O jovem baiano contador de histórias

Daniel Reis é recém-formado em Jornalismo

Daniel Reis usa a sua curiosidade para contar as histórias que ninguém vê. Sua trajetória passa pelo rádio, pesquisa em campo e até participação em um site memorial das vítimas da pandemia

Em meio a centenas de candidatos, Daniel Caixeta Mansur dos Reis é um dos 12 aprovados para o Curso de Residência em Jornalismo Rede Gazeta em 2020, e mostra que não foi sorte. Aos 22 anos de idade, o baiano acumula uma bagagem expressiva. Chegou a cogitar o curso de História, mas foi no Jornalismo que se encontrou. Um jovem comunicativo, curioso e que ama contar histórias de pessoas.

Aos 15 anos precisou deixar sua cidade-natal, Salvador (BA), para se mudar com seus pais, o irmão gêmeo e o irmão caçula para Viçosa (MG). A princípio relutou, pelos amigos que iria deixar e pelas belezas naturais do litoral baiano que não mais veria todos os dias. Tinha ainda, a sensação de que morar numa cidade pequena no interior mineiro poderia ser um retrocesso. No entanto, surpreendeu-se em seu novo lugar. Os ares de Viçosa impulsionaram Daniel a dar mais atenção aos estudos e a buscar mais conhecimento.

Daniel Reis é recém-formado em Jornalismo pela UFV
Daniel Reis é recém-formado em Jornalismo pela UFV

No tempo livre, o jovem comunicador se divide entre uma boa roda de conversa com os amigos, viajar e cozinhar, sem o peso de ter que se decidir entre a culinária baiana ou a mineira. Afinal, há espaço em seu cardápio para todas as culturas, ora um bom torresmo, ora algumas rodadas de acarajé feitos por ele mesmo. Apaixonado pela paisagem da Praia do Arpoador, no Rio de Janeiro, o cenário é um dos cartões-postais que o faz refletir sobre as diferenças sociais da cidade, como um todo.

Em 2016, começou sua trajetória acadêmica na Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde se formou no início deste ano, engajado no Jornalismo Esportivo. Apresentava um programa na Rádio Universitária de Viçosa. Seu trabalho ganhou destaque com a entrevista exclusiva feita com o jogador de futebol Reinaldo, ídolo do Clube Atlético Mineiro, de passagem pela cidade. O feito lhe rendeu convite para escrever para o jornal Opção News, um portal de notícias sobre a região.

A experiência de acompanhar o cotidiano da sociedade por cerca de um ano, despertou no jovem jornalista a necessidade de falar mais sobre a vulnerabilidade social. No anseio de abrir um espaço de diálogo para quem, normalmente, não tem visibilidade, iniciou um canal audiovisual que rendeu duas entrevistas. Suficientes para motivá-lo a aprofundar-se no tema e a engajar-se no Jornalismo Humanitário.

O contador de histórias passou cerca de 40 dias em Boa Vista (RR), no norte do país, acompanhando o trabalho da Operação Acolhida, desenvolvida pela força-tarefa do governo federal. O trabalho de campo, em 2019, rendeu uma narrativa sobre a situação dos refugiados venezuelanos que vêm para o Brasil em busca de uma condição de vida melhor, para o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

Em 2020, trabalhou voluntariamente para o site Inumeráveis, um memorial com o intuito de contar as histórias das vítimas da Covid-19 e gerar conscientização na população. Daniel Reis mantém a expectativa de continuar praticando no Curso de Residência o que mais ama fazer: ouvir pessoas, contar histórias e torná-las conhecidas a fim de contribuir, de alguma forma, com a sociedade.

O jornalismo e o mundo de possibilidades

 Formando em jornalismo, Israel Magioni fala sobre sua história e a escolha do jornalismo como profissão 

O sorriso tímido do começo da entrevista contrasta com o riso solto após uma pergunta sobre carnaval. É como se o jornalista se permitisse abrir à medida que ficasse seguro com a entrevista. Aos 23 anos, Israel Magioni se mostra como uma caixa de possibilidades. 

Filho de uma técnica de enfermagem e um autônomo, o jovem sempre teve o sonho de trabalhar com televisão e viu no jornalismo a porta de entrada para alcançá-lo. Nesse trajeto descobriu outros amores, como a política, a cultura e a escrita.

Juntando os três temas, escreveu um livro-reportagem como trabalho de conclusão de curso, “Histórias para ninar gente grande”, mesmo nome do enredo da sua escola do coração, Estação Primeira de Mangueira. Nele, o autor decidiu recontar a história do Brasil sob a ótica dos povos negros, indígenas e pobres, a partir de sua própria.

Enredos de carnaval são uma das paixões de Israel

O sorriso se transforma em olhar reflexivo quando nos conta os trajetos que fazia para ter acesso ao ensino. Depois de conquistar uma vaga no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes- Colatina), o estudante precisava pedalar cerca de 5 km até a área urbana de Baixo Guandu, de onde saía o ônibus à escola antes mesmo do sol nascer. “A rotina era puxada, sobretudo, na retorno, por volta de 13h. Baixo Guandu é uma das cidades mais quentes do estado, pedalar no sol cansa. No entanto, eu faria tudo de novo”, cita.

No IFES nasceu o amor pelo handebol. Capitão do time da escola, apresenta com orgulho as medalhas conquistadas. Segundo ele, o talento para o esporte veio da mãe, goleira na juventude. Do pai veio a paixão pelo futebol, contudo, a falta de habilidade com os pés fez com que Israel seguisse o caminho fora das quatro linhas, torcendo (pelo Flamengo) ou trabalhando.

A mesma situação ocorre nos carnavais. O jornalista descreve-se como um comentarista do “maior espetáculo do mundo”. Aqui, o sorriso era descontrolado, tamanha a empolgação ao contar sobre as coberturas realizadas e sobre a descoberta do carnaval quando menino. “Certeza que minha relação com o samba e o carnaval vem de sangue. Era a única atração não-cristã que minha mãe me permitia ver quando criança, porque via minha felicidade. Isso quando não me flagrava sambando atrás do galinheiro de casa”, revela. 

Samba não é o único ritmo da vida do estudante. Fã declarado de Beyoncé, o jornalista argumenta que a cantora trabalha com excelência para além da música, com clipes, filmes e álbuns que falam sobre empoderamento, cultura, raízes e política – este último tema frequentemente presente em sua vida e uma das áreas que pretende seguir no jornalismo.

Ao encerrar, Israel diz o porquê de ser jornalista. “Vejo o jornalismo como um mundo de possibilidades e onde eu posso falar sobre os mais variados assuntos. Gosto de muita coisa e gosto de entender sobre elas, ouvindo, lendo, e o jornalismo me permite isso. Sendo bem clichê, acho que eu não descobri o jornalismo, ele me encontrou e sou grato por isso”.

Veja como foi a aula inaugural do Curso de Residência, com o presidente da ANJ

“Você pode ter todo o recurso do mundo e acesso à informação, mas não ter independência. Independência é ter distanciamento para elogiar ou criticar, fazer denúncias ou investigações. Esta é a grande diferença do jornalismo profissional. A independência é a base da credibilidade”. A afirmação do presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech, deu o tom da aula inaugural do 23º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, realizada nesta segunda-feira (21).

Rech, que tem 41 anos de experiência jornalística e é vice-presidente Editorial e Institucional do Grupo RBS, do Rio Grande do Sul, conversou com os 12 novos residentes sobre “Os Desafios e Oportunidades do Jornalismo em 2020″. Os futuros profissionais receberam as boas-vindas do diretor-geral da Rede Gazeta, Café Lindenberg. Em seguida, ouviram do presidente da ANJ análises sobre as mudanças do jornalismo pós internet, os ataques orquestrados por políticos contra a imprensa e a missão do jornalismo profissional.

Os novos residentes também participaram da transmissão ao vivo com perguntas (Foto: Reprodução/A Gazeta)

A palestra foi transmitida ao vivo em A Gazeta e pode ser revista aqui.

Neste ano, o Curso de Residência passou por adaptações em sua dinâmica, com o objetivo de se adequar às medidas de saúde e segurança exigidas pela pandemia do coronavírus. Assim, o programa vai seguir o movimento feito pelas redações jornalísticas de todo o país e integrar, ao longo de três meses, atividades a distância e presenciais.

Na conversa que abriu a programação da edição 2020, Marcelo Rech destacou ainda que os jornalistas não produzem boatos nem iludem as pessoas. “Precisamos ajudar o jornalismo profissional a se fortalecer, sobreviver e seguir em frente em sua missão. Estamos no ramo do acerto, ao contrário de quem produz desinformação”, afirmou.

Confira a seguir os principais trechos da palestra:

TECNOLOGIA E MUDANÇAS NO JORNALISMO

A internet derrubou as barreiras de entrada no Jornalismo. Hoje, uma pessoa sozinha, com uma câmera de 300 dólares, entra ao vivo em um telejornal em alta definição, manda um recado para o mundo e se coloca como concorrente dos veículos de comunicação. Qualquer um é produtor de informação.

Qual sempre foi o maior desejo de um repórter? ser lido ou ser visto pelo maior número de pessoas e gerar impacto com sua notícia. Quando eu era pequeno, líamos as revistas e jornais que chegavam. Hoje temos incontáveis canais de televisão que podemos assistir via digital, centenas de canais a cabo e uma quantidade infindável de conteúdos em sistema de streaming. O desafio é fisgar a atenção das pessoas. É um fenômeno psicológico, quase adictivo. Temos que disputar a atenção sem usar armas apelativas.

INDÚSTRIA DE ATAQUES À IMPRENSA

Há uma industrialização dos ataques à imprensa. Não é só no Brasil. É em todo o mundo. Esses ataques têm uma finalidade: são travestidos como “atacar o establishment” e, muitas vezes, vêm de candidatos políticos que se colocam como “antiestablishment”. Donald Trump, que é um bilionário que surgiu do establishment, se pôs como um antissistema. Candidaturas ligadas à direita mais radical instrumentalizaram o ataque ao jornalismo profissional. Por que? Porque é o jornalismo tradicional que combate o discurso de ódio, que é o que leva à eleição de políticos com causas radicais. Esse movimento é pendular. Ora vem da direita, ora vem da esquerda, em maior ou menor intensidade.

Jornalistas e repórteres sofrem ataques de maneira orquestrada nas ruas, de forma física ou de forma moral. Esse é um fato adicional de dificuldade, mas precisamos saber que isso não acontece por acaso. Há uma indústria por trás. Precisamos ajudar o jornalismo profissional a se fortalecer, sobreviver e seguir em frente em sua missão.

INDEPENDÊNCIA E CREDIBILIDADE

Você pode ter todo o recurso do mundo e acesso à informação, mas não ter independência. Independência é ter distanciamento para elogiar ou criticar, fazer denúncias ou investigações quando algo acontecer. Esta é a grande diferença do jornalismo profissional. A independência é a base da credibilidade.

Não é que a gente acerte em tudo. A gente erra muito. Nós lidamos com subjetividade e ninguém busca o erro. Eu sempre comparo o jornalismo com a medicina: os médicos têm técnica, têm conhecimento e usam parâmetros para salvar vidas. Assim como há médicos mais qualificados e menos qualificados, há veículos de imprensa mais e menos qualificados.

Nós não estamos no ramo do erro. Estamos no ramo do acerto, ao contrário de quem produz desinformação. Nós não produzimos boato, não iludimos as pessoas.

JORNALISTA 24 HORAS

Você não pode fazer cobertura política tendo ligação política. O jornalista é jornalista no fim de semana, no feriado, nas horas vagas. Uma carteirada arrasta a reputação dele, a do veículo e a de todos os colegas. Temos que ter uma consciência de cidadãos, temos que nos comportar e ter atitudes corretas.

Nosso papel é contestar. Mais que apurar e opinar, temos que ser certificadores da verdade. Aí é que está o valor da atividade final. E muitas pessoas não podem fazer isso porque estão comprometidas com causas ou interesses. Jornalista não faz ativismo, não faz propaganda.

JORNALISMO DE SOLUÇÕES

O jornalismo é antecipativo. Essa é uma tendência. Temos que apontar cenários. Não podemos ficar atrás, correndo para catar os cacos e as sujeiras deixadas pelas redes sociais. Outra tendência importante é mostrar soluções. Se trouxermos elementos concretos e baseados em fatos, estamos ajudando a encontrar soluções.

O RISCO DAS REDES SOCIAIS

A rede social é a maior destruidora de reputações de jornalista. Porque, quando eu ligo para uma fonte, ele entra na rede social e sabe tudo sobre a minha vida. Se a fonte consegue identificar o viés político ou ideológico de um jornalista, já perde a confiança na independência ou na abordagem daquele assunto. O jornalismo está sob ataque.

Veja quem são os aprovados para o 23º Curso de Residência em Jornalismo

A banca avaliadora do 23º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta encerrou, na manhã desta sexta-feira (18), as entrevistas com os 30 finalistas do processo seletivo. A novidade é que, devido à alta performance dos candidatos, em vez de 10 alunos, a edição deste ano do curso terá 12 participantes.

Confira quem foi aprovado:

Daniel Caixeta Mansur dos Reis (Viçosa/UFV)
Israel Magioni Zuqui (Cariacica/Ufes)
Karolyne Mayra Souza da Silva Bertordo (Vila Velha/Ufes)
Lorraine Paixão Lopes (Serra/Ufes)
Maiara Dal Bosco Silva (Goiânia/UFGO)
Maria Fernanda Figueiredo Conti (Vitória/Ufes)
Monica Moreira (Serra/Faculdade Estácio de Vitória)
Nádia Gomes Pereira Prado (Belo Horizonte/PUC-MG)
Rafael Vieira Carelli (Belo Horizonte/PUC-MG)
Thayná Araújo Fernandes (Varginha/Centro Universitário do Sul de Minas)
Vinicius Viana Roza (Serra/Ufes)
Vinicius Zagoto Gomes (Castelo/UFV)

O 23º Curso de Residência em Jornalismo começa nesta segunda-feira (21), com a aula inaugural proferida pelo presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech, que vai falar sobre “Desafios e oportunidades do jornalismo em 2020”. A palestra será transmitida, ao vivo, a partir das 16 horas em www.agazeta.com.br/eventos.

Conheça os 30 finalistas do 23º Curso de Residência em Jornalismo

O processo seletivo para o 23º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta entra em sua última etapa nesta terça-feira (15), com as entrevistas individuais dos 30 finalistas. A seleção começou com 365 candidatos, dos quais 191 participaram da segunda fase – a prova de redação jornalística.

Os 30 finalistas são aqueles que tiveram as melhores notas na redação, realizada na última sexta-feira (11) após uma palestra on-line com o comentarista da CBN Vitória Fernando Galdi. O tema foi “os impactos da pandemia na economia do Espírito Santo e do Brasil”.

Entre esta terça (15) e sexta-feira (18), os candidatos que seguem na disputa serão entrevistados por uma banca de especialistas de RH, Jornalismo e Entretenimento da Rede Gazeta. O resultado final, com os 10 residentes que participarão do programa de imersão, será conhecido na próxima sexta-feira (18) à noite.

Conheça os 30 candidatos que participarão da última fase da seleção:

  • Amanda Andrade
    Arliss Amaro de Sousa
    Camilla Pessoa Barros Bibiano
    Daniel Caixeta Mansur dos Reis
    Felipe Fonseca Khoury
    Isabela Dantas da Silva
    Israel Magioni Zuqui
    Karolyne Mayra Souza da Silva Bertordo
    Kennedy Anderson Cupertino de Souza
    Lorraine Paixão Lopes
    Lucas Lanna de Souza Oliveira Resende
    Lucas Santos Pinto
    Luísa Michels Surdi
    Lydia Mendes Lourenço
    Maiara Dal Bosco Silva
    Maria Fernanda Figueiredo Conti
    Matheus Foletto Dias Leitão
    Mônica Moreira
    Nádia Gomes Pereira Prado
    Rafael Vieira Carelli
    Rhenzo José Nogueira
    Rodrigo Salgado Fernandes
    Taisa Barboza Vargas Pereira
    Thalia Aparecida Gonçalves
    Thayná Araújo Fernandes
    Vinícius Viana Gonçalves Roza
    Vinicius Zagoto Gomes
    Vitor de Araújo Vasconcelos
    Weslley Vitor da Silva
    Yvena Plotegher Pelisson

Por que a foca é o símbolo do Curso de Residência?

O Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta chega à 23ª edição e, entra ano, sai ano, ela está lá: a foquinha da nossa logo. Este ano, ela ganhou um ar mais jovial, mas não podia ficar de fora. Mas você já se perguntou por quê a foca é símbolo deste curso? A gente conta: dentro das redações, os jornalistas recém-formados e ainda sem experiência são chamados de “focas”.

Não se sabe ao certo de onde o termo se origina, mas é utilizado como forma de afeto entre os profissionais para identificar os mais novos no mercado. Nos Estados Unidos o foca é chamado de “cub”, que significa filhote em inglês.

Conheça os “focas” de 2020

O jornalista e professor universitário Fabiano Mazzini conta que chegou ao mercado quando o termo era mais utilizado e viu a transição do jargão para o termo estagiário. “Quando cheguei ao mercado todo jornalista recém-formado era chamado de foca, independente da redação que estivesse atuando. Com o passar do tempo o termo foi deixando de ser utilizado em alguns locais. Hoje chamaríamos os focas de estagiários, já que só eram considerados focas os profissionais ainda inexperientes”, diz o professor.

Jornalistas Pioneiros na Rural: Sobre este blog*, o jornalismo e o foca (não necessariamente nesta ordem)O termo “foca” foi muito utilizado a na década de 80 e 90, mas caiu em desuso com o passar dos anos. Hoje os acadêmicos procuram vivenciar a realidade das redações ainda durante sua formação. Logo, não são mais tão inexperientes quando finalizam a graduação.

Durante todo o Curso de Residência em Jornalismo, a foca estará presente em tudo que envolva os participantes. Ela estará no material produzido por eles, n uniforme, em tudo! Afinal, queremos nossos foquinhas carinhosamente marcados para sempre em nossa história.

“Pandemia mostrou que informação salva vidas”. Confira como foi o lançamento do Curso de Residência 2020

Nos próximos anos, quando a História do jornalismo contemporâneo for contada, a pandemia certamente terá lugar central. Afinal, nenhum fato mudou tanto a rotina das Redações quanto a escalada mundial do coronavírus. Ao olhar para a transformação imposta pela Covid-19, os repórteres Nilson Klava e Murilo Salviano são unânimes em dizer: a pandemia mostrou o quanto informação é vital.

Os dois conversaram com o público, nesta quarta-feira (26), sobre “Como a pandemia impactou o dia a dia do jornalismo”, para marcar a abertura das inscrições do 23º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. O programa de treinamento será realizado entre os dias 21 de setembro e 4 de dezembro, em uma etapa a distância e outra presencial. As inscrições para o processo seletivo terminam em 8 de setembro.

Nilson Klava e Murilo Salviano conversaram sobre os impactos da pandemia na rotina do jornalismo (Foto: Reprodução/A Gazeta)

“Numa pandemia, a informação salva vidas. As pessoas estão em casa acompanhando o que acontece no mundo pelo jornalismo profissional. É um momento super desafiador. Ao mesmo tempo em que tem essa angústia que a pandemia representa, tem o compromisso do jornalismo com a informação”, avalia Klava, 24 anos, repórter de política da Globo News em Brasília.

Distanciamento e inovação
De estagiário a setorista do Congresso Nacional, Nilson Klava – chamado carinhosamente de Nilsinho pelos colegas na TV – se viu obrigado a manter distância física da notícia e das fontes desde a chegada da pandemia. Sem poder observar os bastidores, as conversas extraoficiais e a movimentação dos políticos, teve de contar apenas com o relacionamento que havia estabelecido e com a confiança das fontes.

A live marcou o pontapé inicial para o 23º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta (Foto: Caroline Mauri)

O desafio, ele diz, é passar o clima sem o clima. “Estar ao vivo não é só ao vivo pelo nome. É ao vivo também pelo vigor que você coloca na sua entrada”, avalia.

A comunicação não verbal que ajuda a contar uma boa história também fez falta a Salviano, 30 anos, repórter especial do Fantástico. Mas o jornalista transformou a limitação em oportunidade para experimentar outros jeitos de fazer uma reportagem. Foi dele a primeira matéria produzida integralmente por videoconferência, “Como manter a saúde mental durante o Isolamento”, para a revista dominical da Globo.

Em março, quando a pandemia foi oficialmente declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Salviano estava nos Estados Unidos, fazendo um curso na Universidade de Columbia, em Nova York. Isolado no exterior e com a pauta sobre saúde mental nas mãos, entrevistou, por videoconferência, uma cientista da Universidade de Harvard. “Meses atrás, se eu fosse fazer uma reportagem com ela, teria que mandar uma equipe para Nova York. A equipe teria que chegar na casa dela, passar meia hora montando equipamento. Agora o que a pessoa faz: pega o celular e, em 5 minutos, consegue se conectar comigo. Nesse ponto, a mudança ajudou”, compara.

Fake news X jornalismo
Salviano destaca ainda duas mudanças no jornalismo da pandemia. Uma delas é que a multiplicação das fake news acabou reforçando a relevância do jornalismo profissional. “Na pandemia, as pessoas perceberam como fake news podem matar. Entrevistei familiares de vítimas do coronavírus que me contaram como fake news influenciaram na morte de parentes. Por exemplo, um pai de família que decidiu não usar máscara porque leu no WhatsApp que não precisava e acabou morrendo”, conta.

Os convidados falaram de fake news, distanciamento e deixaram um recado aos futurros residentes (Foto: Caroline Mauri)

O outra é que muita gente que antes apenas assistia passou também a produzir imagens e informações. E é neste contexto que os 10 residentes escolhidos no processo seletivo do Curso de Residência farão sua imersão no jornalismo.

Este ano, o Curso de Residência será dividido em duas fases. A primeira, on-line, começa em 21 de setembro e vai até 16 de outubro. Na segunda, a partir de 19 de outubro e até 4 de dezembro, os alunos vão vivenciar, presencialmente, o dia a dia de apuração e da produção de notícias em A Gazeta, TV Gazeta e na CBN Vitória.

Recado aos futuros residentes
Para os futuros residentes, Salviano e Klava têm um recado importante. “Acredito muito na formação. Você conquista seu espaço aos poucos, a cada passo. E o que foi crucial para mim foi ter resiliência, acreditar que eu poderia desenvolver o jornalismo que sempre sonhei. A gente não recebi sim o tempo todo, a gente não começou assim do jeito que está hoje”, afirma o repórter especial do Fantástico.

O colega da GloboNews concorda: resiliência, paciência e preparação pavimentam o caminho de um bom jornalista. “A oportunidade vai aparecer, mas você tem que estar preparado para agarrá-la. Essencialmente neste início é importante identificar aquilo que toca o seu coração, dedicar tempo para identificar dentro de você aquilo que você ama, que faz o seu coração bater mais forte, que te traz brilho nos olhos. Se você for verdadeiro, você vai estar vivo ao vivo. Esse vai ser o seu diferencial”, sugere.

As inscrições para o processo seletivo do Curso de Residência podem ser feitas em redegazeta.com.br/residencia. Confira a seguir o cronograma completo da edição 2020:

  • Inscrições para o curso: 24/08 a 08/09
  • Prova de conhecimentos gerais on-line: 10/09
  • Prova de redação jornalística on-line: 11/09
  • Entrevistas individuais: 15 a 18/09
  • Anúncio dos 10 residentes selecionados: 18/09 à tarde
  • Aulas e oficinas de produção (fase a distância): 21/09 a 16/10
  • Imersão presencial na Rede Gazeta: 19/10 a 04/12

Curso de Residência é programa para mergulhar de cabeça no jornalismo

Palestras, aulas de jornalismo, oficinas e acompanhamento diário da produção de notícias fazem parte da programação do Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, que chega à sua 23ª edição em 2020. Neste ano, por causa da pandemia do coronavírus, o programa vai seguir o movimento feito pelas redações jornalísticas de todo o país e integrar, ao longo de três meses, atividades a distância e presenciais, seguindo as premissas de distanciamento social e normas de segurança e prevenção à Covid-19.

 

Podem participar estudantes e recém-formados de quaisquer áreas, desde que a graduação se encerre entre julho de 2019 e julho de 2021. Durante o Curso de Residência, os residentes assistem a palestras de  profissionais experientes de dentro e fora do Estado, têm aulas de Língua Portuguesa, redação jornalística, checagem de dados e acompanham o cotidiano da produção diária no site, rádios e TV da empresa. O objetivo é melhorar a qualificação profissional e aproximar estudantes e recém-formados  do mercado de trabalho.