Ensaio de A Gazeta ganha prêmio de diversidade e inclusão

Projeto produzido por Elis Carvalho e Vitor Jubini retrata frases racistas ouvidas por negros e negras diariamente. O projeto foi selecionado pelo Prêmio SBTD de Excelência

Por Ludson Nobre - atualizado em 17/05/2021 as 15:56

Texto: Daniel Pasti, repórter de A Gazeta

O ensaio fotográfico “Não parece racismo, mas é: as frases que negros não querem mais ouvir”, de A Gazeta, produzido pela repórter Elis Carvalho e pelo repórter fotográfico Vitor Jubini, foi premiado na categoria Diversidade e Inclusão do Prêmio Sociedade Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (SBTD) de Excelência de 2021.

Ensaio sobre o dia da Consciência Negra. Crédito: Vitor Jubini

As fotos retratam frases que são frequentemente escutadas por pessoas negras e que refletem o racismo explícito ou ainda velado que existe na sociedade brasileira. Elis contou, inclusive, que muitas destas frases ofensivas, que ela afirmou serem escutadas diariamente também pelos modelos, são disfarçados em tentativas de elogios.

“Percebi que todos tinham relatos muitos fortes de racismo disfarçados de elogio, de comentário inocente. Principalmente relacionados a cabelo… ser recriminado até mesmo na própria família, andarem na rua e as pessoas terem medo delas. Foram relatos muito pesados, enquanto a gente se empolgava pela troca, a gente ficava com aquele pesar de até ‘quando, né?’. De todo o processo de fotografia, para mim o que mais marcou foi esse momento de troca, de histórias tão parecidas de pessoas tão diferentes, todos escutam as mesmas coisas”, contou.

Estudante Hayom Tovi. Crédito: Vitor Jubini

A repórter explicou que já havia pensado na ideia de um ensaio fotográfico com essa temática anteriormente, mas que não conseguiu pôr em prática. Os planos viraram realidade em novembro de 2020, em que é celebrado o Mês da Consciência Negra. Elis explicou que sugeriu a pauta, reuniu as frases as quais queria retratar e, então, foi atrás de pessoas que aceitassem participar do projeto.

“Fui reunindo frases da minha vivência, da minha vida. Comecei a correr atrás de coletivos de pessoas negras que topassem falar sobre esse assunto. Pedi ajuda para eles indicarem pessoas que topassem participar. Montei um grupo e a gente começou a debater nossas vivências. Passei as frases que havia pensado e todos se identificaram muito”, relatou.

“VEIO PARA IMPACTAR”

O objeto principal do trabalho, segundo a repórter Elis Carvalho, era causar um impacto em quem visse as fotos. Isso, para a repórter, tem uma importância para além apenas da representatividade, mas também no intuito de conscientizar as pessoas de que frases como as que são retratadas nas imagens não devem ser repetidas.

“O trabalho veio para impactar mesmo, para chocar, para que as pessoas entendam que não vale mais atualmente repetir essas frases. É uma forma de impactar, de chocar, mas para que as pessoas repensem. Em um primeiro momento, muitas pessoas não percebem o preconceito, mas depois param e repensam”, pontuou.

“Eu e o Jubini (fotógrafo) ficamos surpresos e muito felizes porque foi um trabalho que gostamos muito do resultado. Tanto na troca de experiências quanto nesse viral. Quase todo dia vejo uma grande página postando e muitas pessoas comentam que já ouviram essas frases. Todas as pessoas vão se identificando muito rápido com aquelas frases, que parecem tão absurdas, mas são muito comuns até hoje””, conta Elis.

Ensaio sobre o dia da Consciência Negra. Crédito: Vitor Jubini

Vitor Jubini, repórter fotográfico responsável pelas imagens do ensaio, afirmou que a necessidade era de dar todo o foco aos modelos e aos cartazes que seguravam com as frases escolhidas. Para isso, a escolha foi por um fundo neutro, dando destaque maior ao primeiro plano.

“A partir da concepção que a Elis teve, me passou o que ela queria. A partir daí, comecei a traçar a técnica e o estilo de foto que eu ia usar para tirar o melhor da pauta. Meu trabalho foi na escolha do local, fizemos as fotos no teatro da Ufes. Optei por um fundo neutro e uma luz mais difusa, para dar o destaque todo nos modelos e nos cartazes que eles estavam segurando”, detalhou.

Jubini também ressaltou a importância no trabalho de direção dos fotografados. Segundo o repórter fotográfico, era importante que os modelos apresentassem uma feição mais séria, por conta da temática abordada no trabalho. “E teve o trabalho no sentido da direção, de tirar uma expressão dos fotografados que representasse aquela ideia daquelas frases que eles estavam segurando. Tentar tirar deles uma expressão mais séria pela seriedade da temática”, contou.

Muito além de apenas mais uma pauta, o ensaio foi para Jubini uma forma de aprendizado. Ele é branco e disse que não sente o peso do racismo na pele, mas que o trabalho de desconstrução do preconceito é diário e extremamente necessário. “Essa pauta foi um aprendizado nesse processo que nós temos e eu tento praticar de desconstrução do racismo. Isso tem que ser praticado sempre, mesmo não sentindo na pele, procuramos ouvir, ler e compreender, para que, quando aparecerem trabalhos como esses, saber como se comportar e como se colocar”, finalizou. Confira o ensaio completo na matéria em A Gazeta.

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