Bloquinhos, caneta e uma camisa tricolor

“Gooooool. Ééééééé do Goiás! Aos cinco minutos do segundo tempo o Goiás abriu o placar contra o Iporá. Agora o Goiás tem um, e o Iporá tem nada”. Essa foi a primeira narração em campo feita pela gaúcha Maiara Dal Bosco. A partida narrada foi entre o time do Goiás (1) e do Iporá (0) durante o Campeonato Goiano, em março de 2020, no Estádio Olímpico Pedro Ludovico Teixeira, em Goiânia. Mesmo sendo sua primeira narração oficial, a gaúcha já havia experimentado as outras possibilidades do jornalismo esportivo.

Gremista de coração, Maiara sempre se encantou pelo universo do futebol e, apesar de não ser boa com a bola nos pés, ela bate um bolão quando o assunto é falar de futebol. Durante a graduação em jornalismo, fez parte do projeto de extensão Doutores da Bola, um programa esportivo da Rádio Universitária da Universidade Federal de Goiás (UFG). No projeto, experimentou as diferentes áreas que o jornalismo esportivo permite: foi narradora, âncora, repórter de campo e comentarista.

Maiara Dal Bosco comentando uma partida de futebol. (Créditos: Arquivo Pessoal)

 

“Essa vivência de estar no ao vivo, na rádio, em que você está sendo os olhos de quem não está assistindo é muito incrível. Reportagem de campo era um sonho que eu tinha. É uma coisa única. É uma sensação fantástica que só quem está ali embaixo, atrás do gol narrando sente. Você escutar os jogadores e ver o gol tão de perto é apaixonante”, conta.

Aos 28 anos, Maiara possui duas graduações: uma em Relações Públicas e a outra em Jornalismo. Para o trabalho de conclusão de curso de ambas, ela produziu projetos sobre o time do coração. Na apresentação do projeto no curso em jornalismo para a banca avaliadora, a tricolor teve que dar um drible e tanto, pois dois dos professores presentes eram colorados. Porém, o lance foi certeiro e garantiu a aprovação final no curso e o título de jornalista.

Com o Grêmio e onde o Grêmio estiver

O Grêmio, time de coração da jovem Maiara Dal Bosco, tem uma história interessante sobre seu hino. A letra, de autoria do compositor Lupicínio Rodrigues, imortalizou as manifestações organizadas por trabalhadores dos serviços de bondes da cidade de Porto Alegre. O refrão “Até a pé nós iremos / Para o que der e vier / Mas o certo é que nós estaremos / Com o Grêmio onde o Grêmio estiver” é em referência à paralisação dos bondes em março de 1953 e também à paixão dos gremistas pelo time.

E paixão pelo Grêmio é o que Maiara mais tem. Torcedora tricolor desde pequenininha, ela se manteve fiel ao time mesmo quando deixou o Rio Grande do Sul, estado natal, e se mudou para Goiânia, em Goiás, junto com a família. Uma oportunidade de emprego para o pai fez com que eles partissem para Goiás em meados de 2000. Em 2014, os pais da jovem se separaram e, atualmente, ela vive no bairro Jardim América, em Goiânia, junto com a mãe e a irmã.

Foi na capital Goiânia que a gremista de coração realizou o sonho de ser repórter esportiva e de trabalhar durante a última rodada do Campeonato Brasileiro de 2019 entre Goiás e Grêmio. Os clubes se enfrentaram no estádio do Serra Dourada, em Goiânia, e Maiara Dal Bosco estava escalada para cobrir a reportagem do programa de rádio da UFG, o Doutores da Bola.

O jogo teve início às 16 horas daquele domingo e o Goiás bateu o Grêmio por 3 a 2. Empolgada e feliz por ver de perto o time do coração, Maiara não pode comemorar a vitória naquele dia, porém, mesmo com a diferença de pontos, o time tricolor gaúcho terminou o Campeonato Brasileiro na quarta posição, com 65 pontos e sua vaga já garantida na Libertadores 2020; o Goiás, ficou na décima, com 52 pontos.

Do Rio Grande do Sul para Goiás e agora para o Espírito Santo. Maiara Dal Bosco faz parte da 23ª turma de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Ela está entre os 12 residentes selecionados do programa e durante três meses irá experimentar a rotina do jornalismo no veículos da Rede Gazeta. Em novembro, a jovem irá se mudar para a capital Vitória, onde realizará a fase presencial do curso. Na bagagem é certo que vêm: bloquinhos, caneta e uma camisa tricolor.

Desafios e oportunidades marcam primeira semana do Curso de Residência 2020

Com palestras e atividades virtuais, os 12 residentes finalizaram a primeira semana como começaram: empolgados.

A primeira semana do 23º Curso de Residência da Rede Gazeta foi desafiadora. Para os alunos, uma nova experiência de redação e a prática do jornalismo com profissionais consagrados. À coordenação, o estímulo de encontrar novos caminhos para realização da edição que, pela primeira vez, tem uma fase a distância, por causa do isolamento social. Continue lendo “Desafios e oportunidades marcam primeira semana do Curso de Residência 2020”

Vinicius Zagoto: da Espanha para a Residência da Rede Gazeta

A tela do celular acende e um novo rosto se revela. Essa é uma característica das relações na pandemia. Distâncias geográficas reduzidas por videochamadas, ligações telefônicas e mensagens por aplicativo. Do outro lado do telefone, um sorriso iluminado parece pronto para a conversa. Vinicius Zagoto se apresenta: 22 anos, nascido no interior de Castelo, no Espírito Santo, signo de peixes. Quando criança, desenhava casas e poderia dizer que seria arquiteto na idade adulta, mas hoje, prestes a se formar em jornalismo pela Universidade Viçosa (UFV), em Minas Gerais, Vinicius diz que não se vê fazendo outra coisa. Para ele, o Curso de Residência da Rede Gazeta é a validação de um sonho. 

Filho único da dona Fabiana, Vinicius entrou na faculdade no início de 2017. A escolha do curso é resultado do desejo de ingressar em uma área que permitisse transitar entre os diferentes campos que lhe chamavam atenção. O interesse pela literatura, pela comunicação e, acima de tudo, pela escrita, alimentou a semente do jornalismo. E agora, a alguns passos de se tornar um profissional da área, a vontade de colocar todas as referências acumuladas ao longo da faculdade é a maior possível. 

Vinicius e o sonho do intercâmbio 

Vinicius Zagoto em Lleida, na Espanha

Vinicius se considera urbano. Tem interesse por diferentes estilos de música, leitura e séries. Também se descreve como uma pessoa que gosta de viajar, explorar lugares, descobrir novos pontos da cidade e diz que vale até mesmo ser a pé. O início de 2020 carrega a história de intercâmbio para a Espanha, na região da Catalunha, cidade de Lleida, em que Vinicius permaneceu no país por seis meses estudando disciplinas de jornalismo digital. Mas a experiência encontrou uma realidade diferente do esperado com a pandemia do Covid-19 que obrigou a população mundial a permanecer dentro de casa. 

Vinicius lembra de estar fazendo bolo no sábado, recebendo a visita de uma amiga enquanto aproveitava o intercâmbio que passou a vida sonhando. No dia seguinte, ninguém mais saía de casa. O permitido eram visitas curtas ao supermercado ou farmácias em um modelo de lockdown rígido que, para Vinicius, também tinha um clima de luto. 

A dor era dupla porque a família estava no Brasil vivendo uma realidade de controle e combate ao vírus muito diferente e que, provavelmente, manifestaria consequências negativas à população. O conforto da rotina e os momentos de interação com o mundo exterior se reduziam a ir para a varanda de casa, para aplaudir médicos e profissionais da saúde, na tradição das 20 horas. 

Quase jornalista 

Quando voltou para o Brasil em julho deste ano, Vinicius começou a se dedicar ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). A graduação prevista para o meio de 2021 deve coincidir com a colação de grau de dona Fabiana, que por incentivo do filho decidiu finalizar os estudos do ensino médio. 

No próximo ano, os dois irão dividir a alegria em receber os diplomas, mas Vinicius não espera voltar para Minas Gerais. Vai concluir a graduação a distância, não pôde se despedir da cidade, mas ainda segura as histórias que viveu entre boas memórias. 

Depois de acumular referências na graduação passando por agências de marketing, descobrindo a amplitude da área de comunicação e realizando projetos de iniciação científica Vinicius Zagoto pode afirmar que o que gosta mesmo é o jornalismo. É na construção de palavras e narrativas que o talento pode se desenvolver. Além do Curso de Residência, também tem estudado as diferenças de abordagem entre meios de comunicação em relação ao cenário pandêmico nacional. 

Agora as expectativas estão acumuladas e a largada foi dada. Vinicius Zagoto relembra uma visita que fez na Rede Gazeta durante uma passagem à Vitória no ano passado, enquanto a turma participava de um congresso de comunicação no Estado. Reconhecer rostos famosos do jornalismo capixaba, estar presente na redação multimídia da Rede e ocupar os estúdios que passou a vida acompanhando enquanto ainda morava no Espírito Santo foram os combustíveis necessários para participar do processo. 

Vinicius espera colher ótimos frutos dessa experiência. A Residência para ele é a consolidação de uma trajetória que desde a graduação tem dado certo. As esperanças são de que essa oportunidade seja um divisor de águas, como foi para colegas e profissionais que admira. Vinicius Zagoto é um dos 12 residentes do curso da Rede Gazeta e agora a tradicional festa de Corpus Christi, em Castelo, ganha um novo correspondente. 

Impulsionada por mudanças, Nádia Prado encontra no jornalismo a profissão dos sonhos

Ela desistiu do curso de Direito, mudou a aparência, venceu um problema de saúde e agora vai mudar da capital mineira para a capixaba.

Mineira raiz, nascida e residente em Belo Horizonte (MG), Nádia Prado tem 29 anos de idade e se formou pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) neste ano, em meio à pandemia do coronavírus, de maneira não presencial, por videoconferência. Um lamento para quem gosta de gente, de “aparecer” e se “exibir”, como ela mesma define ser.

Nádia Prado vislumbra trabalhar em frente das câmeras de TV, seja como repórter ou na bancada de um telejornal.

De família de médicos – pai, mãe e irmã mais velha atuantes nesta profissão –, ela chegou a cursar Direito, antes de se formar jornalista. Levou tempo e muitas mudanças para Nádia encontrar-se, mesmo confessando que desde a infância ela já demonstrava aptidão para a comunicação. “Desde criança eu sempre gostei muito de aparecer e de me exibir”, declarou. Mas, a escolha da faculdade foi por eliminação de três sugestões da família: medicina, engenharia ou direito. E, como não tinha aptidão para as áreas de exatas e biológicas, o direito foi a opção.

A quase advogada chegou a cursar até o oitavo período e a intenção da família não era que ela abandonasse o Direito, mas desse um tempo até algumas mudanças na rotina financeira familiar ficassem resolvidas. Aliás, desse período até se formar em jornalismo, as mudanças foram constantes. Nádia superou obstáculos em diversas áreas da vida. Ela superou um problema de saúde, melhorou a qualidade de vida por meio de uma cirurgia, mudou o corpo e até o cabelo ela cortou. Isso tudo, depois de quase se formar num curso que ela não gostava. Mesmo tendo estagiado em diversas empresas e até passado na prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Mas o jornalismo falou mais alto. “Foi muito doído todo esse período, até eu descobrir que queria fazer jornalismo”.

Aprovada no 23º Curso de Residência da Rede Gazeta, Nádia agora já se prepara para mais uma mudança, que é vir para o Espírito Santo, já na segunda fase, que será presencial. Questionada sobre a possibilidade de morar de vez no estado, caso tenha oportunidade de trabalho depois do curso, ela conta que não teria problema algum, uma vez que a terrinha capixaba já é uma velha conhecida desde a infância. É que, como muitos mineiros fazem, ela passou temporadas de férias e feriados em Guarapari, Marataízes, conheceu Colatina, Vila Velha e, mesmo sendo bairrista com relação ao seu estado, declara ser uma “mineira que não rivaliza com o Espírito Santo”.

Nádia Prado tem como fonte de inspiração no jornalismo nada mais, nada menos que Pedro Bial; é convicta de que o jornalismo é uma ferramenta de mudanças na vida das pessoas; e vislumbra trabalhar em frente das câmeras de TV, seja como repórter ou na bancada de um telejornal. Por isso, a foquinha acredita que o Curso de Residência será uma grande oportunidade de aprendizado e mais uma mudança em sua vida, já que, antes de se inscrever no processo seletivo, estava prestes a ser produtora numa emissora de televisão de Belo Horizonte. “Sempre foi assim, passar por mudanças na minha foi vida, para tomar decisões importantes”, finaliza.

De quase estudante de medicina a residente da Rede Gazeta

Quem trabalha com jornalismo não costuma ter fórmulas químicas e físicas no cotidiano da profissão. Porém, para Vinicius Viana, 22, mais novo residente da Rede Gazeta, esse mundo das ciências naturais fez parte da rotina nos meses antes de prestar o vestibular para comunicação.

Vinicius traça um perfil que vai da arte ao jornalismo profissional

Nascido em Vila Velha, o capixaba mora atualmente na Serra e, entre uma leitura e outra, ou em um verso e outro que faz para suas músicas, traça agora um perfil que vai da arte ao jornalismo profissional, com suas próprias composições e, em breve, com suas reportagens produzidas para o Curso de Residência. Tudo isso longe daqueles cálculos químicos que norteavam seu dia a dia.

Viana conta que não era nada produtivo nessa época quando, por algum motivo, se via no futuro como médico: “Eu não rendia nada, só escrevia…”  E foi essa escrita que despertou a atenção de uma amiga e, posteriormente, do professor de literatura no cursinho pré-vestibular. Foram os dois que o incentivaram a largar as fórmulas e apostar em seus textos, a caminho do jornalismo.

O apoio deu resultado e Viana foi aprovado no vestibular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), iniciando sua trajetória na comunicação. Ele olha o período de 2016 até dezembro de 2019, quando se formou, como um processo de entendimento de desenvolvimento pessoal: “Entrei e não imaginava um curso tão humano. A gente que faz Federal desenvolve muito o nosso lado humano. A faculdade foi um momento muito importante pra eu me conhecer, me entender. Saí da graduação completamente diferente de quando entrei.”

Vinícius Viana com o prêmio de vencedor do Expocom Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Dentro da graduação, foi premiado na Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom) pela realização de um programa radiofônico falando sobre música, uma outra paixão. Desde os oito anos, Vinicius vê em suas composições, quase sempre pessoais, uma “válvula de escape” e uma forma de desabafar sobre acontecimentos ao seu redor.

Em seu canal no Youtube e na sua conta no Spotify podemos encontrar melodias intituladas de “Talvez”, “Aura”, “Ressaca”, “Insolação”, “A gente precisa conversar”, entre outras que por trás de uma voz leve tem em comum o amor como temática.

Sua formatura anunciou o futuro como jornalista e representou o quanto havia se transformado nos últimos anos enquanto graduando. Vestido com a tradicional beca de colação de grau, foi ao palco receber o diploma com as mãos segurando a bandeira LGBTQI+.

Vinicius se questionava para onde poderia ir e viu na Residência da Rede Gazeta uma possibilidade: “Desde o primeiro semestre do curso ficamos conhecendo essa oportunidade, então era uma coisa que eu almejava a muito tempo.” O resultado, porém, foi como “cena de novela”, brinca. A primeira lista divulgada não possuía seu nome. Então ligaram da Gazeta para ele, informando-o de sua aprovação.

“Acho que foi a validação de uma jornada. É como se eu finalmente tivesse conseguido. A gente sempre espera muito por isso dentro do curso, então foi uma sensação ótima. Agora eu quero me desenvolver mais como profissional. Entender meus interesses e melhorar o meu trabalho. Realmente me profissionalizar como jornalista”, conta.

Os próximos meses certamente serão de muito aprendizado na Gazeta, mas ele não pretende deixar a veia artística de lado. Mesmo não prometendo nenhum novo lançamento, diz que não vai parar de escrever.

Karol Bertordo: olhos atentos para a natureza capixaba

O Espírito Santo possui muitas belezas naturais. São praias, cachoeiras e montanhas espalhadas por seus 78 municípios. Um dia, Karol poderá dizer que conhece todos eles.

Para falar de Karolyne Mayra Bertordo, ou apenas Karol, é necessário falar de lugares. Ela é daquelas que adora explorar cada cantinho, que toda vez que vai ao Morro do Moreno – e já foram várias – quer assistir à chegada do sol de um novo ângulo. Parece que há 27 anos, ao nascer no centro de Vitória, ela já estava curiosa se preparando para descobrir o Espírito Santo.  

Nessas descobertas, a capixaba acumulou memórias inesquecíveis. No Parque Nacional do Caparaó, além de apaixonar-se pelas cachoeiras do município de Iúna, subiu o Pico da Bandeira – terceiro mais alto do país com 2.891 metros de altitude. Também se encantou com a beleza do Parque Estadual da Pedra Azul, um ícone do ecoturismo no estado. E em Conceição da Barra, na fronteira com a Bahia, desfrutou de toda sensação de tranquilidade que o mar lhe ofereceu.

Mas as memórias eram lindas demais para serem guardadas a sete chaves. Mereciam ser compartilhadas. Karol sabia disso. Por isso, criou a página “destinos capixabas”, que reúne fotografias, algumas autorais e outras enviadas por usuários, de vários pontos turísticos do estado, nem todos conhecidos pelo público geral. 

Ao fundo a vista da cidade de Vitória a partir da na Pedra dos Dois Olhos

A maioria dos registros são de paisagens naturais. É importante falar que Karol não gosta de luxo. Aliás gosta sim, mas luxo para ela é fauna e flora. A paixão pelo meio ambiente e o lado jornalístico se entrelaçam muito bem na vida da jovem.

Mesmo diante de um cenário terrível para quem se preocupa com o verde nesse país, da dificuldade de digerir as notícias sobre as queimadas na Amazônia e no Pantanal, ela não desanima. Segue confiante de que, através do jornalismo, é possível realizar mudanças positivas na sociedade. No papel da imprensa para conscientizar sobre a preservação do meio ambiente. Por isso ela estuda, pesquisa, entrevista e escreve.

Atualmente, Karol está finalizando o curso de jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Se debruçando sobre a produção do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), um livro a respeito do Instituto Últimos Refúgios, ONG baseada em Vitória que “visa a sensibilização ambiental através da imagem”. Otimista, a estudante de jornalismo acredita que essa será uma forma de deixar um legado para o meio ambiente do Espírito Santo e para a sociedade.

A religiosidade capixaba que se manifesta nas ruas, na história – como a do belíssimo Convento da Penha, um dos santuários mais antigos do país – e está presente até no nome do estado, se faz importante na vida da jovem. Por isso ela segue com fé em dias melhores.

Karol também é autodidata em vários instrumentos, recebe elogios da sua turma por seus dotes culinários e, durante a quarentena exigida pelo Coronavírus, até reformou um cômodo da sua casa com o marido. Porém, agora pretende se concentrar no que sabe de melhor: escrever.

Que ela aproveite o 23º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta para nos apresentar o seu olhar sobre o Espírito Santo.   

O guia de Mafê

Cada movimento que fazemos é guiado por algo. Seja por instinto, necessidade, vontade ou comodidade, o que fazemos tem sempre algum sentido que não somente aquele percebido à primeira vista.

Acordar mais cedo que a hora prevista para preparar, com calma, o café, ter um tempo para si, sem pressa. Fones de ouvido equipados e o caminho até a faculdade, acompanhada de um podcast ou álbum que queira experimentar. O almoço com os amigos, o estágio à tarde e o aconchego da república que divide com dois amigos e o namorado, em Vitória.

Maria Fernanda Conti, ou Mafê, seguia essa rotina com afinco. Baseada no imediato, na certeza do que viria logo depois, Mafê encontrou um guia. Sabendo o que aconteceria no dia seguinte, no compromisso que viria a seguir, ela seguia a vida.

Em março, veio a pandemia do novo coronavírus. O isolamento forçado, a distância de tudo e o enclausuramento por motivos sanitários interromperam esse ciclo. E agora? O que moveria Mafê?

A resposta disso está escrita na própria história de Maria Fernanda. A futura jornalista, de 22 anos, saiu de casa aos 17 para concluir o Ensino Médio na capital do Espírito Santo, Vitória. Natural de Linhares, Mafê deixou os pais e a irmã mais velha na cidade do interior e foi buscar a comunicação como base para o futuro.

A família, o porto seguro de Mafê, ficou em Linhares, mas ela não deixou de buscar apoio onde quer que estivesse. Em Vitória, encontrou amigos e namorado. Ancorada em cidades diferentes, Mafê se cerca de quem a faz bem, de quem ama.

Maria Fernanda, antes imediatista, passou, durante a pandemia, a refletir mais sobre os diversos sentidos que se pode dar à vida. Em tempos normais, Mafê se colocava como alguém ancorada no agora, no que viria logo depois. Os tempos difíceis e o momento de olhar para si mudaram o olhar da futura comunicadora. O subjetivo passou a fazer parte do seu repertório de pensamentos.

Impressiona a facilidade em falar com profundidade. Segundo a própria, o ímpeto de conhecer mais profundamente as pessoas e dar peso às falas para além do óbvio e raso veio na pandemia. Ainda assim, parece que, corriqueiramente, fala de si e das suas vontades, desejos e medos.

A quarentena trouxe outras provações para Mafê. O guia de sua vida, o amor pelas pessoas das quais se cerca, a levou de volta para Linhares. Saída de Vitória, Maria Fernanda teve que encarar dramas familiares durante um tempo já difícil. Tio e avó haviam falecido. Seu pai, Valmir, ficou internado, acometido pela Covid-19 e pela triste notícia da perda da mãe. A mãe de Maria Fernanda, Graça, também foi infectada pelo novo vírus.

Os momentos de maior dificuldade, como os recentes, ressaltaram ainda mais o caminho que guia Mafê na vida. Em sua cidade natal, de volta para o porto seguro da família, encontrou seus pais e a irmã mais velha, que acabara de dar à luz a Helena. As circunstâncias fazem Mafê querer visitar a cidade com mais frequência, se fazer presente.

Ela segue os passos no jornalismo. Ainda que tenha inseguranças e, pessoalmente, sinta que possa ser melhor no que se propõe a fazer, volta a Vitória para o desafio do Curso de Residência da Rede Gazeta, desejo da capixaba ao longo da faculdade.

Acordar mais cedo que a hora prevista para preparar, com calma, o café, ter um tempo para si, sem pressa. Fones de ouvido equipados e o caminho até a faculdade, acompanhada de um podcast ou álbum que queira experimentar. Eventualmente, a rotina antiga retornará.

No momento, porém, Mafê se escora em outra rotina, outro guia de vida: cercar-se do amor daqueles que a querem bem.

O Tempero Capixaba de Mônica Moreira

Os cabelos são curtos e encaracolados, a blusa tem a estampa com a palavra ‘FÉ’ e o sorriso é lindo e tímido. Mônica Moreira te entrega desde o começo uma simpatia e boa vontade que ficam cada vez mais evidentes durante a conversa.

Ela é a caçula de dois irmãos, “a filha que a mamãe queria”, e é com muito carinho que a capixaba se refere a família, onde já é tia avó. Nascida em Linhares, a cidade com o maior número de lagos do Espírito Santo, Mônica começou a escutar o rádio com a mãe, dona Izaltina, que arrumava a casa escutando o radinho e vendo TV para se distrair. A futura comunicadora se sentia cada vez mais curiosa, interessada e sonhadora.

(Foto: Reprodução/Instagram @neggamonica)

Quando ainda era mais nova, ela gostava das novelas e foi quando falou com o pai, seu Jovenil, que queria ser atriz. Para o patriarca, a formação na dramaturgia passava pelo curso de comunicação social, e assim ele aconselhou que Mônica fizesse, mas a vida não seguiu uma linha reta nesse caminho. Ela chegou a prestar o vestibular em Salvador para artes cênicas e direção teatral, mas sentiu que não era seu destino, quando não conseguiu fazer a segunda etapa da prova.

A jovem capixaba sonhadora seguiu o conselho de um dos irmãos e fez licenciatura em informática, mesmo não gostando da área. Por mais que a Mônica tentasse, a comunicação a puxava com um efeito inebriante. A vocação estava no sangue, e não adiantava fugir.

Desde 2006, ela trabalhou como locutora de rádio, assessora de comunicação e em portais de notícias online. A admiração pelo rádio crescia cada vez mais. Mônica teve oportunidades como locutora na Rádio Globo Linhares e na rádio Kairós. Foi numa dessas oportunidades que a dramaturgia aflorou novamente, e surgiu a Malu Rocha, personagem criada pela Mônica para ensinar receitas culinárias em um programa de rádio.

Em 2018, veio a decisão de seguir o sonho de vez: Mônica se mudou para Vitória para cursar Comunicação Institucional. A sonhadora de Linhares ansiava por um aprimoramento na área de comunicação. Queria saber como funcionava a técnica além da prática e como era o clima de uma redação jornalística. Ela não gosta de aparecer, mas os bastidores da notícia sempre a encantaram, e a vontade de escrever e produzir impulsionam a Mônica todos os dias, principalmente se for sobre política ou entretenimento.

“A comunicação sempre foi um sonho, mas, para chegar no sonho,

temos que passar por outras coisas”.

Essa certeza dos percalços do caminho talvez seja o que faz da Mônica uma pessoa tão especial e apaixonada pela profissão. A paixão era tanta, que mesmo na pandemia ela não quis parar de produzir.

Em maio, Malu Rocha, personagem criada no passado, virou apresentadora de um podcast produzido, roteirizado e idealizado por Mônica. O Tempero Capixaba foi o jeito que ela criou de honrar suas raízes e contar um pouco mais sobre curiosidades do povo de seu estado. “Não é um podcast de receita”, ela deixa claro no primeiro episódio que começa com o hino do Espírito Santo. Cada episódio é uma chance de contar um pouco da história do povo capixaba e honrar as peculiaridades de seu estado, que é a paixão de Mônica.

Aos 41 anos, e com uma experiência enorme na comunicação, Mônica Moreira ainda está começando a fazer seu nome na área, e o que não falta é motivação.

Acompanhe aqui a produção dos alunos do 23º Curso de Residência

Palestras, aulas de jornalismo, oficinas e acompanhamento diário da produção de notícias fazem parte da programação do Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Ao longo do programa, os residentes também produzem reportagens, que são mostradas aqui no site. Confira um pouco desta produção clicando aqui!

O Curso de Residência em Jornalismo é um programa gratuito de imersão na produção jornalística e, em 2020, chegou à sua 23ª edição. Neste ano, o o programa passou por adaptações em sua dinâmica, com o objetivo de se adequar às medidas de saúde e segurança exigidas pela pandemia do coronavírus.

Assim, o treinamento está seguindo o movimento feito pelas redações jornalísticas de todo o país e integrar, ao longo de três meses, atividades a distância e presenciais.

Na conversa que abriu a programação da edição 2020, o presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech, conversou com os 12 novos residentes sobre “Os Desafios e Oportunidades do Jornalismo em 2020″. Os futuros profissionais também receberam as boas-vindas do diretor-geral da Rede Gazeta, Café Lindenberg.

Uma tímida estrada

Rafael Carelli é de Belo Horizonte, em Minas Gerais, mas nasceu no interior do estado. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Em 2001, depois de seis anos morando em Ubá, uma cidade no interior de Minas Gerais com pouco mais de 100 mil habitantes, o pequeno Rafael Carelli de 7 anos mudou-se para Belo Horizonte. Desembarcou com três desejos na mala: ser jogador de futebol, conseguir criar amizades e perder a timidez.

De imediato, não alcançou nenhuma dessas metas. Retraído e de poucos amigos, ele passou boa parte da infância dentro de intermináveis partidas de videogame. O único laço mais profundo que tinha era com a família, sobretudo quando iam aos clubes poliesportivos, assistiam a filmes na cama e sentavam à mesa para comer, uma tradição que virou algo sagrado para seus pais. “Ali, nós quatro colocávamos as conversas em dia, incluindo o meu irmão. Ele era mais novo, não entendia muito bem, mas essa era uma forma de nos conectarmos. Como meus pais viviam trabalhando, acabava sendo um momento de lazer”, relembra Rafael. 

Nascidos em Viçosa, outra cidade interiorana de MG, seus pais se conheceram na faculdade. Guto fazia Tecnologia da Informação (TI) e Cristina, Nutrição. Mesmo que de áreas diferentes, cruzaram pelos corredores da Universidade de Viçosa (UFV) e, pouco depois, engataram um casamento.  Frutos de uma gravidez desejada, Rafael e seu irmão caçula Theo nasceram com três anos de diferença. 

O jovem de 25 anos conta essas histórias em videochamada com uma expressão séria  — algo estava lhe incomodando. Se não fosse pelos curtos sorrisos que ele dava de vez em quando, esta repórter pensaria que tinha sido uma má ideia. Afinal, foi o jeito que encontramos para fazer a entrevista durante a pandemia. Assim que toco no nome dos seus pais, o entrevistado se ajeita na cadeira. Limpa o suor, conserta a posição dos óculos no rosto e gagueja um pouco antes de voltar a falar.

Guto e Cristina exerceram uma grande influência na sua vida. Foram os dois, aliás, que o encorajaram a ser jogador de futebol. Torcedor do Vasco desde pequeno, Rafael quis se profissionalizar no esporte aos 14 anos. Tinha o sonho de transformar o hobby em uma oportunidade. Começou a treinar futsal pelo Cruzeiro, tradicional time belorizontino, e recebeu um convite para ser jogador de futebol de campo.

Mas os planos foram por água abaixo. Logo no início, ele começou a faltar alguns treinos e acabou saindo do time por inadimplência. Faltou, nas suas palavras, “um pouco de disciplina e foco”. ”Acho que eu não gostava de acordar cedo (risos), porque ficava até muito tarde no computador. Também tive dificuldades de me entrosar entre os meninos. Pelos meus pais serem muito compreensivos, deixaram a escolha para mim. Não sei se essa foi uma atitude boa deles, mas hoje entendo tudo o que aconteceu, já não me dói”, contou para mim.

Ao lado de Rafael, seu irmão, Theo, e os pais Cristina e Guto. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Resolveu, então, esperar o Ensino Médio acabar e tentar cursar Relações Internacionais. Passou no vestibular, ingressou em uma das melhores faculdades do país, mas também não se adaptou. Largou o curso e, enquanto decidia o que iria fazer, lembrou do prazer que sentia quando escrevia. Além do videogame e do futebol, Rafael também era autor de crônicas e ficções. Pensou que o Jornalismo seria uma boa opção. E, após quatro anos de curso, ganhou o diploma como jornalista, em 2020. Virou um dos maiores motivos de orgulho na família, que o apoiou desde o início na decisão.

Na faculdade, fez novas amizades e conheceu a namorada, com quem mantém um relacionamento de três anos. Durante esse processo de amadurecimento, sua maior dificuldade foi, sobretudo, a timidez. “Agora tenho amigos muito próximos, mas foi um longo caminho. Precisei amadurecer para entender o meu lugar e me aproximar de pessoas diferentes, mesmo sendo mais na ‘minha’”, explica Rafael.

E é possível perceber que essas marcas da timidez permanecem até hoje. Sem fixar os olhos na tela do computador, na qual me vê, ele dá apenas respostas curtas. É preciso cutucá-lo cada vez mais para conhecer sua história. O jovem assume que ainda carrega um pouco dessa dificuldade, mas apenas com pessoas que não conhece tão bem. Segundo ele, inclusive, tal traço de personalidade, o qual julgava sua pior barreira, já nem o atrapalha mais na carreira.

De fato, tudo parecia estar no devido lugar. Mas, em 2017, Rafael teve que passar por uma separação que o marcou: Guto, seu pai, foi demitido do trabalho em Belo Horizonte e recebeu uma proposta de emprego em Brasília, como gerente de uma multinacional. Sua mãe precisou se mudar com ele, e Rafael e Theo acabaram ficando para trás. “A convivência com o meu irmão ficou mais difícil porque não tenho os meus pais para intermediar. Eles eram todo o nosso suporte. Quer dizer, sempre fomos o suporte uns dos outros, só que a distância estragou um pouco disso”.

“Precisei amadurecer para entender o meu lugar e me aproximar de pessoas diferentes” – Rafael Carelli, 25 anos

Desempregado e longe de quem mais ama, ele agora tenta conviver com a solidão, as incertezas profissionais e a saudade. “Distribuo currículos para todos os lados, mas meio que me sinto sozinho nessa caminhada. Minha dependência emocional com eles ainda é muito forte”, pontua.

Suas atuais expectativas estão no 23º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, cuja realização é feita no Espírito Santo. Após um processo seletivo aberto para estudantes e recém-formados de Jornalismo do país inteiro, ele e sua namorada – por mera coincidência – fazem parte dos 12 alunos que poderão acompanhar de perto a produção do maior grupo capixaba de comunicação.

As malas já estão prontas para o mineiro se aventurar, mais uma vez, em novas experiências. Pelo o que parece, é tudo o que ele mais deseja: fazer parte de algum lugar, sem a presença dos antigos fantasmas das separações e frustrações.

Quando estou prestes a encerrar a conversa, Rafael já parece mais solto. Até penso em fazer outras perguntas, mas não há tempo. Nos despedimos com um afetuoso “até logo”, carregado com a mistura do Espírito Santo e de Minas Gerais.