Os detalhes e pontos que mudaram a vida de Cleusa Corrêa

 

No Brasil, atualmente, são 24 milhões de empreendedoras, segundo pesquisa do GEM (Monitoramento de Empreendedorismo Global) de 2019, que é o maior estudo unificado das atividades empreendedoras no mundo. Cleusa Oliveira Corrêa é uma delas. A química por formação cultiva uma relação antiga com o empreender e trouxe consigo, até hoje, a força de vontade de gerir o próprio negócio. Hoje, Cleusa é empreendedora, costureira e vende acessórios femininos e utilitários.

A garota nascida em Osasco, no estado de São Paulo, há 52 anos, sempre observava o pai empreendendo quando ainda era pequena. A companhia durante o trabalho do pai na farmácia da família fez efeito e plantou a sementinha do empreendimento no coração de Cleusa. Mas o caminho não foi tão direto assim.

Cleusa trabalha em casa em um quarto que virou ateliê Foto/Reprodução: Acervo pessoal

Entre ela e o empreender estavam anos de muito trabalho em indústrias químicas. Cleusa é formada em química, pós-graduada em Gestão de Qualidade e trabalhou por mais de 25 anos no mundo corporativo. A profissional poderia até estar focada em béqueres e tubos de ensaio, mas as mãos, nas horas vagas, estavam no artesanato.

O artesanato entrou na sua vida quando Cleusa ainda era criança e observava sua avó costurando na grande máquina de costura. O que antes era apenas uma distração de menina se transformou em diversos cursos concluídos, da pintura de pano de prato ao patchwork, até a empreendedora chegar nos amados tecidos e, é claro, em um negócio. .

Enquanto ainda trabalhava em empresas, a artesã sempre tinha um tempo sagrado para continuar a produção dos seus trabalhos para alguns amigos e clientes selecionados.

No entanto, em 2008 o amor pela arte falou mais alto e Cleusa decidiu deixar os mais de 25 anos de trabalho em empresas para lidar apenas com os tecidos. 

Da esquerda para direita: Cleusa, Rebeca (filha) e Felipe (marido). Foto/reprodução: Acervo Pessoal

Segundo ela mesma, aplicada e talentosa com artesanato ela sempre foi, mas o empreender surgiu após muito estudo, em 2017. Só depois de diversas mentorias e cursos sobre empreendedorismo e finanças, Cleusa, que atualmente vive em Vitória, capital capixaba, viu aflorar  novamente o instinto empreendedor que puxou do pai e se tornou dona do seu próprio empreendimento online.  A loja “Detalhes e Pontos” (@detalhesepontosbolsas) surgiu com a força e delicadeza de seu trabalho para que, assim, ela continuasse a aumentar a renda familiar com a venda de bolsas femininas e acessórios utilitários.

Tudo é feito por ela, com muito carinho e profissionalismo: “Eu costumo dizer que sou minha EUquipe”, disse, dando risada. As funções de uma empreendedora dentro de um negócio pequeno são inúmeras como marketing, finanças, produção, relacionamento com o cliente e entrega.

A FORÇA DO ARTESANATO

Assim como Cleusa, muitas mulheres trabalham com artesanato e costura. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o setor de artesanato movimenta cerca de R$ 50 bilhões por ano no Brasil e é fonte de renda para aproximadamente 10 milhões de famílias: “Pude perceber o boom maior ainda na pandemia, conheço muitas mulheres que já mantinham suas famílias com artesanato e aumentaram o lucro com a costura de máscaras”, conta a costureira.

Bolsas e utilitários: os carros-chefes de Cleusa. Foto/Reprodução: Acervo Pessoal

Cleusa comenta a evolução do artesanato na vida das mulheres: “Antigamente tinha-se que artesanato era ‘Ah, fulana tá com depressão. O médico mandou fazer”. Hoje o artesanato é renda para muitas famílias brasileiras. 

Além da força para a economia e para a transformação da mulher, o artesanato traz benefícios até para a saúde. Segundo um estudo publicado na revista Neurology, quem faz artesanato é 73% menos propenso a desenvolver problemas de memória na velhice e o risco de demência diminui 45% comparado aos que não fazem nada relacionado à arte. Cleusa confirma o bem-estar de trabalhar com tecidos. “Eu sempre fui muito ansiosa, hoje estou melhor porque mexer com arte melhorou minha vida”, completa a artesã.

DORES E DELÍCIAS DO EMPREENDER

Quando Cleusa percebeu que era hora de largar o corporativismo e viver 100% de costura, sofreu com os olhares tortos e opiniões dispensáveis: “Recebi muitos feedbacks negativos no início. Falavam que eu era louca, com pós-graduação e muita experiência estar deixando tudo para trás”. Mas grandes realizações vêm de grandes escolhas e isso Cleusa fez com muita coragem.

Cleusa é feliz com a decisão de largar o mundo corporativo para viver de artesanato. Foto/Reprodução: Acervo Pessoal

Além da coragem, o empreendedorismo exigiu  disciplina, organização, persistência e paciência, traços inerentes em Cleusa. “Tenho muito foco. Eu sou persistente, eu vou e faço. Quando eu não sei, eu estudo, entendo e faço”. A costureira ressalta que a empreendedora é multifacetada e até relembra com sorriso no ar e diz: “Menina, você acredita que às vezes até psicóloga eu sou?”.

Os desafios do empreendedorismo são reais e um pouco mais árduos para as mulheres, já que, além de trabalho, ainda são destinadas a cuidar da casa e da família. Apesar das dificuldades, as mulheres já alcançam 16,1 milhões dos 32 milhões de empreendedores iniciais na pesquisa GEM de 2019. Ou seja, as mulheres estão iniciando empreendimentos do mesmo modo que os homens. 

Mais do que isso, as empreendedoras também aproveitam as delícias de empreender. Cleusa comenta um pouco sobre uma das decisões que considera entre as mais certas da vida: “Não me arrependi em me tornar empreendedora. Sou feliz produzindo o que eu gosto e sendo cuidadosa com meus clientes”. A artesã, costureira, empreendedora e mãe tem um sonho que quer alcançar com o trabalho: “Ser reconhecida pelas minhas peças e que elas sejam de grande utilidade para os clientes”.

Com a disciplina que tem, os detalhes e pontos são pequenos perto do tamanho que Cleusa tem como mulher.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *