Eleições 2020 acontecem em momento inédito, diz Samanta Nogueira

Em um ano marcado por distanciamentos, devido à pandemia da Covid-19, grandes eventos foram cancelados no mundo inteiro. No Brasil, a chamada “festa da democracia”, ainda que com nova data, continua marcada no calendário de 2020. As eleições acontecem em um período inédito no país e foram tema da palestra com Samanta Nogueira, editora de política de A Gazeta, na manhã desta terça-feira, 13.

Os residentes do 23º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta tiveram a oportunidade de conhecer a trajetória de Samanta e saber como será o trabalho feito pela empresa nas eleições deste ano. Na conversa intitulada “A cobertura das eleições: dicas para repórteres de primeira viagem”, a jornalista ressaltou a importância de se estar atento às mudanças provocadas nas legislações eleitorais e deu detalhes de como a editoria vem se planejando, desde 2019, para conseguir realizar a cobertura de norte a sul do estado.

A pandemia colocou em risco a realização das eleições deste ano, mas depois de uma decisão do Congresso Nacional, foi aprovado o texto-base da proposta de emenda à Constituição (PEC) 18/20 que permitiu adiar o pleito de outubro para 15 de novembro. Mesmo com a votação garantida, a pandemia, o fim das coligações de vereadores e as campanhas mais focadas no digital tornam o momento único na cobertura jornalística.

Com o isolamento social, recomendado pelas instâncias médicas, e sem comícios, o “corpo a corpo” entre os candidatos ficou mais difícil. Nem todos os partidos possuem tempo na rádio e TV, e o fim das coligações gerou um grande número de candidatos a prefeito buscando evidenciar suas siglas. Segundo Samanta, a internet é o espaço onde os partidos podem conseguir chegar aos eleitores e, por isso, deve estar ainda mais presente no radar de apuração dos jornalistas este ano.

Campanhas digitais e fake news

Com as campanhas no virtual, é importante estar atento às fake news e à desinformação. Para isso, parte da editoria de política de A Gazeta está dedicada a analisar os conteúdos publicados pelos candidatos no meio digital. Dentro do “Passando a Limpo”, o jornal tem as diretrizes para analisar e sinalizar o que é compartilhado nas redes, podendo etiquetá-los como comprovado, enganoso, falso ou sátira, por exemplo. Desde 2018, o jornal também integra o Comprova, um projeto sem fins lucrativos composto por jornalistas de 28 veículos de comunicação brasileiros que  busca descobrir e investigar informações enganosas sobre políticas públicas divulgadas na internet.

Ênfase e pilares da cobertura

“É importante destacar e relembrar a importância da democracia” – Samanta Nogueira

O trabalho deste ano está baseado em três pilares: prestar serviço ao eleitor para que ele vote, checar as informações e promover iniciativas no âmbito digital. Samanta diz que o objetivo é contribuir para o debate saudável e dar espaço a todos, evitando a polarização, promovendo a pluralidade e desmistificando informações falsas. Para alcançar todos esses pontos, uma série de iniciativas foi lançada visando atrair a atenção do leitor e dar a ele a possibilidade de receber os conteúdos de diferentes formas e em formatos variados.

Cobertura 100% digital e novas formas de criar conteúdo

“Temos que estar em todos os canais onde as pessoas estão”

Com as inovações promovidas pelo TDigital,  projeto da Rede Gazeta que possibilitou melhor entendimento da audiência e a migração do impresso para a web, e as mudanças advindas com a pandemia, a cobertura pela primeira vez na história será totalmente digital. Redes sociais como Instagram, Facebook, Twitter e Whatsapp continuarão a ser utilizadas. Os eleitores poderão receber também as informações pelo Telegram, uma novidade, segundo Samanta: “Enxergamos que é uma ferramenta que as pessoas também usam muito, então estaremos presentes lá.” Além disso, haverá a produção de podcasts, vídeos explicativos e ferramentas de aproximação do eleitor com as propostas dos candidatos que mais combinam com seu perfil, como pode ser visto aqui.

Debates e a democracia

Com o grande número de candidatos por vaga de prefeito e com a pandemia ainda presente no país, a realização dos debates não é uma tarefa fácil, comentou Samanta. Reunir todos eles, junto com as assessorias, em um mesmo espaço, pode gerar aglomeração, o que iria contra as orientações médicas sobre a Covid-19.

“O debate é um momento único onde os candidatos conversam. É uma troca que não acontece em outro momento da eleição. Através das perguntas é que você conhece o candidato. Esse momento é muito importante para a democracia. Não ter o debate é muito ruim. É um momento que aproxima. Mas é um caso específico essa condição para não ter o debate”, diz.

No ano em que a Rede Gazeta completa 92 anos, a cobertura totalmente digital não deixa de ser histórica. O desafio, conta Samanta, se torna ainda maior quando ela recorda a tradição de A Gazeta na cobertura da política e economia capixaba:

“Na virada dos anos 2000, quando o crime organizado era forte, A Gazeta, com a cobertura política foi importante para fazer o estado virar a página”, diz. Foi através da cobrança e dessa cobertura feita pelo jornal, noticiando a violência que aterrorizava os capixabas, que o Espírito Santo pôde sair dessa situação e do topo do ranking das regiões mais perigosas do país.

Essa responsabilidade também será compartilhada com os 12 residentes que, em breve, estarão na redação, ajudando na cobertura deste ano. Para auxiliar os focas, Samanta deu alguns conselhos importantes durante a palestra: estar ligado e ter leitura atenta nas notícias do estado, buscar se informar sobre quem são as figuras políticas capixabas, escutar mais de uma fonte, buscar especialistas para entender os assuntos, analisar os dados e buscar aquilo que ainda não foi publicado e que pode render uma pauta.