de leitos ocupados, 352, são os maiores desde o dia 14 de setembro, quando eram 362 ocupações por pacientes com a Covid-19. 

Os leitos de enfermaria disponíveis no combate ao novo coronavírus também têm taxas elevadas. A taxa de ocupação desses leitos, no dia 1º de novembro, foi a maior desde o início da pandemia, com cerca de 77% de unidades ocupadas. Em números absolutos, os 328 leitos de enfermaria ocupados hoje representam o maior nível desde 27 de agosto, quando eram 351. 

A médica infectologista Rubia Miossi ressalta que, à medida que seja necessário, o governo pode remanejar leitos de UTI e fazer novas contratações e parcerias com o setor privado. “A grande questão com esse aumento das internações nas UTIs é se os leitos estarão disponíveis na velocidade em que se mostra necessário”, explica a médica.

Os dados da Sesa indicam que, em caso de necessidade, o Espírito Santo poderia chegar, num regime de ampliação dos leitos de UTI, a 715 unidades de terapia intensiva nos hospitais, o que poderia ajudar a desafogar o sistema de saúde. “Nós vimos, no início do país, as taxas de ocupação dos leitos de UTI de outros países chegarem a 100% e a falta de vagas para pacientes que necessitavam. Então, o governo trabalhou para que isso não acontecesse”, finaliza Rubia.

TAXA DE TRANSMISSÃO ES

A preocupação dos especialistas com uma possível retomada dos números de maio e junho da pandemia do novo coronavírus vêm dos níveis de taxa de transmissão da doença no Espírito Santo. Dados do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) atestam que, no último dia 6, a taxa de transmissão alcançou o maior número desde a semana do dia 19 de junho.

Taxa de transmissão do novo coronavírus no ESTaxa de transmissão do novo coronavírus no ES. Crédito: IJSN/NIEE

 

Na prática, o número 1.33 mostra que 100 contaminados com a Covid-19 podem transmitir a doença para 133 pessoas. O professor do departamento de Matemática da UFES e membro do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), Etereldes Gonçalves alerta para o fato de que os números apontam para um crescimento acelerado dos casos.

“A taxa de transmissão acima de 1 significa um crescimento exponencial no Estado. É provavel que a gente entre na quarta semana seguida com a taxa de transmissão acima de 1.2, o que é bem preocupante”.

Etereldes Gonçalves

Professor da Ufes

O professor afirma, porém, que é pouco provável que o Estado atinja os níveis de taxa de transmissão do começo da pandemia devido ao número de pessoas já contaminadas. Ainda assim, ele diz que a curva está ascendente. “Houve relaxamento das medidas de proteção. As populações da classe média e alta, que podiam trabalhar de casa, começaram a se contaminar agora, voltando a sair de casa. Esse ritmo causa preocupação”, diz Etereldes.

ÓBITOS

O crescimento das taxas de internação em leitos de UTI e da transmissão do novo coronavírus no Espírito Santo gerou, consequentemente, um aumento no número de mortes no Estado. 

A primeira quinzena de novembro, com 154 mortes em decorrência da Covid-19, representou aumento quando comparada com o mesmo período de outubro. A média móvel de mortes, que compara os níveis observados de óbitos dentro de 14 dias, foi de 12.71 na última quarta-feira (18). É o maior nível desde o dia 17 de setembro, quando a média móvel chegou à 13.21.

O médico infectologista e professor de Medicina da Ufes, Paulo Peçanha, afirma que as notícias que os indicadores trazem não são boas. “Estamos vendo as curvas de casos e óbitos não só pararem de descer, como começarem a subir”, afirma o professor.

Paulo ainda pontua que esse novo momento vivido pelo Estado no combate ao novo coronavírus se deve ao relaxamento de medidas de distanciamento social e de restrições sanitárias. “A curva já esteve em baixa, a população sabe qual é o caminho. Temos que nos conscientizar individual e coletivamente, para que não acontece a reversão da queda que vinha acontecendo”, alerta o especialista.

Segundo o médico infectologista, o relaxamento da população com relação às medidas de proteção ao novo coronavírus pode ter acontecido pela queda das curvas de casos e mortes no ES. “Os números em queda deram a falsa sensação de que já estava tudo bem. Mas não, o vírus continua circulando e as medidas que já foram tomadas têm que voltar a ser respeitadas”, pontua.

MAPA DE RISCO

O último mapa de risco de convivência divulgado pelo governo do Espírito Santo é outro ponto de atenção com relação ao combate à Covid-19 no Estado. Abaixo, é possível ver que apenas os municípios de Ecoporanga e Santa Tereza se encontram no nível de risco moderado.

Mapa de risco de 30 de novembro a 6 de dezembro – Governo do Espírito Santo

Apesar disso, o Estado está a um ponto percentual de atingir 50% da ocupação de leitos de UTI em potencial. Isso significa que, de todos os leitos que o Estado pode remanejar e disponibilizar para o atendimento de pacientes com Covid-19, 49% desse número já está ocupado. O mapa de risco, que leva esse número total de unidades em consideração, pode ser modificado caso este nível seja atingido.

Na tarde da última quarta-feira (18), o governo Renato Casagrande afirmou, em entrevista coletiva, que novas medidas restritivas devem ser anunciadas pelo Estado para barrar o avanço da Covid-19 no Espírito Santo. 

O Governador pediu, ainda, que voltem a ser respeitados os protocolos de distanciamento e as restrições sanitárias no Estado. “Se não seguirmos os protocolos, nós não teremos condições de controlar a doença. Eu vejo muitas aglomerações. Às vezes, as pessoas não se preocupam muito porque são jovens, mas a doença não escolhe. Às vezes, a pessoa jovem é muito vulnerável, ou aquela que tem resistência pode passar para pessoas de mais idade da família e amigos”, disse Casagrande.

O médico infectologista Paulo Peçanha ressalta que as novas medidas restritivas do governo não podem acontecer sem que a população tome consciência da responsabilidade e dos cuidados com relação à Covid-19. “Ficamos muito tempo com a curva estável. Quando começou a acontecer a redução e parecia que as coisas iriam melhorar, vemos essa reversão. Todo cuidado agora é para evitar uma retomada, para voltarmos a ter redução dos casos. Todos sabemos a fórmula, sabemos como fazer”, afirma.

Apenas Santa Tereza e Ecoporanga no nível de risco moderado, o resto no risco baixo. Apesar disso, estado está a 1 ponto dos 50% leitos de uti potenciais ocupados, isso pode levar cidades da Grande Vitória para o risco moderado no próximo mapa. Governador anunciou mudanças, mudar o mapa de risco de contágios, óbitos estabilizados são sinal de alerta.

Covid-19: os estudos dos laboratórios que lideram a corrida da vacina

Em todo mundo, laboratórios aceleram pesquisas e testes de fórmulas para prevenção ao coronavírus. Estado também estuda parcerias

Desde o início da pandemia do coronavírus, as esperanças de uma solução para o problema sanitário estão depositadas no desenvolvimentos de vacinas que possam impedir a infecção. A corrida pelo desenvolvimento das vacinas está em processo acelerado e conta com candidatas de vários países. A última a anunciar resultados foi a farmacêutica Pfizer, em parceria com a empresa alemã BioNTech, que afirmou nesta quarta-feira (18) que a vacina é segura e tem 95% de eficácia.

Os resultados anunciados foram obtidos na fase 3 de desenvolvimento da vacina, considerado o estágio mais avançado na produção dos imunizantes. A vacina da Pfizer, inclusive, é a primeira a concluir a fase 3 de testagem.

Esta fase consiste em ensaios clínicos feitos com milhares de voluntários e serve para avaliar se a vacina realmente protege contra a infecção, algo que não é possível confirmar nas fases 1 e 2.

Duas candidatas à vacina contra a Covid estão sendo produzidas no Brasil. Além delas, outra candidata tem acordo com governo do Paraná e da Bahia e o Governo Federal ainda estuda acordos com mais três. Veja abaixo a situação de cada uma.

Acordo do governo brasileiro com a AstraZeneca deve garantir ao país acesso a 100 milhões de doses do insumo da vacina. Crédito: Miguel Noronha/Futura Press/Folhapress

AstraZeneca/Oxford

Aposta do governo brasileiro para o combate à Covid, a vacina experimental da Universidade de Oxford, na Inglaterra, em parceria com a biofarmacêutica AstraZeneca, deve começar a ser produzida no país entre janeiro e fevereiro de 2021.

Em agosto deste ano, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) assinou um acordo de transferência de tecnologia e produção da vacina no Brasil em 2021. O contrato deve garantir ao país, segundo a Fiocruz, 100 milhões de doses da vacina ainda no primeiro semestre do ano que vem. A aplicação da vacina de Oxford acontece em duas doses.

Todas as projeções de produção da vacina e aplicação na população em geral ainda dependem dos resultados da fase 3 de testes, que ainda não foi concluída, e da aprovação a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

Coronavac

A Coronavac, candidata à vacina contra a Covid da empresa chinesa Sinovac, está em fase 3 de testes, que estão sendo conduzidos pelo Instituto Butantan, em São Paulo. Nesta quarta-feira (18), dados publicados na revista Lancet mostram que a vacina oferece resposta imune em 97% dos casos e é segura.

O Governo de São Paulo tem parceria firmada com a empresa Sinovac para compra de um total de 46 milhões de doses da Coronavac e a estimativa é de que, até dezembro, 6 milhões de doses estejam prontas para uso. Segundo o diretor do Instituto Butantan, Ricardo Palacios, os resultados da fase 3 de testes podem ser antecipados em decorrência do aumento do número de casos de coronavírus no Brasil.

A Coronavac ainda depende de autorização da Anvisa para ser aplicada e é objeto de disputa entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Dória. 

Sputnik V

A vacina russa Sputnik V, produzida pelo Instituto Gamaleya, em Moscou, está na fase 3 de testes. O governo russo espera dar entrada ao pedido de autorização junto à Anvisa ainda em dezembro deste ano.

Dois governos estaduais já tem acordos com o governo da Rússia sobre o imunizante. A Bahia assinou contrato para receber 50 milhões de doses da vacina e o Paraná firmou acordo de transferência de tecnologia, para produção nacional da vacina. O Governo Federal informou que tem reunião agendada com representantes do Instituto Gamaleya para estudar negócios relacionados a vacina.

O Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) informou, na última quarta-feira (11) que a Sputnik V alcançou 92% de eficácia na proteção contra a Covid. A farmacêutica União Química, que será a responsável pela produção da vacina no Brasil, ainda não formalizou pedido de autorização para a Anvisa.

Pfizer

Primeiro laboratório a anunciar o fim da fase 3 de testes da vacina contra a Covid, a Pfizer exibiu resultados de 95% de eficácia na prevenção da doença, sem efeitos colaterais graves.

Pfizer exibiu resultados de 95% de eficácia na prevenção, sem efeitos colaterais graves. Crédito: Reuters/Folhapress

Na última terça-feira (17), representantes do Ministério da Saúde se reuniram com executivos da Pfizer em busca de acordo para a compra e produção da vacina no Brasil. Segundo a pasta, não houve acordo imediato, sendo a reunião apenas “técnica”. A vacina da Pfizer está em fases de testes no Brasil.

Johnson & Johnson

A vacina produzida pela farmacêutica Janssen Pharmaceuticals, que pertence à J&J, está na fase 3 de testes no Brasil e envolve cerca de 7 mil participantes de 11 estados brasileiros.

No mundo todo, são mais de 90 mil voluntários envolvidos nos testes da fase 3, e os primeiros resultados devem ser divulgados no primeiro trimestre de 2021.

O governo brasileiro tem reunião marcada com executivos da empresa para estudar a compra e produção de vacinas da Janssen.

Covaxin

A Covaxin é uma vacina experimental que está sendo testada pela empresa indiana Bharat Biotech. A vacina, produzida com apoio do governo da Índia está em fase de testes com mais de 26 mil voluntários. A expectativa é de que haja uma vacina pronta no primeiro semestre de 2021.

Representantes do Ministério da Saúde do Brasil vão se reunir com executivos da Bharat Biotech para discutir o desenvolvimento da vacina e possíveis acordos de compra e produção.

Além destas seis vacinas, outras cinco estão na fase 3 de testagem e podem figurar entre as candidatas à vacina contra a Covid. Uma delas, da farmacêutica americana Moderna, teve eficácia anunciada de 94,5%. 

Outras vacinas em fase 3 de teste são duas do laboratório chinês Sinopharm, uma da empresa chinesa CanSino Biological e uma da biofarmacêutica americana Novavax.

TECNOLOGIAS DIFERENTES

Apesar de todas as candidatas à vacina contra a Covid terem o mesmo objetivo final, que é combater a pandemia de coronavírus no planeta, são usados diferentes métodos e fórmulas de imunização para se alcançar o resultado final.

A Coronavac, da empresa chinesa Sinovac, por exemplo, utiliza o método mais tradicional, já consagrado em outras vacinas, que é do vírus inativado. Nesse método, os agentes infecciosos do coronavírus são tratados para que percam a nocividade e, quando injetados no corpo, façam com que anticorpos sejam produzidos pelo organismo.

Já a vacina de Oxford utiliza a técnica de vetores virais, que introduzem vírus modificados no organismo, com parte do vírus responsável pela Covid e, assim, incentivando o corpo a reconhecer o coronavírus e produzir anticorpos para combatê-lo.

As vacinas da Moderna e da Pfizer, no entanto, utilizam um método diferente e considerado inovador. Por meio de fragmentos de “instruções”, chamados de RNA mensageiro, as células humanas produzem antígenos e proteínas contra o coronavírus, que são enviadas ao sistema imunológico, produzindo os anticorpos.

Ethel Maciel ressalta que os resultados das vacinas, até o momento, apontam para segurança e eficácia – Crédito: Fernando Madeira

A doutora em Epidemiologia e professora da Ufes Ethel Maciel afirma que não há indícios de que uma tecnologia se sobreponha a outra ou seja melhor que as demais. “Todos os resultados divulgados das fases 1 e 2 e os anúncios das fases 3 de testagem indicam que os dois indicadores mais importantes no desenvolvimento de uma vacina estão sendo atingidos, segurança e eficácia”, explica.

A professora, que faz parte do grupo de trabalho para planejamento da campanha de vacinação contra o coronavírus do Ministério da Saúde, aponta, no entanto, que as vacinas que utilizam o método de RNA mensageiro, como as da Pfizer e da Moderna, necessitam de refrigeradores com temperatura de 70 graus abaixo de zero, o que pode tornar a distribuição difícil, ainda mais num país grande como o Brasil.

Já as vacinas que utilizam os métodos de vetores virais e de vírus inativados, como as da Sinovac e de Oxford, necessitam de rede de refrigeradores com temperatura de até 20 graus abaixo de zero, tecnologia que o Brasil já possui.

Com relação aos prazos de chegada das vacinas ao mercado brasileiro, Ethel Maciel explica que o grupo de trabalho do Ministério da Saúde trabalha com a ideia de aplicação das vacinas já em fevereiro. Segundo ela, já há uma garantia de 20 milhões de doses, pelo acordo firmado entre o governo brasileiro para compra da vacina da AstraZeneca/Oxford. “No início do ano, já poderíamos vacinar alguns grupos. Tudo depende dos resultados e da liberação por parte da Anvisa. Mas é importante superarmos as confusões políticas para podermos contar com a vacina da Sinovac. Com ela, a gente teria mais doses disponíveis”, aponta a doutora. 

O secretário estadual da Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, afirmou que ainda é preciso ter calma com relação ao prazo da chegada das vacinas ao Estado. “A pandemia não acabou, temos pelo menos mais 8 meses de resistência até ter o processo de vacinação alcançando os primeiros grupos prioritários. Seguiremos convivendo com o uso de máscaras, protocolos sanitários, isolando sintomáticos e testando/monitorando amplamente a população”, afirmou nas redes sociais.

Em entrevista à CBN Vitória no mês de outubro, Nésio confirmou que a meta do governo estadual é vacinar até 1 milhão de pessoas nos primeiros 30 dias após a liberação da vacina. Além disso, o ES já se prepara logisticamente para uma vacinação em massa, tendo comprado 6 milhões de seringas para aplicação dos imunizantes.

Uma em cada 20 mortes no ES desde o início da pandemia foi causada pela Covid

 Dados consolidados do Portal da Transparência do Registro Civil indicam que, de abril até outubro, 17.765 pessoas morreram no Estado, sendo 3.850 por coronavírus

A pandemia do coronavírus trouxe novos paradigmas para a saúde pública em todo o Brasil e, no Espírito Santo, não foi diferente. Dados do Painel Covid-19, divulgados pelo governo estadual, indicam que, até esta terça-feira (17), 4.037 pessoas morreram no Estado em decorrência da infecção. A doença é, atualmente, responsável por cerca de 20% dos óbitos registrados em território capixaba.

De abril deste ano, quando foi confirmada a primeira morte por coronavírus no Estado, até outubro, 17.765 pessoas morreram no Espírito Santo, conforme dados consolidados no portal da Transparência do Registro Civil. Desses óbitos, 3.850 foram provocados pela Covid-19, o equivalente a 21,6%. Isso significa dizer que aproximadamente quatro em cada 20 mortes são causadas pelo coronavírus.

Os números da pandemia ajudam a inflar as estatísticas e fazem do acumulado de óbitos de janeiro a outubro de 2020 o pior desde 2015. Foram, até o mês passado, 23.924 mortes no Espírito Santo. Para efeito de comparação, de 2015 a 2019, o maior número de óbitos registrados havia sido no ano passado, com 20.981 registros.

O acumulado de janeiro a setembro já havia batido recordes. Do mês passado para esse, porém, o número de mortes caiu. Em setembro, foram 2.374 óbitos no Espírito Santo. Já em outubro, a quantidade de registros foi de 2.191, o menor número desde abril, quando houve a primeira morte desde o início da pandemia, em fevereiro.

Já com os dados  do Painel Covid-19, do governo do Estado,  é possível estabelecer um perfil médio dos óbitos causados pela doença.

Perfil dos óbitos pela Covid-19 no Espírito Santo – Crédito: A Gazeta / Rafael Carelli

É preciso, no entanto, analisar com calma os dados. As porcentagens de quem não tem nenhuma comorbidade, por exemplo, são relevantes. Esta parcela dos óbitos por Covid representa 29% do total, ou seja, 1.192 pessoas que não tinham nenhum fator de risco preexistente.

Pablo Lira, diretor de Integração do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), aponta que as características do perfil médio do óbito por coronavírus no Espírito Santo são comuns não só ao Estado, mas ao mundo todo. “As áreas urbanas concentram a maior parte das infecções e das mortes pela característica da vida na cidade. Densidade demográfica, maior número de pessoas num mesmo domicílio, ritmo de vida acelerado”, explica.

O estilo de vida nas grandes cidades pode afetar, ainda, o sistema imunológico e outras áreas da saúde do cidadão. Pablo Lira afirma que, esses fatores, em conjunto, podem fazer com que o coronavírus seja mais letal em quem vive nos meios urbanos, como mostram os dados.

No Espírito Santo, os números absolutos de mortes causadas pelo coronavírus se concentram nas grandes cidades. Vila Velha está em primeiro lugar, com 565 óbitos, seguida por Serra (564),  Cariacica (508) e Vitória (480). O ranking segue com municípios do interior do Estado.

Pablo Lira esclarece que, mesmo não estando perto da Grande Vitória, alguns municípios são polos de suas regiões. “Vemos o fenômeno se repetir no interior porque algumas cidades concentram esse estilo de vida urbano, o mesmo que acontece na Capital. Um adensamento de pessoas que aumenta o número das infecções e óbitos”, detalha Pablo.

Assim, Cachoeiro de Itapemirim aparece em quinto no ranking de números absolutos de óbitos causados pelo coronavírus no Espírito Santo. O município do Sul do Estado registrou 195 mortes até esta terça-feira, seguido por Linhares (143) e Colatina (141).

Embora a Covid-19 esteja em evidência devido à pandemia, outras doenças também continuam provocando muitas mortes no Estado. Para efeito de comparação, neste ano, 3.388 morreram no Espírito Santo em decorrência da pneumonia, o que equivalente a cerca de 14% dos óbitos de 2020. Outras 2.175 (9%), depois de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), e 1.799 pessoas morreram após infartos (7%).

Estatísticas da Covid-19 no Espírito Santo – Crédito: A Gazeta / Rafael Carelli

Além da prevenção: alimentação pode ser aliada na luta contra o câncer de próstata

Pesquisas indicam que o estilo de vida pode aumentar ou diminuir os riscos de doenças degenerativas; os alimentos, porém, não impedem ou curam a doença

Passado o mês de outubro, que encampou a mensagem da prevenção, dos cuidados e riscos do câncer de mama, novembro chega com proposta parecida. As campanhas que aparecem no mês, intitulado “novembro azul”, trazem à tona o assunto do câncer de próstata. Mas se engana quem acha que os cuidados que devem ser tomados com relação à doença se limitam aos exames de rotina.

A prevenção a vários tipos de doença, não somente os cânceres, pode começar muito antes dos exames e das consultas médicas. O estilo de vida que a pessoa leva pode ser decisivo na proliferação ou não de um câncer. E a alimentação é parte vital deste estilo de vida, ocupando espaço importante nos debates de médicos e nutricionistas sobre prevenção de doenças.

Segundo o “Guia alimentar para a população brasileira”, os alimentos in natura são os mais indicados na prevenção de câncer. O guia, elaborado pelo Ministério da Saúde  em parceria com o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP) afirma que uma alimentação equilibrada é parte importante de um estilo de vida que possa ser considerado saudável.

O que vai no prato pode ser um grande aliado na luta contra diversas doenças, e o câncer de próstata é uma delas. A nutricionista Roberta Larica explica que a dieta mais comum no Ocidente contém alimentos que não têm, em sua composição, valor nutricional relevante para a saúde. “São alimentos processados, açúcar, sal, pesticidas, alimentos modificados, carboidratos de alto índice glicêmico, com baixo valor nutricional, baixo teor de fibras e pouca água”, explica a nutricionista.

Há, ainda, outros fatores envolvidos no estilo de vida que podem contribuir para que o sistema imunológico fique mais vulnerável. O uso de medicamentos em excesso, poluição, fumo, sedentarismo e álcool favorecem, segundo a nutricionista, a presença de inflamação e acidez. Tudo isso compõe um ambiente propício para o desenvolvimento de doenças degenerativas.

O guia alimentar para a população brasileira considera alimentos in natura aqueles com o mínimo de interferência externa possível, como arroz, feijão, mandioca, batata, legumes e verduras de hortifruti, por exemplo. Os legumes em solução de água e sal, vinagre ou em conserva devem ser evitados, segundo o documento, pela grande quantidade de sódio presente nas composições.

Os alimentos naturais vencem os alimentos ultraprocessados quando se fala em prevenção de doenças. A falta de fibras nos alimentos mais “artificiais” é prejudicial para a saúde. As fibras e vitaminas são essenciais para diminuir o risco de cânceres.

Além disso, verduras e legumes oferecem vários tipos de antioxidantes, que também são importantes para a prevenção do câncer e de outras doenças. O guia do Ministério da Saúde aponta as verduras e legumes, inclusive, como alternativa às carnes vermelhas. Segundo estudos, o excesso de carnes vermelhas, ricas em gordura saturada, pode aumentar o risco de câncer de intestino e doenças cardiovasculares.

DIAGNÓSTICO PRECOCE AINDA É O MELHOR CAMINHO

Dados do Instituto Nacional do Câncer apontam que o câncer de próstata é o tipo da doença mais registrado em 2020, com mais de 65 mil casos relatados. O câncer de próstata foi, ainda, o segundo que mais causou mortes em homens no Brasil no ano de 2018, com quase 16 mil óbitos.

Os cuidados que se deve tomar para prevenção do câncer de próstata são divulgados ano após ano e, ainda assim, as notificações de novos casos continuam ocupando as primeiras posições dos rankings do câncer no Brasil.

O urologista Henrique Tótola explica que, ainda que todos os homens estejam sujeitos a ter a doença, o diagnóstico precoce do câncer na próstata ainda é o melhor caminho para um tratamento satisfatório. “Quanto maior a idade, maior o risco. Sabemos também que pacientes com fatores de risco como familiares com câncer de próstata, obesidade e/ou raça negra, tem que tomar ainda mais cuidado e procurar atendimento mais cedo”, explica o médico.

A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) realizou estudo que aponta que os cuidados com a saúde masculina pioraram na pandemia. Segundo a instituição, 55% dos homens acima de 40 anos deixaram de fazer alguma consulta ou tratamento médico em função do surto da Covid-19. Além disso, apenas 33% dos entrevistados relataram que vão regularmente ao urologista e 3% disseram que não iriam em um especialista da área de jeito nenhum.

Henrique Tótola explica que, culturalmente, os homens têm um mau hábito de não cuidar bem da saúde, e no caso do câncer de próstata, isso é um fator de grande risco. “O câncer de próstata é a segunda maior causa de mortalidade de origem oncológica no homem e, considerando que o tratamento nas fases iniciais alcança taxas de cura de até 90%, precisamos fazer diagnóstico mais precoce possível. Por isso é necessário procurar o Médico Urologista de sua confiança para realizar o exame preventivo”.

O recado do urologista vai de encontro ao que diz a nutricionista Roberta Larica. Ao comentar sobre os cuidados com a saúde, afirma que o sinal de alerta só se acende depois que a doença já foi detectada. “Acredito que a grande maioria dos homens buscam a nutrição como aliada quando a saúde já deu um sinal vermelho. Precisamos conscientizar de que a prevenção começa pela mudança nos nossos hábitos de vida ao longo dos anos, e é o melhor caminho”, afirma a nutricionista. 

Relacionamentos iô-iô: como as idas e vindas podem prejudicar a vida de quem se envolve

Relações instáveis, com términos constantes e conflitos que não se resolvem podem deixar marcas difíceis de serem superadas

Você já teve algum relacionamento iô-iô? Daqueles que vão, voltam, vão de novo, não engatam. Esse tipo de relação é mais comum do que parece e pode ter efeitos negativos bem fortes na vida dos envolvidos. Muitas das vezes, no entanto, sair desses relacionamentos é uma tarefa difícil e que pode exigir mais do que apenas a força de vontade.

Essa é a história de L.M. Ela prefere não se identificar e crê que tudo pelo que passou pode ajudar outras pessoas a encontrar a saída para as relações iô-iô que acabam se tornando abusivas e desgastantes. À época com 21 anos, L.M. se envolveu com um colega de faculdade.

Namorando pela primeira vez na vida, não tinha referências de relacionamentos. L.M. conta que, em várias situações no namoro, pensou estar diante de conflitos normais. Muito próxima do ex-namorado, passava quase todo o tempo junto dele. Aos poucos, porém, o relacionamento iniciou o processo de iô-iô. 

“Desde o início do namoro, ele deu sinais de que não era uma pessoa estável. Como eu queria que o relacionamento desse certo, eu deixei de lado. Os problemas viraram uma bola de neve, o relacionamento se tornou abusivo”, conta L.M.

Em seguida, o que veio foram as instabilidade no relacionamento. Três anos de idas e vindas e conflitos entre L.M. e o ex-namorado. Segundo ela, quem sempre colocou os pontos finais no relacionamento foi ele. “Sempre por motivos muito bobos, tudo era uma ameaça, tudo era motivo pra não estar junto. Todas as situações que aconteciam na vida dele, tendo ou não meu envolvimento, era culpa minha, era minha responsabilidade”.

O maior desgaste que L.M. relatou entre ela e o ex-namorado foi o fato dele imputar a ela responsabilidade pelo que ocorria na vida dele. Por ser, segundo L.M., uma pessoa instável, acabava não sabendo lidar com os problemas na própria vida e descontava na ex-namorada. A situação, das idas e vindas, só piorava o panorama.

L.M. conta que se afastou de amigos e a família, inclusive, não sabe dos ocorridos na relação até hoje. Insustentável, o relacionamento trouxe mazelas psicológicas e até físicas para L.M.

“É aquela coisa que a gente lê, que a gente sabe como acontece. A pessoa te xinga, te ofende e depois pede desculpas, fala que vai melhorar, fica tudo maravilhoso, depois acontece tudo de novo”, explica.

O ponto final no ciclo abusivo, de idas e vindas e de conflitos intermináveis, foi colocado por L.M. Ela decidiu colocar fim ao relacionamento. Teve ajuda no processo de tomar essa decisão, com conselhos de amigos e pessoas próximas. Ainda que afastada do círculo de amizade que tinha antes, sempre ouviu dos amigos que as situações que aconteciam no namoro não estavam certas.

“Muitas vezes, meus amigos alertavam que tinha algo de errado. Como eu queria estar junto, ignorava, achava que era bobagem” L.M.

A psicóloga Marcelle Paganini explica que, apesar de comum, esse tipo de relacionamento iô-iô tem que ter um olhar mais maduro.Muitas pessoas se pegam presas a sensações do passado e é justamente esse ponto o mais crucial: entender que o que está no passado pode não voltar a ocorrer no presente. Enfim, é preciso ser honesto consigo mesmo e priorizar a saúde emocional”, explica a especialista. 

Histórias como a de L.M. são encontradas aos montes. J.R., outra mulher que passou por essa situação e também prefere não se identificar, diz que essas relações afetam todas as esferas da vida.

Ela explica que a confiança que existe no relacionamento é sempre “zerada” quando há os términos e voltas seguidas. “Foram 12 anos de idas, vindas, encontros, reencontros. Você acaba reabrindo feridas do passado e tendo que se remontar por algo que não vale a pena”, conta J.R.

J.R. revela que o relacionamento pelo qual passou guarda semelhanças com o relato de L.M. “Nós, as mulheres, sempre somos vistas como tendo um papel de cuidar do homem, de ser a mulher da vida dele. Nós não temos essa responsabilidade”, explica.

Assim como o ex-namorado de L.M., o companheiro de J.R. à época também colocava sobre ela as responsabilidades de tudo. Segundo J.R., o papel da namorada ou esposa é diferente do papel da mãe. Não cabe o papel de ser a solução dos problemas da vida do outro.

Marcelle Paganini conta que as idas e vindas dos relacionamentos pode causar, além das tristeza e afastamento dos amigos, um efeito grave na autoestima. “Além de ser carregada de muita instabilidade, a todo momento na relação coloca-se em xeque as habilidades emocionais dos envolvidos. Em casos mais graves, observa-se sintomas depressivos, de ansiedade e até pânico”.

O processo de encerramento dos relacionamentos iô-iô pode ser doloroso, ainda que necessário. L.M. conta que, no caso dela, quando decidiu terminar, acabou se aproximando novamente dos amigos e entendendo o que aconteceu na relação. O processo todo deixou uma lição para ela. “Isso vale como um recado pra gente se priorizar, se amar, se colocar em primeiro lugar. Nunca se anular e deixar sua felicidade e sua vida de lado em prol da vida do outro”, conta.

J.R. também aponta que o término do relacionamento instável, para ela, significou uma nova perspectiva de vida. Ainda assim, relata o final da relação como difícil e compara o processo ao luto.

“Me fez mal, mas a vida segue. As decepções não matam, ensinam a viver” J.R.

Para ela, o olhar de amigos e parentes sobre a relação é importante. A percepção das pessoas próximas vem sem interferências emocionais, sem envolvimento na relação iô-iô.

Ela afirma ser necessária cautela nas decisões. “Isso cabe aos dois que estão na relação. Eu não posso indicar nada a alguém. A pessoa tem que pensar se quer estar disponível para esse tipo de relação, se tem paciência ou vontade disso”, diz J.R.

O conselho faz coro com a recomendação da psicóloga Marcelle Paganini. Para a especialista, é importante que, aos primeiros sinais de instabilidade na relação, a pessoa busque ajuda externa. “No fim das contas, o importante é não ficar preso em ciclo vicioso por tempo suficiente para um adoecimento”, conclui.