Diretor financeiro se despede após 41 anos na Rede Gazeta

Adinalte Beltrame é um dos funcionários mais antigos da empresa

Por Ismael Inoch - atualizado em 30/05/2017 as 12:18

Ismael Inoch

Ismael Inoch

Valtinho e a colega de trabalho Eunice

Os colegas de trabalho do setor de Finanças, Planejamento e Controladoria da Rede Gazeta prepararam uma surpresa para o diretor da área, Adinalte João Beltrame (conhecido como Valtinho) e a especialista em Tesouraria Eunice Martins Dantas. Um café da manhã no Centro de Eventos e Treinamentos (CET), nesta quinta-feira (27),  marcou a despedida dos dois da empresa. Ele atuou por aqui durante 41 anos e ela 39 primaveras.

Eunice e Valtinho (centro) ao lado dos colegas de trabalho

Eunice e Valtinho (centro) ao lado dos colegas de trabalho

Eunice e Valtinho (centro) ao lado dos colegas de trabalho

O diretor-geral da Rede Gazeta, Café Lindenberg, agradeceu Valtinho pelas décadas dedicadas aos negócios da empresa e destacou que o profissional é responsável pela posição e credibilidade adquiridas durante esse período. “É um legado que carregamos. Agradeço também a Eunice (tesouraria) que durante décadas nos bancou. Passei por boas instituições de ensino mas a maior parte do que aprendi na vida profissional foi do lado de Valtinho, desde a lidar com pessoas até com negócios e questões éticas”, explicou.

Valtinho agradeceu por tudo e se emocionou. “Sempre fiz o que acreditava. Obrigado pela confiança no meu trabalho. O legado pelo qual me dediquei foi passar o que sei para a equipe”, disse o diretor que se despede ao ser interrompido pelas lágrimas.

Valtinho tem71 anos e trabalhou na na empresa desde 1976, ano da inauguração da TV Gazeta. O jornal A Gazeta fez uma entrevista especial com o diretor financeiro da Rede Gazeta. Confira a reportagem:


“A notícia é dada e ponto. Seja boa, seja ruim, A Gazeta vai dar”
Diretor financeiro da Rede Gazeta, Adinalte Beltrame é um dos funcionários mais antigos, com 41 anos de empresa

Abdo Filho

Trabalhador. Dedicado. Simples. Comprometido. Sério. Esses são os adjetivos utilizados pelos colegas quando perguntados sobre Adinalte João Beltrame, o Valtinho, que, aos 71 anos, despede-se da Rede Gazeta no dia 2 de maio. Trabalhando na empresa desde 1976, ano da inauguração da TV Gazeta, e para a empresa desde 1970, Valtinho, um homem avesso aos holofotes, é protagonista na história da Rede Gazeta. Ele encerra a carreira como diretor financeiro, setor que está sob a sua responsabilidade desde a sua contratação, há exatos 41 anos. Sua dedicação foi primordial para o crescimento sólido e sustentado da Rede, mas seu grande feito foi fazer da Gazeta uma empresa independente: “Nós não dependemos de dar qualquer notícia para agradar quem quer que seja por conta de dinheiro”.

O senhor comanda, há 40 anos, as finanças de uma empresa de comunicação. Embora muitos não façam essa relação, o seu trabalho tem muito a ver com jornalismo. Como é isso?

Tem a ver com a independência. A redação é a redação e o financeiro é o financeiro, não há qualquer vínculo entre o dinheiro e a notícia. A nossa independência é tudo que nós temos. É o nosso maior valor. Graças a Deus a Rede Gazeta é assim. Nós não dependemos de dar qualquer notícia para agradar quem quer que seja por conta de dinheiro. A notícia é dada e ponto. Seja boa, seja ruim, A GAZETA vai dar.

Vitor Jubini

Vitor Jubini

Adinalte Beltrame, o Valltinho, se despede da Rede Gazeta

Como o senhor está vendo essa crise, a maior da história brasileira, e seus impactos na indústria de mídia?

Vejo duas coisas fantásticas nesse momento. A primeira é a Lava Jato. Apareceu um cidadão fora dos parâmetros (o juiz Sérgio Moro), um cara novo, com a equipe boa. O segundo aspecto importantíssimo desse momento é a imprensa livre. A maior cobertura dada ao Moro, do ponto de vista do apoio, é dada pela imprensa. Se fecharem todos os veículos e não sair a informação, acabou a Lava Jato. O que entristece é essa situação completamente fora da curva do Brasil. O sujeito não rouba mais R$ 200, é tudo na casa dos bilhões. É um momento perigoso.

Do ponto de vista da economia, já enxerga uma luz no fim do túnel?

Tem muita coisa boa para acontecer, mas o governo (federal) que aí está tem que tocar as reformas. Se não mexermos nas questões trabalhista, tributária… A coisa vai piorar. Temos alguns bons sinais, juros e inflação caindo, tem uma linha, mas a economia vai responder devagar. Estamos falando de coisas graves. A Lava Jato é fantástica, a melhor coisa que aconteceu nesse país, pelo menos desde que eu estou vivo, mas está nos mostrando coisas muito graves. Veja o que está acontecendo com o Rio. Tem uma luz no fim do túnel? Tem, mas as coisas estão complicadas. Aqui no Espírito Santo temos uma situação melhor, mas nada será fácil.

Por que é tão difícil abrir e manter um negócio no Brasil?

Os custos – tributários, trabalhistas, para montar qualquer negócio – são muito altos. Em quase todas as situações, o produto nacional é mais caro do que o importado. Algum problema tem. As reformas precisam ser feitas para aliviar um pouco a carga em cima do empreendedor. Não estou falando só de impostos, falo também da burocracia. Se você é dono de um negócio, precisa ficar dizendo para o governo 200 vezes que você é dono daquilo ali! Todo ano você tem que prestar as mesmas declarações, livros… É difícil… Tem que simplificar isso aí. Um custo, um gasto de energia enorme para bancar algo ineficiente.

Vamos à sua história aqui na Gazeta. Como o senhor chegou na empresa? Como foi a sua trajetória aqui dentro? É verdade que o senhor foi contratado meio sem querer?

(Risos) É mais ou menos por aí. Eu, lá no começo dos anos 1970, tinha um escritório de contabilidade que, por conta de todos esses problemas já relatados, acabou fechando as portas. Na hora que cada um dos sócios (o irmão mais velho e um primo de Valtinho) foi tomar um rumo na vida, eles, sem a minha presença, acertaram com Cariê (Carlos Lindenberg Filho, então presidente da Rede Gazeta) que eu viria para ser o contador da Gazeta, que era o que eu já fazia há seis anos (a Gazeta era cliente do escritório de contabilidade). Me chamaram, me ofereceram um dinheiro, que, se não era muito, satisfazia na época, e eu virei o contador. Menos de três meses depois já estava lá contando o dinheiro. Cariê falou para eu tomar conta disso, daquilo, incluiu a cobrança… Aquela habilidade dele me levou a me meter nesse troço.

O senhor foi contratado em 1976, ano da inauguração da TV Gazeta, logo ganhou a confiança dos acionistas e viu a empresa mudar de patamar. Como foi isso?

Cheguei aqui em maio de 1976. Estavam aqui Carlos Fernando (Cariê), que era novo, seu Eugênio Pacheco de Queiroz (tio de Cariê, presidiu a Gazeta nos anos 50), que já tinha uma idade mais avançada. Estava aqui também o general Darcy (Pacheco de Queiroz, tio de Cariê, que esteve à frente da Gazeta nos anos 60), que era uma figura. E tinha um cara que era mais mão de ferro do que eu: o seu Davi Pimenta. O Davi Pimenta guardava o lápis dentro do cofre (risos)! Eu comecei a ser criado nesse caminho, com o objetivo de fazer o controle. No início era tudo pequeno, equipe pequena, tudo passando pelas minhas mãos, pagava tudo em dinheiro… Com o tempo, as coisas foram evoluindo, doutor Carlos sempre muito cauteloso, media muito o que fazer. Sempre esteve dentro da empresa, sempre se preocupou com a empresa e não com o bolso dele, isso facilitou a minha vida. Antes de fazer qualquer coisa, medíamos os prós e contras, isso dá tranquilidade para você trabalhar.

Como foi processo de crescimento da empresa? E as dificuldades desse processo?

Lá atrás, nós pensávamos que a TV viria para dar suporte ao jornal. Era o que doutor Carlos dizia. Nem ele tinha a consciência do que seria a televisão no futuro. As duas empresas (TV e jornal) foram sendo tocadas até que, de repente, a TV deslancha.

Aí a Rede Gazeta entra em outro patamar.

Sim. Não tinha nada, nem agência de propaganda no Espírito Santo tinha. Isso tudo foi a Rede Gazeta, com a chegada da televisão, que trouxe. Tinha a questão do padrão Globo, que exigia mais profissionais e cada vez mais qualificados. Foi um processo que fortaleceu não apenas A Gazeta, o jornal A GAZETA, mas toda a comunicação aqui do Espírito Santo.

Há histórias ótimas sobre os primórdios da TV, um período de muita dificuldade. Como era para transmitir um jogo ou um filme?

Era muito simples (risos)! Para transmitir uma partida de futebol você tinha que pedir uma linha na Embratel via formulário. Mas, para conseguir na prática, tinha que ter um amigo lá dentro. Era coisa rara, nos anos 70, passar futebol aqui. No filme era pior, porque tinha que vir o rolo de filme para cá. Vinha por malote. Na época, era fantástico, mas, olhando agora, o processo era arcaico.

Qual é o momento mais marcante nesses seus 41 anos de Gazeta?

(Pausa) É, é um negócio… É uma vida. Não tive nenhuma dificuldade pessoal. Cariê, desde o início, sempre me ajudou bastante, como ajuda até hoje. São 41 anos de coisas boas. Dissabores todo mundo tem, mas eu criei meus filhos, minha família… Trabalhar com as pessoas com que eu trabalhei aqui dentro é um prêmio!

O senhor é tido como mão fechada. É bom ser mão fechada?

Aqui dentro sim.

E lá fora?

Lá fora não (risos). Lá fora eu sei o que eu faço, o que eu tenho. Aqui dentro é dos outros (risos).

O senhor trabalhou com três gerações da família Lindenberg: Carlos Lindenberg (pai), Cariê (Carlos Lindenberg Filho) e Café (Carlos Lindenberg Neto). O que mudou?

O mundo mudou e nos forçou a mudar. Doutor Carlos, pai, era uma pessoa mais tranquilona. Cariê já era um cara mais agitado, mas sempre com uma visão segura das coisas, sabendo o que queria. Café entrou na modernidade, já na mudança de patamar, sem aquele engessamento, com mais abertura. Ele também é “munheca”, mas já com mais abertura.

E o que não mudou?

A maneira de trabalhar. A segurança, evitando o risco. Desde o início é assim e continua sendo assim. Espero que continue, para as novas gerações. Eles sempre souberam o que queriam. Doutor Carlos, filho, que foi quem praticamente criou o negócio da maneira como ele está hoje, sempre foi um cara muito seguro e muito humano. Cariê é um ser humano fantástico. Ele coloca o ser humano acima de tudo, a amizade… Respeita muito. Sempre foi assim.

O que diria para quem está começando a carreira agora?

Tem que pensar naquilo que é o ideal para ele. Naquilo que ele quer para ele. Se ele quer ser veterinário, tem que ser o melhor naquilo que faz. Tem que cuidar e viver aquilo, fazer o que gosta. Tem que trabalhar, não tem conversa, então, melhor trabalhar naquilo que gosta. E mais, se cercar de boas pessoas. Ninguém faz nada sozinho. Veja o meu caso, para eu conseguir dar conta do recado, me cerquei de boas pessoas. Só posso elogiar a minha equipe. Cercar-se de pessoas honestas, competentes e que sabem o que precisa ser feito facilita muito a vida da gente.

O senhor é muito ativo, está nessa levada há mais de 40 anos e, agora, vai se aposentar. O que fará a partir do dia 2 de maio?

Primeiro vou descansar, tenho esse direito (risos). Nem sei para onde vou, mas vou dar uma saída. Dar uma repensada na vida, nenhuma grande mudança, mas é importante dar uma respirada. Depois, eu volto aqui para prédio da Gazeta, para uma sala que eles ainda estão providenciando, para seguir tomando conta de algumas coisas da família. Mas já fora da direção da empresa. Deixo de ser um diretor financeiro para ser um ajudante, como sempre fui. A família Lindenberg é extensão da minha, tenho que respeitar e ajudar no que for preciso. Também vou me dedicar mais à minha roça (risos).

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