Álvaro e a caixa mágica

A voz empostada, os movimentos suaves e o tom de voz formal nas palavras de Álvaro Guaresqui parecem não combinar com os jovens da sua época. Aos 24 anos, o capixaba de Águia Branca destoa do padrão de comportamento esperado para a idade não só no modo de se expressar, mas também naquilo que almeja. Enquanto a maioria prioriza o imediatismo das redes sociais, Álvaro persegue aquilo que descreve como vocação ou chamado: produzir conteúdo para a TV, fazer telejornalismo.

Nos encontramos com um propósito inusitado: entrevistar um ao outro, dois completos desconhecidos até este mês. Passo a saber da sua existência, e ele da minha, a partir da divulgação da lista de aprovados da Residência da Rede Gazeta. Ele aparenta não se intimidar com a webcam. O que é compreensível após quase dois anos de pandemia, ou de alguém acostumado a estar em frente às câmeras. 

Álvaro Guaresqui participa da 24ª edição do Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta

Nas redes sociais, Álvaro projeta sua imagem tal qual um âncora de telejornal em construção. Prestes a se formar em jornalismo, publica bastidores no estúdio, gravações externas e posa com microfone em punho. Apesar das aparências, ele rejeita o estereótipo e demonstra ser um entusiasta do formato para além dos holofotes. Diz que estaria realizado em qualquer posto de produção ou reportagem. “A escola forma o profissional, o jornalismo forma o cidadão”, resume.

A maneira que Álvaro encara o papel social da televisão é resultado do contexto familiar. Para incentivar o senso crítico, os pais professores conciliavam as horas de desenho animado com a programação jornalística. Assim, a TV sempre fez parte da sua vida, e cursar jornalismo deu sequência a esse percurso. Quando perguntado sobre a origem do interesse, ele é enfático ao afirmar que a TV está além do querer, que não havia outro caminho. Um chamado ou vocação.

Geraldo Nascimento conta rotina para se manter bem informado

Editor Executivo de Produção da Rede Gazeta conversou com participantes da Residência em Jornalismo na primeira semana do curso

“Minha dieta de mídia é ouvir CBN o dia todo, acho que só na minha mesa tem um radinho que fica ligado”. Essa é uma das estratégias que o jornalista veterano Geraldo Nascimento utiliza para se manter bem informado.

Ele conta que sua “dieta de mídia” começa antes das 6h quando se atualiza nos grupos de jornalismo da Rede Gazeta. Depois, lê as principais capas dos veículos nacionais e acessa notícias pela internet. Além disso, está atento aos fatos relevantes do dia graças ao radinho que fica na sua mesa de trabalho.

Na última terça-feira (14) os residentes de Jornalismo da Rede Gazeta tiveram um encontro virtual com o Editor Executivo de Produção do Grupo, Geraldo Nascimento. O jornalista compartilhou os detalhes da sua rotina na redação, da produção para os telejornais e deu dicas para os candidatos a focas se manterem antenados para a atuação profissional.

Geraldo Nascimento já foi residente e hoje é Editor Executivo de Produção da Rede Gazeta (Foto: Reprodução/Globoplay)

“O rádio é um veículo muito bom para notícias de última hora, então é bem provável que chegue no rádio primeiro. Se bobear, quando entrar o plantão na GloboNews a CBN já está dando a repercussão”, brinca.

Com o tema “Dieta de informação: como ser bem informado em tempos de overdose de conteúdo”, a palestra apresentou aos residentes algumas estratégias para lidar com o excesso de informação no cotidiano.

Mesmo que a exigência do ofício imponha um ritmo intenso de notícias, o Editor Executivo de Produção da Rede Gazeta é realista: é impossível ler, ouvir e assistir tudo. É preciso gerenciar o tempo, sobretudo nas redes sociais.

Para isso, Geraldo indica o TweetDeck para acompanhar assuntos do seu interesse. A plataforma do Twitter permite que o usuário selecione filtros personalizados e monitore diversas palavras-chave ao mesmo tempo.

O jornalista também assina newsletters de grandes portais e canais especializados, que são boletins informativos distribuídos por e-mail. Para ele, essa é uma forma objetiva de se manter bem informado. 

“Newsletter costuma ser um bom ponto de partida. É uma curadoria de alguém que eu confio e vai me entregar o mais importante. Para assuntos ligados à tecnologia eu olho no ‘Meio’ primeiro, e a partir dali busco outro site”. Meio é uma newsletter que apresenta o resumo das matérias dos principais veículos do país, assinada pelo jornalista Pedro Dória.

Em 2004, Geraldo Nascimento também foi residente em Jornalismo da Rede Gazeta. Ao final do curso, recebeu uma proposta temporária para trabalhar na TV e continua até hoje. Teve passagem no rádio, impresso e site. Foi repórter da madrugada, produtor do Bom Dia ES, âncora na CBN Vitória. Hoje, é Editor Executivo de Produção. 

A 24ª edição do Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta conta com 10 participantes do Espírito Santo, de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Santa Catarina.

Na primeira fase da Residência participantes acompanham os eventos pela internet

Colecionadora de revistas antigas e péssima jogadora de xadrez

O perfil jornalístico pode ser uma das formas mais interessantes de conhecer alguém ou algum momento de sua trajetória. O olhar da pessoa de fora, que escreve, ajuda a compreender pontos e complexidades. Por isso, começo este texto perfil com certa dificuldade e a impressão de que seria mais fácil ser narrada por outro alguém do que por mim mesma. Não me parece confortável apontar minhas qualidades e meus defeitos assim, publicamente.

Para ajudar, recorri a algumas amigas para saber que visão tinham de mim. Os adjetivos passaram por “linda” e “calma”, o que certamente não indica isenção e nem me ajudou no processo. Diante disso, a melhor alternativa é partir do básico: me chamo Ana Caroliny Ritti. Carol na infância. Ritti na escola (para diferenciar das outras mil Anas). Ana entre amigos. Ana Ritti na faculdade. (E ainda Ana Rita na época em que trabalhava em um mercado atendendo clientes, que não liam o último nome do crachá até o fim.)

Nasci no interior do Paraná, em uma cidade que pouco conheço (Francisco Beltrão), mas próxima ao município onde minha família vivia (Dois Vizinhos) naquele ano de 1995. Foi lá que aprendi a andar, ler, escrever e todas as coisas comuns dos primeiros anos da infância. Até que, no ano 2000, meus pais decidiram se mudar para Florianópolis, em Santa Catarina, em busca de novas oportunidades. Entre separações, mudanças e recomeços ao longo dos anos, é na capital catarinense que vivo até hoje.

Crescer em uma cidade com uma universidade federal com certeza me fez ter o objetivo de estudar nela, no caso, a UFSC. Fracassei em vestibulares e cheguei a iniciar outras graduações, até ser aprovada em Jornalismo, em 2016. Na época, o curso ainda não era uma certeza. Entrei com interesse no fotojornalismo e lá fui descobrindo outras áreas bacanas, como a rádio e a redação. Com o último ano da faculdade em meio a uma pandemia, a sensação é de que eu ainda sou uma aluna de Jornalismo. Por isso, o Curso de Residência acaba tendo uma cara de transição oficial de estudante para jornalista formada.

Fora do jornalismo, sou uma grande usuária passiva de redes sociais, gastando horas rolando o feed e interagindo com nada. Gosto de assistir a séries e tirar fotos de coisas aleatórias, além de colecionar DVDs (da época que os streamings não dominavam) e revistas de adolescentes dos anos 90 e 2000, pela nostalgia. Além disso, tenho descoberto novos interesses como fazer bolo e jogar xadrez. Por enquanto, ainda sou um desastre nos dois.

Explorando sebos por aí… (antes da pandemia!) Foto: arquivo pessoal

Eduardo Fachetti discute detalhes da “Rede de Valores”

Nesta segunda-feira (13), os residentes acompanharam mais uma palestra do 24° Curso de Residência em Jornalismo. O palestrante da vez foi Eduardo Fachetti, gerente de Relações Institucionais da Rede Gazeta. O profissional trabalhou com a temática: “Rede de Valores e um Olhar para o Futuro”. A conversa aconteceu virtualmente com a presença dos 10 residentes.

Na discussão foram apresentados tópicos da “Rede de Valores” da Rede Gazeta – Foto/Reprodução: Internet

Durante a palestra, Fachetti trouxe aos residentes uma análise sobre o documento: “Rede de Valores”, o código de ética da Rede Gazeta. O arquivo traz diversas regras e recomendações que têm como objetivo guiar o comportamento dos funcionários no trabalho e na relação entre as partes envolvidas com a empresa, desde clientes até leitores e espectadores.

O documento colabora com as funções realizadas pelos jornalistas para a inovação dos conteúdos, já que conta com diversos tópicos sobre comportamento nas redes sociais, por exemplo, demonstrando atenção com as novas ferramentas do jornalismo.  Atualmente, os profissionais de comunicação precisam estar atentos às novidades e às questões de diversidade que são pautadas. Segundo Fachetti, a criação de novas formas de contar histórias e a responsabilidade com tudo que é diverso são dois dos principais desafios do jornalismo atual.

Além disso, Eduardo Fachetti levantou diversos destaques do documento, por exemplo, como deve ser a postura dos profissionais fora da redação e perante a diversas questões do dia a dia, como o uso das redes sociais, posicionamentos e reputação: “Nós, jornalistas, somos muito cobrados, pois somos vistos como porta-vozes da sociedade. Precisamos estar sempre atentos”, disse o gerente de Relações Institucionais da Rede Gazeta. 

Outro ponto salientado por Fachetti foi em relação aos conteúdos específicos produzidos pelos profissionais da Rede Gazeta. No jornalismo, estamos o tempo todo tratando de diversos assuntos e, às vezes, podemos esbarrar em alguma temática delicada, como as coberturas criminais. Para cada tema específico existem algumas regras sobre o modo correto para a divulgação das informações: “Devemos olhar para o fato que vamos narrar com muita responsabilidade”, acrescenta Eduardo.

Dicas valiosas

Durante as quase duas horas de conversa, Fachetti ainda deu algumas dicas aos residentes de como se tornar um bom profissional: “Devemos saber a hora de questionar e a hora de se calar”. Por fim, Eduardo Fachetti salientou a grandiosidade da oportunidade que é ser residente da Rede Gazeta aos recém-formados: “Vocês estão no estágio um para começar uma grande carreira”.

A fase à distância do 24° Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta começou dia 10 de setembro. A partir de 13 de outubro, os residentes iniciam a fase presencial do curso e irão produzir conteúdos direto da redação da Rede Gazeta.

O comunicar sensível de Matheus

Empatia, do grego “empatheia”, significa “imaginar-se no lugar de outra pessoa”. Uma palavra tão simples mas que significa tanto. E, posso dizer com segurança, o que não falta em Matheus Metzker é empatia e humanidade.

Um capixaba de 22 anos que viveu 15 anos da vida em uma cidadezinha no interior de Minas Gerais chamada Teófilo Otoni. Voltou para o Espírito Santo em 2017 com um objetivo muito especial: cursar jornalismo. Uma conquista tão importante para o garotinho de 8 anos que apresentava programas de TV sozinho no quarto e sonhava em ser jornalista desde tão novo.

Antes de nossa conversa, estava pensando se seria legal, até porque não nos conhecíamos. E quer saber? Que conforto. Matheus é daqueles que te deixa à vontade e transforma uma entrevista em algo leve e interessante. Além da “conversa-conforto”, em meio a tantos momentos ruins que tive durante a semana, me identifiquei em tantas questões… parecia que eu estava me escutando.

Ainda sobre estar disponível para o próximo, Matheus me contou algo que aconteceu há pouco tempo: “Eu estava no ônibus e um senhor começou a me contar algumas coisas… logo comecei a prestar muita atenção no que ele tinha pra dizer. Às vezes ninguém quis ouvi-lo, mas eu gosto de me entregar e ouvir as histórias”. Quantas pessoas você conhece que fariam isso, ao invés de colocar os fones de ouvido? Certamente, Matheus é especial e deixa marcas na vida das pessoas com tamanho cuidado.

Matheus, assim como eu, acredita no jornalismo social: “Jornalismo é alicerce para dar voz para a sociedade”. Tudo fez mais sentido quando ele contou do trabalho de conclusão de curso (TCC) que produziu sobre os sobreviventes capixabas da Covid-199. Que sensibilidade! Conversar sobre assuntos tão delicados e, principalmente, tristes, por ainda vivermos a situação, é para poucos. Inclusive para o Matheus.

Quando perguntei sobre algum momento importante na produção do livro que resultou do TCC, ele me contou a história de um médico intensivista: “O médico me disse que tinha que treinar os conceitos de vitória e derrota na medicina, porque ele quase não se lembra de quem salvou, mas se recorda bem sobre as 19 pessoas que morreram nas mãos dele”. E eu, que imaginei fazer uma entrevista simples com o Matheus, fiquei refletindo muito emocionada com toda a temática e a sensibilidade de um jornalista de apenas 22 anos.

O recém-formado é uma pessoa tranquila, dá para notar. Gosta de passatempos calmos, como ir à praia e se reunir com a família e amigos. Comentou sobre sua sobrinha, pela qual tem um carinho especial, sobre a boa relação com todos e a saudade diária da mãe. Maria, mãe de Matheus, vive a quase 500 quilômetros do filho… aquela falta que amarga, sabe? Porém, são desafios da vida. Se, para realizar os sonhos que almeja, Matheus precisar estar distante fisicamente, ele enfrenta.

Quando questionado sobre o que mais gostava no jornalismo, disse que, ao longo do curso, muita coisa mudou: “Vi mais coisas e gosto do online para poder escrever. Mas…TV é um sonho”. Aquele mini apresentador de oito aninhos ainda sonha em estar em frente das câmeras falando para milhares de pessoas. 

Além de ser tranquilo e sensível, Matheus é consciente que há muito o que fazer até “chegar lá”: “Ainda tenho caminhos para trilhar, preciso me preparar mentalmente, pois sou ansioso e ficar em frente às câmeras não é tão fácil assim”. Tenha calma, Matheus… a gente só está começando!

Geralmente, nos definir é um pouco difícil, nos perdemos nas nossas próprias virtudes, mas Matheus se definiu, e muito do que foi falado, eu captei nos detalhes da nossa conversa: “Eu sou tranquilo. Não sou muito otimista, mas acredito que existam algumas migalhas de otimismo em mim e isso me permite sonhar alto”. O grande apoio e suporte de Matheus são seus familiares. São eles que mantêm os sonhos dele vivos e a chama, acesa.

Aquele menininho que apresentava programas de auditório sem o auditório tornou-se um homem sensível e com muita empatia. Soa repetitivo dizer que Matheus é empático, mas, em tempos como os atuais, essa característica precisa ser destacada. Poucas vezes vi o cuidado que Matheus tem com o próximo em outro lugar. 

Quando conversamos sobre sonhos, ele me disse algo que quase nunca penso: tentar ter equilíbrio em todas as esferas da vida. Matheus quer estar alinhado com todas as partes dele: “Equilibrar família, vida profissional e relacionamentos para que eu seja feliz por inteiro”. Isso me fez refletir, afinal, do que adianta o trabalho perfeito sem a família para compartilhar?

Fiquei pensando o que poderia identificá-lo, ele me contou que tudo relacionado ao Silvio Santos faz seus conhecidos lembrarem dele. Mas quer saber? O que me faz identificar o Matheus, com o pouco que pude perceber, é que com certeza ele será uma das pessoas mais simpáticas e sensíveis de onde estiver. Mas é claro que se eu puder identificá-lo como fã do Silvio Santos,  assim como seus amigos o chamam,  seria mais legal ainda!

Saulo Ribeiro: apenas um rapaz de Inhanguetá

Um amante do rap e do sertanejo. Um cara que preza por sua família. Um jogador de League of Legends. Um apaixonado por rádio. No meio de todas essas coisas, encontra-se Saulo Ribeiro, um autêntico “capixaba da gema” que nasceu num domingo ensolarado, no dia 28 de novembro de 1999.

Com suas raízes fincadas em Inhanguetá, bairro localizado na região oeste de Vitória, Saulo tem pelo seu ambiente o mesmo sentimento que Arlindo Cruz teve ao escrever a música “Meu Lugar”.

As canções, por sinal, é algo que está presente na vida dele desde seus três anos de idade, quando ganhou um pequeno rádio e, enquanto a mãe tinha que trabalhar, encontrava na Rádio Litoral FM a sua brincadeira favorita. Desde então, esse “triângulo amoroso” entre o estudante de jornalismo, a música e o rádio nunca sofreu nenhum abalo.

Hoje com 21 anos, Saulo Ribeiro tem um pouco de sua trajetória relacionada a esses elementos. Se há quase duas décadas o rádio era um mero entretenimento para o garoto, quando ele chegou ao terceiro período da faculdade, o seu “amigo de infância” o fez chorar.

Foi numa visita aos estúdios da Rádio Litoral FM, quando Saulo teve sua primeira chance de falar numa verdadeira rádio. Ao vivo, no ar, o locutor Roliber Wanderson passou a palavra para o rapaz de Inhanguetá. Ele falou. E, depois, chorou de emoção.

“Não queria que aquele momento acabasse nunca”, diz.

(Foto: Saulo Ribeiro/Acervo pessoal)

Mal sabia que aquilo viraria rotina tempos depois, quando foi aprovado para ser estagiário da rádio BandNews FM Vitória. Ao receber a notícia da aprovação, foi a dona Maria Auxiliadora, sua mãe, que foi informada em primeira mão.

Na sequência, foi o pai, Benedito Gusmão, seguido pelo restante da família, incluindo, é claro, a irmã Thiara e o irmão Marcelo. Quem sabe até os cachorros da família, Pitoco e Platão, não souberam dessa notícia?

Apesar de ter que sair para estudar ou trabalhar em outras regiões da capital capixaba, Saulo nunca se esqueceu do seu lugar. Até hoje costuma ir num monte que tem em Inhanguetá para ver o Sol se deitar sobre o Rio Santa Maria. Segundo ele, “é uma vista muito bonita”.

Mesmo sendo um cara muito agitado e inquieto, o estudante se viu obrigado a diminuir seu ímpeto em 2020. Com a chegada da pandemia de coronavírus, esse cara que gostava de ir para um bar ou que vendia picolés na rua, sofreu grandes alterações em sua rotina.

A cervejinha passou a ser um item dispensável. O futebol virou um novo belo hobby. A partir de então, a atenção que era dada principalmente ao Corinthians, passou a ser dividida com outros diversos times do planeta.

Talvez uma grande síntese daquilo que é o Saulo pode ser o domingo perfeito que ele mesmo escolhe. Para ele, começar o dia acordando tarde, jogar League of Legends com seus amigos, comer uma feijoada acompanhada de um macarrão com uma carne assada recheada de bacon e terminar o dia indo ao culto é a constatação de um dia perfeito.

Muitas singularidades e até mesmo alguns gostos contrastantes – como a paixão pelo rap e pelo sertanejo, estilos musicais com origens diferentes – fazem com que Saulo seja uma pessoa singular dentro de sua casa, de sua faculdade, do Discord com os amigos e do seu lugar, Inhanguetá.

Esse é Saulo Aurélio Ribeiro Miranda. Ou simplesmente Saulo Ribeiro, já que, segundo ele próprio: “Saulo Miranda não fica tão legal numa assinatura de reportagem. Melhor a outra opção”.

Luz no sobrenome, na força de vontade e na vida

Carla Luz é baiana, nasceu e cresceu na pacata cidade de Paramirim e é formada em Jornalismo pela UFV (Foto: Arquivo Pessoal)

Quase duas horas de conversa. O encontro aconteceu de forma virtual. Mesmo assim, foi possível descobrir particularidades, adentrar em curiosidades e saber a história de vida de Carla Luz. Jornalista por formação, a jovem de 22 anos me recebeu com muita simpatia. Prova disso é que, antes de começar o bate-papo, ela já lançou uma fala categórica e conhecida para aqueles que são da área de Comunicação. “Eu gosto de entrevistar, mas não gosto de ser entrevistada”, conta, aos risos. Nem isso foi empecilho para que a conversa andasse. Entre gargalhadas e um olhar de respeito, caminhei pelo percurso de uma mulher que se entrega ao que faz. 

Conhecida como Carlinha, Ca ou Carla Light – uma brincadeira com o sobrenome  Luz em inglês e também por ser entusiasta de comidas fitness, a jornalista nasceu em Paramirim, pequena e pacata cidade localizada no sertão da Bahia. Lá também cresceu e criou laços, tanto na zona urbana como na área rural do município de apenas 22 mil habitantes. 

Fruto da junção de Carlos, que é encarregado de mineração e hoje aposentado por invalidez, e da assistente social Leila, Carla é a filha que herdou o feminino do nome paterno e é a mais velha de uma dupla de irmãs. A mais nova é a Keila, de 20 anos, que recebeu esse nome com o objetivo de causar uma rima divertida com o nome da figura materna. “Eles foram muito criativos”, diz, sobre a escolha dos pais. 

Durante a infância, a jornalista não tinha a presença sempre por perto do seu Carlos, porque o minerador viajava com frequência por causa do trabalho. Apesar disso, ela não leva consigo lembranças negativas desse acontecimento. “Eu sempre entendi a necessidade do meu pai estar trabalhando. Era preciso. Era pro nosso melhor. Não tenho memórias tristes por ele estar longe”. 

Tanto não leva que garante ter tido uma infância animada e feliz. Muito feliz. Com os primos, por exemplo, Carla Luz amava se reunir para comer manga com sal, escondida de uma tia que refutava essa prática. Para isso, chegava até a pular a janela da cozinha com um saquinho de sal na mão para matar tal desejo. Por outro lado, era uma menina festeira. Na celebração do Natal, virava Maria. Nas festas juninas, a noiva. Não tinha uma festa típica que não aproveitava desde os 4 aninhos, seja dançando ou encenando.

Carla Luz brincando na festa de São João
A paixão de Carla por festas típicas da Bahia é antiga. Tanto que faz parte de suas maiores recordações da infância (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando criança, a jornalista se divertia também com a televisão. Era uma grande companhia e até virou um sonho estar lá dentro de alguma forma. Fato que entregou com uma confissão. “Eu era vidrada no Gugu. Meu sonho era ser bailarina ou assistente de palco. Por isso, cheguei a mandar uma carta para o programa. No final dessa carta, coloquei que era a fã dele número 1000, porque pra mim 1 era muito pouco”, conta, ao relembrar mais uma das várias histórias que permeiam o seu passado. 

Na escola, Carla era uma aluna encrenqueira. Pelo menos no Ensino Fundamental. Ela sempre arrumava confusão com todo mundo, inclusive primos que compartilhavam a mesma sala de aula. Só que era equilibrada. Afinal, a dedicação também se fazia presente. Tinha o dom de escrever histórias, o hábito de ler fábulas e sentar na primeira cadeira da turma, bem no estilo de alunos considerados mais aplicados. 

Já durante a adolescência, a jornalista não teve nenhum período de desobediência. Virou completamente centrada, como é até hoje. “A minha fase mais ‘rebelde’ está sendo agora. Lá atrás, era mais quadradinha e seguia todas as regras. A minha mãe brinca que atualmente estou dando muito mais trabalho que naquela época”, explica aos risos. 

A pulsação pelo Jornalismo

Carla se formou em Jornalismo pela UFV no primeiro semestre de 2021 (Foto: Arquivo Pessoal)

Quanto às possibilidades de profissão, Carla viveu alguns períodos reflexivos. Até meados do Ensino Médio, tinha na cabeça apenas o curso de Publicidade e Propaganda devido a dois motivos. Primeiro, porque era apaixonada por campanhas publicitárias e segundo, tinha o pé no marketing ao auxiliar a mãe na revenda de produtos de catálogo. 

O ato de cogitar cursar Jornalismo apenas surgiu ao fazer uma visita mental ao passado. Carla lembrou que sempre teve ídolos do ramo. De Glória Maria, passando por Sérgio Chapelin a Evaristo Costa. Ao mesmo tempo, a literatura e a escrita faziam parte constantemente de sua vida. Além disso, os professores incentivaram e muito a jovem a tentar uma vaga no curso, já que ela apresentava trabalhos de forma impecável e tinha uma facilidade incrível de se comunicar. 

Dividida entre dois mundos de uma mesma área, Carla deixou o coração escolher. Em fevereiro de 2017, um ano após ter concluído o Ensino Médio e ter se dedicado aos cursinhos de pré-vestibular, a baiana optou por jogar a sua nota do Enem para Jornalismo e exclusivamente em faculdades federais de Minas Gerais. “Eu sempre tive vontade de viver em Minas por causa do meu pai, que trabalhava e falava bem de lá. Ele trazia bonecas e doces. Isso me fez ficar apaixonada”. Nisso, Viçosa – município da Zona da Mata Mineira – foi o local que ‘abraçou’ o sonho da jovem de ter um diploma. 

Com a mala em uma mão e a força de vontade na outra, Carla se adaptou bem à nova cidade. Em um mês, já parecia que conhecia há muito tempo aquela região.  Mas, havia ressalvas. Não houve uma adaptação total. No primeiro semestre do curso, a saudade era rotineira, bem como o choque cultural. 

“Eu tinha muitas saudades de casa. Das minhas raízes. Afinal, era a primeira vez que estava longe das asas dos meus pais. O primeiro São João lá, por exemplo, eu chorei. Lá era totalmente diferente. Queria meu bolo de milho, a minha leitoa assada. Minhas comidas típicas. Em Minas, não era feriado como na Bahia, inclusive estava estudando normalmente”, relata sobre os primeiros meses. 

E pra matar essa saudade não era uma tarefa fácil. Mais de mil quilômetros separavam Viçosa de Paramirim, a cidade natal de Carla. Por isso, a jornalista reencontrava a família e o namorado, Fábio, com quem mantém relacionamento sério há 5 anos, em alguns poucos feriados prolongados. Em geral, as férias que eram meses de visitas da jovem na Bahia. 

Para cessar essa dor da saudade, Carla começou a se jogar, no segundo ano da faculdade, em projetos e estágios. Ficou dois anos como repórter da Fundação de Rádio e Televisão Educativa e Cultural de Viçosa. Em paralelo, atuou na Intermídia, empresa de comunicação da UFV.

Com tais experiências e mergulhando em matérias diversas do Jornalismo, houve transformações na vida de Carla. A jovem que pensava em atuar apenas em televisão também se descobriu em áreas que não imaginava do Jornalismo, como o rádio e, especialmente, na editoria de Saúde. Inclusive, dentro dessa editoria, a jornalista produziu uma grande reportagem televisiva sobre os rumos da pandemia em Paramirim para o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado em junho deste ano. Produto regado de elogios até hoje por onde ela vai na cidade. 

Além de pensamentos modificados sobre áreas de atuação, a baiana garantiu ganhos significativos enquanto ser humano. Pelo lado pessoal. 

“Amadureci muito na faculdade. Como a minha cidade é tradicional, eu saí daqui pensando em ter uma vida quadrada, casando cedo e formando uma família. E hoje não me vejo fazendo isso antes dos 30 anos. Me vejo uma mulher que quer cultivar muitas outras coisas. Vejo uma Carla compromissada em se descobrir no mundo”, afirma a jovem.

Amores, reflexões e futuro 

Mas, afinal, quem é a Carla Luz além do Jornalismo? No tempo livre, a baiana se deleita dentro da cozinha. Lá, ela explora ao máximo a criatividade, inventando receitas, principalmente naturebas. Além disso, por ser católica praticante, considera a igreja visita obrigatória todo domingo e também às quartas, quando  tem o compromisso de rezar o terço no espaço cristão. 

Só que não é apenas dessas atividades que vive a jornalista. A adrenalina corre na veia. Carla gosta tanto de altura que, em brinquedos de parque de diversões, chega a ter tranquilidade e serenidade para observar o mundo lá de cima. “Gosto do movimento. Gosto de experimentar ambientes e lugares novos. Gosto de me sentir viva. E a adrenalina me faz sentir isso tudo”, confessa. 

Como ama adrenalina, escalar montanhas é um dos passatempos preferidos da jornalista. Nesse registro, ela está se aventurando pela Chapada Diamantina (Foto: Arquivo Pessoal)

No campo da felicidade, a baiana de Paramirim não é exigente. Nas coisas mais simples e banais, ela consegue ter um motivo pra comemorar, seja montando uma rede na casa da roça sozinha, vendo a muda de planta criar raízes ou mesmo pagando uma pizza com o primeiro salário. Não precisa de muito. São as pequenas vitórias do dia-a-dia que fazem a diferença na vida da jornalista.

A leveza de lidar com tudo é herança de família. Carla se moldou a partir dos ensinamentos, aprendizados e conselhos daqueles que ama. Daqueles que estão dentro de casa. Daqueles que fizeram a diferença em sua caminhada. Enquanto o pai falava que o maior presente que poderia dar para ela e a irmã era oferecer condições suficientes para que tivessem o diploma, a mãe mostrava que o caminho poderia ser difícil, mas é possível vencer os obstáculos. 

“Estou na quarta geração de mulheres empoderadas. Minha bisavó sempre comandou, nunca aceitava nenhum homem ser acima dela. A minha avó também. Minha mãe é negra e ela nunca parou para os preconceitos da sociedade. Pelo contrário, sempre nos ensinou a correr atrás, dar a cara quando fosse preciso e não desistir em qualquer obstáculo. Então, tento ser firme e forte para honrar o sobrenome Luz”, afirma, com orgulho de suas inspirações. 

Hoje, Carla já está há três meses formada na profissão que escolheu trilhar e construir a própria trajetória. E se engana quem pensa que ela ficou parada durante esse tempo. Confiante no poder da Educação, a jornalista se aperfeiçoou em cursos e mais cursos em sua área. Ainda, está fazendo trabalhos como freelancer de Comunicação em Paramirim, onde voltou a morar desde o início da pandemia. 

Apesar de ter voltado à cidade natal, Carla tem outro destino em breve. É na cidade de Vitória, no Espírito Santo. Afinal, ela é um dos 10 residentes do 24° Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, programa voltado para aqueles que desejam mergulhar em todos setores da redação de uma grande empresa midiática. Ou seja, mais um desafio. Mais um lugar para aproveitar novas oportunidades. “Quando eu passei e recebi a notícia, eu chorei. De tão alegre que fiquei”, lembra, sobre o momento marcante.

É uma nova história que começa,  que não terá um desfecho ali. Carla é repleta de sonhos. A jovem tem um olhar atento lá pra frente. Carrega o desejo de ser realizada não tendo milhões na conta, mas sim dando orgulho para os pais e cultivando boas oportunidades e vivências. Na televisão, rádio ou nas redes sociais? Não importa o lugar, a jornalista levará consigo a espontaneidade e alegria que iluminam o ambiente, tal qual o seu sobrenome, como bem dizem os amigos.

E é um fato: cada nova oportunidade Carla pretende aproveitar como uma montanha gigante. Escalando sem parar e acompanhada da adrenalina que a faz sentir viva. No caminho, ora estará agitada e conversadeira, ora estará no silêncio para se reconectar com o barulho. Dois mundos que a definem. De todos os jeitos e maneiras, a baiana apenas quer olhar para trás e ter a plena sensação de que tudo valeu a pena. 

“Toda tempestade sempre acaba com gotas de orvalho iluminadas pela Lua. Essa frase me faz manter viva. Mesmo sabendo que vou ter que ralar muito na vida, um dia, espero que as gotas de orvalho da minha vida sejam iluminadas pela Lua”, acredita Carla, com o típico brilho nos olhos que a faz seguir em frente. 

Tem gente nova na turma! Aluna de SC assume vaga na Residência 2021

Formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ana Caroliny vem direto de Floripa para a turma, após a desistência da aluna Janaína Borges, que nem mesmo chegou a participar da aula inaugural do curso.

Com a chegada da nova aluna, o curso agora tem representantes de cinco Estados brasileiros: ES, RJ, MG, BA e SC. “Receber a notícia de que vou fazer parte do Curso de Residência da Rede Gazeta foi uma surpresa e um alívio ao mesmo tempo. Surpresa por ter ocorrido já com uma turma inicial formada e alívio por conseguir realizar esse objetivo, que venho idealizando desde o último ano da faculdade”, afirma a nova foquinha.

Para Ana Caroliny, esta será uma experiência muito significativa. “Espero desenvolver habilidades dentro do jornalismo, aprender com quem está começando e com quem tem mais tempo de estrada, além ter boas vivências para levar para a vida, tanto no curso quanto no Espírito Santo”, define.

Aula inaugural e programação

O Curso de Residência começou na última quinta-feira (9), com uma palestra do jornalista Marcelo Cosme. Cosme falou sobre diversidade e informação no jornalismo ao vivo e compartilhou um pouco de sua carreira e tirou dúvidas dos participantes do Curso de Residência.

Um dos pontos mais frisados pelo apresentador da Globonews foi a necessidade de os jornalistas buscarem, cada vez mais, pluralidade de fontes e pontos de vista. Até o dia 1º de dezembro, os alunos vão participar de palestras, oficinas e uma imersão de conteúdo nos veículos da Rede.

Ao longo de duas décadas, a Residência da Rede Gazeta já formou mais de 400 profissionais. Os alunos que concluírem o curso vão receber certificado e terão uma cerimônia de encerramento adaptada a todos os protocolos de prevenção à Covid-19, em dezembro

Marcelo Cosme defende diversidade de fontes para fortalecer o jornalismo

A Rede Gazeta deu início, na manhã desta quinta-feira (9), ao seu 24º Curso de Residência em Jornalismo. Com o tema “Diversidade e informação no jornalismo ao Vivo”, a aula inaugural foi conduzida pelo jornalista e apresentador do programa Globo News Em Pauta, Marcelo Cosme. Os 10 alunos selecionados para o curso de imersão participaram virtualmente do evento, que teve apresentação do repórter da TV Gazeta Elton Ribeiro.
Em pouco mais de uma hora, Cosme compartilhou um pouco de sua carreira e tirou dúvidas dos participantes do Curso de Residência. Um dos pontos mais frisados pelo apresentador da Globo News foi a necessidade de os jornalistas buscarem, cada vez mais, pluralidade de fontes e pontos de vista. “Por que não entrevistar um economista negro, um sociólogo gay, um refugiado que possa nos ajudar a falar da situação de determinado lugar? Isso nos obriga a entender e normalizar que a sociedade é feita de pluralidade. A diversidade está em saber ouvir as pessoas”, pontuou o jornalista.
Outra questão destacada durante a palestra foi o rigor jornalístico. Segundo defendeu Cosme, o jornalista deve, antes de mais nada, ter certeza do que está publicando, sobretudo num ambiente turbulento em que o jornalismo profissional disputa espaço com fake news. “”A velocidade da informação é importante, mas temos que estar certos. É melhor tomar um furo do que errar, do que ter que pedir desculpas. O mundo já tem muita desinformação”, recomendou.
“Frio na barriga”
Os focas – como são chamados jornalistas em início de carreira – também ficaram curiosos sobre a dinâmica da TV ao vivo. Marcelo Cosme destacou que prefere estar por dentro do assunto a ler o texto do teleprompter, e que as entradas ao vivo “são viciantes”. Também revelou que nem sempre tudo sai como esperado. “A gente tem chefe, tem colega, tem questões. Sou enlouquecido com TV ao vivo porque a gente passa muito tempo planejando, organizando, e quando tudo sai como planejado é fantástico. Gosto da instantaneidade do ao vivo, do frio da barriga”.
Antes repórter de rua, Cosme entrou para o time de apresentadores da Globo News em 2019, após anos trabalhando em frente às câmeras com reportagens. Durante a aula, realizada de forma remota por causa da pandemia da Covid-19, ele afirmou acreditar que, no jornalismo, como em qualquer outra profissão, é preciso trabalhar duro pelo que se almeja: “O caminho é o mesmo para todo mundo. Tem um pouco de sorte e muito esforço”.
A aula inaugural foi o ponto de partida para o 24º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. A fase virtual do curso começa nesta sexta-feira (10) e vai até 12 de outubro. Logo na sequência, os focas terão participação presencial nos veículos da Rede Gazeta, entre 13 de outubro e 1º de dezembro, conhecendo os bastidores e produzindo conteúdo para A Gazeta, TV Gazeta, Rádio CBN Vitória, Rádio Litoral, Estúdio Gazeta e redes sociais.

Ao todo, 10 pessoas foram escolhidas para participar do curso que já formou mais de 400 profissionais ao longo dessas mais de duas décadas. Na turma de 2021 há representantes de quatro Estados: Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais.